Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Sítios alternativos furam grande mídia

Nos últimos dois anos, denúncias sobre a administração municipal de San Diego, na Califórnia, levaram a demissões de dois diretores de agências de desenvolvimento locais; um deles enfrenta acusações criminais. As notícias que revelaram os segredos dos bastidores governamentais, como conflitos de interesse, taxas indevidas e estatísticas enganosas, não saíram, curiosamente, das grandes emissoras ou jornais da cidade. Os furos foram obra de jovens repórteres de um sítio de internet sem fins lucrativos.

Criado há quatro anos, o Voice of San Diego é administrado de uma antiga base militar, e serve de exemplo de uma nova tendência na produção de notícias. Com a redução das equipes nas redes de TV e rádio e nos jornais tradicionais, sítios como o Voice atraem cada vez mais profissionais competentes. O meio é tão promissor que os fundadores destas páginas planejam formar uma associação para obter patrocínio e recursos publicitários. ‘O Voice está fazendo um trabalho significativo, estabelecendo pautas sobre desenvolvimento e colocando sob investigação políticos e empresários’, afirma Dean Nelson, diretor do programa de jornalismo da Universidade Point Loma Nazarene, em San Diego. ‘Já os trouxe para minhas aulas e disse aos alunos: ‘Este é o jornalismo do futuro’’.

Como sobreviver?

O ‘jornalismo do futuro’, de fato, é um tema que gera intenso debate na indústria jornalística. Em um longo período de adaptação e crise financeira, a pergunta básica é ‘como sobreviver?’. Um veículo exclusivamente online implica na metade dos custos de produção de um jornal impresso; ainda assim, anúncios publicitários não são suficientes para manter uma redação funcionando.

Do ponto de vista financeiro, o Voice of San Diego e iniciativas semelhantes podem ser comparados a organizações de mídia públicas, e não a jornais. Eles são, em geral, entidades sem fins lucrativos financiadas por fundações, doadores e poucos anunciantes. ‘Estas são grandes questões sobre o futuro deste modelo de negócios’, opina Robert H. Giles, curador da Fundação de Jornalismo de Harvard. ‘Organizações de mídia online devem ser exploradas e experimentadas, mas é necessário que sejam vencidas as barreiras de se manter uma equipe. Mesmo as com orçamentos mais robustos ficam atrás de um jornal local’.

Os próprios fundadores reconhecem esta dificuldade. ‘Ninguém vê com bons olhos o declínio dos jornais. Não podemos ser as principais fontes de informação na cidade, pelo menos em um futuro próximo. Temos apenas 11 pessoas trabalhando no sítio’, avalia Andrew Donohue, um dos dois editores-executivos do Voice of San Diego. Os poucos funcionários são, na maioria, jovens, e a audiência ainda é pequena, com 18 mil visitantes únicos por mês.

Maior e menor

Com sede em Minneapolis e 20 mil visitantes únicos por mês, o sítio MinnPost foi fundado por Joel Kramer, ex-editor e ex-publisher do Star Tribune, e seus principais editores vieram deste jornal ou de seu rival, o Pioneer Press. Comparado a sítios semelhantes, seu orçamento é farto – US$ 1,3 milhão por ano. Editores e repórteres em tempo integral ganham de US$ 50 mil a US$ 60 mil ao ano, salário razoável, mas que ainda não equivale à média paga pelos jornais. O sítio tem apenas cinco funcionários em tempo integral, mas conta com a colaboração de mais de 40 freelancers pagos.

No outro extremo, está o The New Haven Independent – que não tem redação e usa um café como sala de reuniões. Seu fundador e editor, Paul Bass, trabalhou a maior parte de sua carreira em diários alternativos. Com orçamento anual de US$ 200 mil, a equipe é pequena – alguns jornalistas recebem menos de US$ 30 mil ao ano. Informações de Richard Pérez-Peña [New York Times, 18/11/08].