Desde que os senadores Marta Suplicy (PT-SP) e Aécio Neves (PSDB-MG) começaram a escrever na página 2, há mais de dois meses, muitos leitores têm reclamado.
Eles identificam um mau uso de espaço tão nobre. “Fazem propaganda escancarada. Fico até com saudades dos textos apolíticos de José Sarney, apesar de detestá-lo”, escreveu o oceanógrafo Carlos Eduardo Peres Teixeira, 33, do Ceará.
Os leitores estão certos. De 11 artigos do ex-governador tucano, pelo menos 6 pareciam discurso de Congresso, com críticas nada originais ao governo federal e promoção de iniciativas de Minas Gerais.
“É forçoso reconhecer que a luta fratricida por cargos e espaços de poder se adensou e se institucionalizou, a um custo cada vez maior para o país.” (1/8) “O governo federal do PT conseguiu subverter um dos princípios mais disseminados nos manuais contemporâneos de gestão: fazer mais com menos.” (15/8)
Mas tudo poderia ser diferente se o Brasil prestasse atenção à “tese defendida por José Serra” de reduzir impostos de empresas de saneamento (8/8) ou se adotasse, em segurança pública, “medidas e projetos de Minas Gerais, internacionalmente reconhecidos.” (19/9)
A ex-prefeita petista é um pouco mais sutil, mas não resiste à tentação de adular a Presidência, de propalar seu amor por São Paulo e de espicaçar Gilberto Kassab. Metade dos seus artigos estaria melhor editada na revista “Teoria e Debate”.
“Gosto de sentir o pulsar nervoso de São Paulo, (…) que nos faz perceber uma cidade viva e com gente que se esforça para garantir uma vida melhor para si e suas famílias.” (30/7) Para Marta, a cidade está cada vez menos “competitiva” e não precisava ser assim. Na educação, o atual prefeito deveria olhar mais para os Centros Unificados de Educação (CEUs), de onde ela se lembra do emocionante relato de uma menina de oito anos (20/8), e também precisaria “abrir convênios para novas creches”. Em habitação, seria importante “deslanchar o Minha Casa, Minha Vida” (17/9).
A performance dos dois colunistas não surpreende, estão de olho nas próximas eleições, só interrompem o discurso político de vez em quando para falar de novela, de adoção de criança ou de tecnologia.
A crítica maior cabe à Folha, que deu mais um palanque a quem não precisa. Aécio e Marta são personagens constantes no noticiário de Poder. “O jornal espera que seus colunistas ocupem o espaço dado a eles para divulgar ideias originais e revelar fatos ou ângulos desconhecidos, não para fazer proselitismo nem para defender interesses próprios. Isso é dito no momento do convite e reiterado sempre que possível”, diz a Secretaria de Redação.
A Folha, que já transformou anônimos em interlocutores importantes no debate público, deveria fugir da solução fácil de procurar os representantes dos dois principais partidos do país.
“Assim como se caçam talentos para o futebol (olheiros), o jornal deveria garimpar bons colunistas”, sugere Adilson Minossi de Oliveira, 68, representante comercial, de Porto Alegre. “Tem gente muito melhor por esse Brasil afora”, diz.
Mad Men
Ele não é político, mas faz autopropaganda como ninguém: o publicitário Nizan Guanaes, na terça-feira passada, usou a sua coluna em Mercado para anunciar a abertura de uma agência de relações públicas em Nova York.
O texto ressalta a importância de marcas brasileiras conquistarem uma presença global, mesmo dispondo de pouco dinheiro para investir -desafio que o publicitário pretende ajudar seus clientes a enfrentar com a Africa NY.
“A capacidade de promover meu trabalho e o de meus anunciantes sempre ajudou muito a mim e a eles”, escreveu na Folha. Nem precisava dizer, Nizan.