Monday, 04 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

Tecnologia faz furo virar furada

Uma confusão que seria impensável há alguns anos aconteceu no dia 4/11/04 entre um repórter do Washington Times e o presidente americano George W. Bush, conta Howard Kurtz [The Washington Post, 5/11/04]. Bill Sammon estava em coletiva com o presidente quando leu no BlackBerry (celular com computador de bolso) de um colega uma nota da AP informando que Iasser Arafat teria morrido. Segundos mais tarde, era a vez de sua pergunta ao presidente, e o jornalista não pensou duas vezes: ‘Sei que o senhor não teve tempo de se informar sobre isso, mas parece que Iasser Arafat se foi’. ‘Minha primeira reação é que Deus abençoe sua alma. E minha segunda reação é que continuaremos trabalhando por um estado palestino livre que esteja em paz com Israel’, respondeu Bush.

Minutos depois, a agência lançou nova nota desmentindo a primeira. Como destaca Kurtz, algum tempo atrás os repórteres presentes nem ficariam sabendo do rumor envolvendo Arafat. Hoje dispõem do Blackberry e de outros dispositivos sem fio que lhes possibilitam receber, em qualquer lugar, informações – ou boatos – em tempo real. No caso de Sammon, todos os telespectadores que assistiam, ao vivo, a retransmissão da entrevista pelos canais CBS, NBC, ABC, CNN, Fox, MSNBC e CNBC também caíram na história.

O jornalista se justifica dizendo que não imaginaria que a AP daria uma notícia para desmenti-la em seguida. Mas admite que deveria ter sido mais preciso ao identificar a fonte da informação de que o líder palestino teria morrido. No caso, a fonte da AP fora o primeiro-ministro de Luxemburgo – ou seja, a suposta notícia sequer era de primeira mão.

Porta-voz da agência de notícias americana rebate críticas de que ela poderia ter sido mais cautelosa com o argumento de que deixou bem claro qual era a fonte do boato e que, mesmo dentro da primeira nota, já eram citadas versões conflitantes em que a morte era negada. Algumas redes de TV mostraram, logo após a transmissão de Bush, a declaração de um porta-voz do hospital francês em que Arafat se encontra, reafirmando que ele não havia morrido.