Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Texto de Conferência da Cultura traz ataques à mídia


Leia abaixo a seleção de segunda-feira para a seção Entre Aspas.


 


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Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 18 de janeiro de 2010


 


CRÍTICA


Texto de 2ª Conferência Nacional da Cultura traz ataques à mídia


‘O governo federal realizará ainda neste semestre a 2ª Conferência Nacional da Cultura, cujo texto preparatório, disponível no site do Ministério da Cultura, antecipa a possibilidade de novos ataques oficiais à imprensa brasileira, como os ocorridos na recém-realizada Confecom (Conferência Nacional de Comunicação).


O texto-base do evento, que está previsto para março, afirma, por exemplo, que ‘o monopólio dos meios de comunicação (mídias) representa uma ameaça à democracia e aos direitos humanos’.


Também diz que, apesar de ser ‘legítimo’ que a mídia comercial se organize com base nas ‘demandas de mercado’, elas não podem ser as únicas a prevalecer. O texto defende, então, que emissoras públicas desempenhem o papel de viabilizar ‘ideias e expressões culturais minoritárias’.


‘As TVs e rádios comerciais vendem sua audiência (o público) para os anunciantes’, afirma o documento, que propõe um ‘controle social’ na gestão das TVs e rádios públicas.


A ideia seria criar ‘canais permanentes dedicados à expressão das demandas dos diversos grupos sociais, na adoção de um modelo aberto à participação de produtores independentes’, diz o documento.


O texto-base não se resume a debater o papel da mídia. Também trata de desenvolvimento científico, além de questões indígenas e ambientais.’


 


 


PROPAGANDA


Marta Salomon


Governo aumenta gasto com publicidade em 20% em 2010


‘Contrariando limites impostos pela legislação eleitoral, o governo Lula prevê o aumento de 20% dos gastos de publicidade no ano da eleição do seu sucessor. Os números estão na lei orçamentária, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionará nesta semana, com autorizações de gastos para 2010.


A Lei Eleitoral determina que, em ano de pleito, as despesas com publicidade dos órgãos públicos não podem ultrapassar a média dos três anos anteriores ou o valor gasto no ano imediatamente anterior. O limite do governo federal leva em conta ainda os gastos das empresas estatais, cujos números ainda não estão disponíveis.


A Secretaria de Comunicação da Presidência informou que o governo não usará integralmente as autorizações de gastos para 2010, de forma a respeitar os limites impostos pela legislação eleitoral.


No caso dos números de gastos com publicidade institucional e de utilidade pública na administração direta, a lei orçamentária aprovada pelo Congresso reitera a proposta original do governo. Estão autorizados gastos de R$ 699,1 milhões, 20% a mais do que o valor desembolsado no ano passado, de acordo com dados da Secom.


O que a Secom diz que fará em 2010 é bem diferente do que ocorreu em 2009. No ano passado, o governo ultrapassou a autorização inicial de gastos aprovada pelo Congresso. Na publicidade institucional, que cuida da imagem do governo, foram gastos R$ 158,1 milhões. A autorização inicial era 14% inferior, de R$ 139 milhões.


O aumento é atribuído pela Secom, em parte, a investimentos feitos em ações no exterior e à realização de pesquisas de opinião, nas quais teriam sido gastos R$ 5 milhões.


O governo acena em respeitar, na administração direta, o limite dos gastos registrados no ano passado, de R$ 583,2 milhões. Esse valor é superior à média dos últimos três anos, de R$ 410,3 milhões, a outra alternativa de limite imposta pela legislação eleitoral.


A lei que estabelece regras para o pleito também proíbe a publicidade institucional do governo a partir de julho. No período de três meses antes das eleições, a publicidade oficial só está autorizada para produtos e serviços que disputam mercado ou em caso de ‘grave e urgente’ necessidade pública, previamente reconhecida pela Justiça Eleitoral.


