Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Tablóides conquistam novo público

A indústria de tablóides da África do Sul passa por uma alta de vendas. A rigidez das leis do apartheid proibia a publicação de temas e imagens considerados obscenos. Na época, a minoria branca com melhores condições financeiras do país mais rico do continente africano costumava ser o público-alvo da imprensa. Com o fim do regime, há 11 anos, a indústria de mídia local se conscientizou de que é possível lucrar com jornais mais baratos e voltados para a população negra, que antes não era vista como uma parcela consumidora.

As empresas jornalísticas priorizam matérias sensacionalistas, mas também são porta-vozes das reclamações da comunidade em relação às péssimas condições de moradia, abastecimento de água e eletricidade.

O jornal Daily Sun foi lançado há três anos e agora é o mais vendido do país, com média de 400 mil cópias diárias e matérias que tratam de sexo, sensacionalismo e ‘sangomas’ – palavra local para os tradicionais curandeiros. Depois dele, foram lançados dois outros diários – o Afrikaans Son e o English Daily Voice – e dois jornais dominicais.

O editor-executivo do Daily Voice, Karl Brophy, afirma que agora a maioria negra está livre para votar e tem acesso à mídia. A maior parte dos lucros dos veículos sul africanos provém da tiragem dos jornais, e não de anúncios publicitários – tendência que muda lentamente à medida que as empresas passam a enxergar a classe negra trabalhadora como consumidora.

O sucesso do Daily Sun inspirou outras empresas jornalísticas a lançarem e adaptarem seus próprios títulos. A segunda maior companhia de mídia da África do Sul, Johnnic Communications, foi forçada a dirigir o jornal Sowetan para o público negro, devido à concorrência de outros diários. A febre dos tablóides também começa a tomar conta de outros países africanos, como Uganda e Zimbábue.

Tubarão e gorila, mas nada de nudez

Em uma das recentes edições do Daily Voice, foi publicada uma matéria sobre um tubarão ‘racista’, que só devorava vítimas negras. O Daily Sun entrevistou uma mulher que afirmava ter sido estuprada por um gorila.

Apesar de histórias sobre sexo serem comuns, a nudez ainda é um tema delicado na África conservadora. O Daily Voice se arriscou a lançar a ‘garota da página três’ – em referência ao tablóide britânico The Sun, que coloca mulheres de topless na página três –, mas algumas lojas se recusaram a expor o jornal, principalmente em áreas muçulmanas. Informações de Rebecca Harrison, da Reuters [26/7/05].