A rede de TV pública francesa TV5Monde sofreu um ataque orquestrado por hackers que se diziam simpatizantes do Estado Islâmico. Todos os 11 canais da rede foram bloqueados por três horas na noite de quarta-feira [8/4], assim como seus sites e perfis em redes sociais. No lugar do conteúdo habitual, os perfis passaram a abrigar material de protesto contra a atuação militar francesa no Iraque. A França faz parte de uma coalizão internacional que luta contra insurgentes do Estado Islâmico no país.
O primeiro-ministro francês, Manuel Valls, classificou o ataque de “um insulto inaceitável à liberdade de informação e expressão”. A ministra da Cultura, Fleur Pellerin, convocou uma reunião com representantes de grupos de mídia para avaliar sua vulnerabilidade e alertá-los sobre o risco de novas ameaças digitais.
O governo deu início a uma investigação para encontrar os responsáveis pelo ciberataque. Foi prometida, ainda, a criação de 500 novos postos de trabalho para o combate a cibercrimes. Especialistas dizem que o ataque à TV5Monde representa um novo patamar de sofisticação em ciberataques para o grupo extremista.
Além dos sites e perfis em redes sociais, o sistema de email da TV5Monde também foi afetado. “Foi tudo feito de forma bastante sincronizada”, afirmou a diretora digital da rede, Helene Zemmour. “Logo após o começo do ataque, nosso sistema interno caiu, e outros programas seguiram”.
Alvos atraentes
Entre as mensagens postadas pelos hackers, uma alertava os soldados franceses a ficar longe do Estado Islâmico. “Vocês têm a chance de salvar suas famílias, aproveitem”, dizia o recado. Também foram postados documentos que seriam de parentes de soldados franceses envolvidos em operações contra o grupo terrorista.
Na página da TV5Monde no Facebook, uma declaração do grupo de hackers, que se identifica como CyberCaliphate, afirmava que o presidente François Hollande teria cometido um “grande erro” ao apoiar a coalizão liderada pelos EUA para combater, com ataques aéreos, militantes do Estado Islâmico no Iraque e na Síria. “É por isso que os parisienses receberam os ‘presentes’ de janeiro”, dizia a mensagem.
Outras páginas hackeadas traziam o slogan “Eu sou Estado Islâmico”, em uma referência à frase “Eu sou Charlie”, que se tornou popular após o brutal ataque sofrido pela redação do semanário parisiense Charlie Hebdo, em janeiro.
De acordo com Damien Leloup, que escreve sobre tecnologia no jornal Le Monde, organizações de mídia francesas são alvos atraentes para ciberataques por conta de sua relevância online. Também em janeiro, simpatizantes do governo sírio conseguiram invadir a conta do Monde no Twitter. “Se você consegue entrar no Twitter do Monde, do Le Figaro, do Libération, você tem centenas de milhares de seguidores”, lembra Leloup, ressaltando que a TV5Monde é um alvo especialmente valioso porque a rede tem um grande público nos países africanos de língua francesa. O ataque a seus canais, sites e perfis em redes sociais, portanto, seria uma maneira eficiente de se atingir uma audiência maior com uma mensagem política.
Invasão na Bélgica
Na noite de domingo [12/4], um ciberataque atingiu o site do Le Soir, maior jornal em língua francesa da Bélgica. De acordo com o diretor do jornal, Didier Hamann, o site sofre tentativas regulares de ataques, mas consegue impedi-los. Desta vez, no entanto, o firewall falhou. Para evitar que o ataque se espalhasse, o Le Soir precisou desabilitar seu site até a manhã de segunda-feira [13/4].
Outros sites do grupo de mídia Rossel, que publica o Le Soir, também foram atacados. Pelo Twitter, Hamann afirmou que a origem do ciberataque ainda não havia sido identificada e que não existia evidência de ligação entre a invasão ao site belga e o ataque à rede francesa TV5Monde.