O suicídio de um ex-professor após a publicação no DV, quarto maior jornal da Islândia, da notícia de que ele estava sendo investigado por abusar sexualmente de dois garotos gerou um intenso debate sobre ética jornalística no país. Dois editores do DV renunciaram aos cargos e uma petição online pedindo que o jornal revisse sua política editorial foi assinada por mais de 10% da população da Islândia, de 300 mil habitantes.
A intensa reação do público reflete um desconforto entre alguns islandeses com a invasão dos tablóides em uma pequena nação insular que valoriza a privacidade. ‘As pessoas na Islândia protestaram e disseram: ‘Não queremos isto. Não queremos este jornal. Não queremos esta atitude’, afirmou Arna Schram, presidente da Associação de Jornalistas da Islândia.
O ex-professor Gisli Hjartarson, que não havia sido formalmente acusado, suicidou-se no mesmo dia em que o jornal publicou a matéria de primeira página com sua foto. Seu irmão informou que ele havia deixado uma carta na qual dizia que não iria agüentar conviver com a atenção da mídia em relação a este caso. O jornal foi o único veículo de comunicação do país a divulgar a suposta acusação de Hjartarson antes de sua morte.
Mais cuidadoso
Em resposta às críticas, o DV havia inicialmente afirmado que decidiu publicar o nome e a foto do ex-professor por considerar que era de interesse das supostas vítimas. Como as críticas foram se intensificando, os editores Jonas Kristjansson e Mikael Torfason optaram por deixar o jornal para ‘restabelecer a paz’ na redação, sendo substituídos por dois novos editores. Um deles, Bjorgvin Gudmundsson, deixou claro que o DV pretende ser mais cuidadoso no futuro. ‘A norma agora é continuar publicando nomes e fotos como os ex-editores faziam, só que seremos mais cuidadosos e iremos esperar um pouco mais para saber se a pessoa foi realmente acusada em um caso criminal’, afirmou o novo editor.
A atitude de publicar nomes e fotos sem autorização é condenada por membros do governo e por cidadãos islandeses. Mas não há nenhuma indicação de que o jornal será acusado formalmente pelo tratamento concedido a Hjartarson. O evento fez com que o legislador Sigurdur Kari Kristjansson propusesse uma lei pedindo proteção legal aos membros de famílias de vítimas de calúnia ou difamação, e penas maiores para pessoas condenadas por estes crimes. Informações de Krista Mahr [Associated Press, 23/1/06].