Quando a companhia estatal Gazprom assumiu o controle sobre a NTV, única emissora independente da Rússia, analistas de mídia suspeitaram que a manobra fazia parte de um esforço do governo para centralizar – sob seus interesses – os veículos de comunicação do país. Na última semana, as suspeitas foram confirmadas com o cancelamento do talk show político Svoboda Slova (Discurso Livre, em português).
Na segunda-feira, 5/7, o diretor geral da emissora foi demitido. Em seu lugar, entrou Vladimir Kulistikov, ex-chefe de jornalismo do canal estatal Rossiya, conhecido por adular o presidente Vladimir Putin em sua cobertura. Kulistikov chefiou o departamento de notícias da NTV na década de 1990, quando a emissora foi fundada como a primeira rede de TV independente da Rússia. ‘Mas ele deixou o canal para ir trabalhar em agências do governo depois que Putin chegou ao poder e parece ter mudado sua filosofia enquanto ficou no canal Rossiya’, afirma Susan B. Glasser [The Washington Post, 8/7/04].
Na terça-feira, 6/7, o novo diretor geral encontrou-se com o apresentador de Discurso Livre, Savik Shuster, e comunicou a ele que o programa seria cancelado. Kulistikov ofereceu a Shuster o cargo de diretor de documentários da emissora e ele estaria considerando a proposta.
O programa apresentava debates ao vivo sobre temas políticos. Por diversas vezes, Shuster entrou em divergências com a administração da NTV e, no ano passado, recebeu ordens para que o programa passasse a ser gravado.
Para os analistas, o fim de Discurso Livre comprova o objetivo do governo de silenciar qualquer voz que ouse fazer críticas a ele. ‘O processo de liquidação dos canais de TV não-governamentais chegou ao fim. O cancelamento de Discurso Livre representa o fim deste processo’, disse Igor Yakovenko, chefe da União dos Jornalistas.