A mais recente edição da Rolling Stone está causando revolta nos EUA: na capa, no lugar das habituais celebridades e estrelas do rock’n’roll, está Dzhokhar Tsarnaev, de 19 anos, suspeito pelo atentado à bomba na Maratona de Boston, em abril. Junto à foto, a revista traz a manchete: “O homem-bomba: como um estudante popular e promissor, sem o apoio da família, envolveu-se com o islamismo radical e se tornou um monstro”. A Rolling Stone traz um artigo, assinado pela editora Janet Reitman, sobre a vida de Tsarnaev.
Na opinião do criminologista Jack Levin, da Universidade Northeastern, a decisão de colocar Tsarnaev na capa de uma revista como a Rolling Stone o glorifica e passa uma mensagem perigosa a outros jovens: para ficar famoso, basta matar alguém. Tsarnaev é acusado de – junto com seu irmão mais velho, morto na caçada policial após o atentado – produzir e posicionar as bombas que mataram três pessoas e feriram mais de 260. A cadeia de farmácias CVS afirmou que não irá vender a publicação nas suas lojas. “Como uma empresa com raízes profundas em New England e forte presença em Boston, acreditamos que esta é a decisão correta de respeito pelas vítimas do ataque e seus entes queridos”, argumentou a rede.
Somente no Facebook, o post da revista com o link para a capa havia registrado mais de 13 mil comentários até a noite de quarta-feira (17/7). A matéria não foi publicada imediatamente online e o debate ocorria em torno da foto. O internauta Stephen Scherb escreveu na rede social dizendo ter cancelado a assinatura da revista, que tinha desde 1972 – e seu post foi “curtido” 889 vezes. Já Megan Shaw escreveu que a matéria poderia ter sido publicada sem o glamour em torno do jovem e sem colocá-lo na capa – mais de quatro mil pessoas curtiram esse post. Para J. Harper Philbin, quem deveria estar na capa era Jeff Bauman, que perdeu as pernas no atentado.
Dissonância
Já na opinião de Dan Kennedy, professor de jornalismo da Universidade Northeastern, “somente como uma capa de revista, foi brilhante”. “Funciona devido à dissonância cognitiva. Vemos o jovem quase angélico na capa e em todas as suas fotos é assim que ele está. No entanto, vemos escrito: ‘O homem bomba. Um monstro’. Então isso funciona bem como uma justaposição realmente dissonante”, avaliou.
O professor notou, ainda, que nenhuma loja recusou-se a vender o New York Times quando o jornal usou a mesma foto de Tsarnaev e que a polêmica pode ter sido impulsionada pela falta de entendimento sobre o tipo de jornalismo que a Rolling Stone faz, por considerarem que a revista só traz na capa celebridades.
A Rolling Stone defendeu a capa, alegando que faz parte de sua tradição de reportagem sobre questões culturais e políticas sérias. “Nossos corações estão com as vítimas do atentado da maratona de Boston e nossos pensamentos estão sempre com elas e seus familiares. A matéria de capa que publicamos essa semana segue a tradição de jornalismo e o compromisso de longa data com a cobertura séria e atenta das questões políticas e culturais mais importantes da atualidade. O fato de Dzhokhar Tsarnaev ser jovem, e estar no mesmo grupo de idade dos nossos leitores, faz com que seja mais importante para que examinemos as complexidades da questão e tenhamos uma maior compreensão de como uma tragédia como essa acontece”.
Na semana passada, Tsarnaev declarou-se inocente de 30 acusações, incluindo o uso de armas de destruição para matar, que poderia resultar em pena de morte. Promotores federais alegam que ele e seu irmão, Tamerlan, colocaram bombas improvisadas feitas com panelas de pressão perto da linha de chegada da Maratona de Boston, no dia 15/4. Três dias depois, um policial foi morto durante uma briga entre os irmãos e policiais. Tamerlan também morreu durante o confronto e Dzohkar foi encontrado no dia seguinte, escondido em um barco.