Em discurso há pouco mais de um mês, Lula disse que o ano eleitoral não o levaria a gastar mais. ‘Não é porque tem eleição que vamos gastar mais no ano que vem’, afirmou, diante do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.


Mas, ao sancionar a Lei de Diretrizes Orçamentárias, vetou limites aos gastos com publicidade. Esse veto não altera, porém, o que diz a lei eleitoral.


Nas campanhas de caráter institucional levadas ao ar recentemente, o governo apresentou impactos de programas sociais, como o Bolsa Família, e de ações que contribuíram para a redução das desigualdades sociais -que devem ser um dos pilares da campanha da candidata de Lula, Dilma Rousseff.


A agência Matisse foi a que recebeu o maior volume de pagamentos, de acordo com o Portal da Transparência.’


 


 


TELEVISÃO


Laura Mattos e Clarice Cardoso


Globo terá blu-ray e quer vender download


‘A TV Globo irá lançar três minisséries em blu-ray, tecnologia que traz o conteúdo em alta definição e deverá substituir o DVD, cujas vendas estão em queda em razão da pirataria.


Os títulos escolhidos para o início do novo negócio são ‘Maysa’, ‘Capitu’ e ‘Som & Fúria’.Os próximos lançamentos, segundo José Luiz Bartolo, diretor de licenciamento da Globo, serão o Carvanal 2010, com desfiles das escolas de samba do Rio, e a minissérie ‘Dalva & Herivelto’.


De acordo com o diretor, a escolha dos programas se deve ao fato de eles terem sido produzidos em alta definição.


A Globo já lançou 196 títulos em DVD, e entre os mais vendidos estão ‘Os Normais’, ‘Os Trapalhões’ e ‘Maysa’.


Bartolo nega que a Globo tenha sofrido uma queda na venda de DVDs, mas admite que ‘a pirataria é uma preocupação’.


Segundo ele, a emissora tem um projeto em estudo para que o público possa comprar títulos da emissora por meio de download -o que hoje já é feito pelos internautas ilegalmente.


Enquanto isso, a Record continua a investir em DVDs. Neste ano, serão 30 lançamentos. Em fevereiro, saem os volumes 4 e 5 de ‘Saúde na Mesa’, que é um quadro do ‘Domingo Espetacular’, e ‘Os Óculos de Pedro Antão’, telefilme baseado na obra de Machado de Assis feito pela produtora independente Contém Conteúdo e exibido pela Record no final de 2008.


Deve lançar ainda DVD com curso de desenho.


CASAL 20


Na RedeTV!, Marcelo deCarvalho deve gravar na semana do dia 25 o piloto(teste) do game-show ‘MegaSenha’.Mas ainda não está certo se o vice-presidente da emissora ficará ou não no comando da atração: vai depender do que ele achar do próprio desempenho. Há a chance de dividir o microfone com a mulher, Luciana Gimenez.


ZIRIGUIDUM


Miguel Falabella, Geraldo Carneiro e Haroldo Costa estão cotados para ser alguns dos comentaristas do Carnaval do Rio de Janeiro na TVGlobo. Os narradores serão Luís Roberto e Glenda Kozlowski, no Rio, e Cleber Machado e Mariana Godoy, em São Paulo. Chico Pinheiro neste ano será uma espécie de anfitrião, das duas capitais, e fará entrevistas com convidados e comentaristas.


NOVELA DO LULA


Continua na Globo a propaganda de ‘Lula, o Filho do Brasil’. O filme, que está decepcionando nas bilheterias e deve ser visto hoje por participantes do ‘BBB’, teve merchandising na novela das 21h na quinta.


COMEÇO ADIADO


A estreia de Jorge Kajuru no canal Esporte Interativo, marcada para hoje, será dia 25. Foi adiada para que ele finalize tratamento contra diabetes.


FESTIVAL


A banda indie de Brasília Móveis Coloniais de Acaju gravará domingo o primeiro ‘Faixa Musical’, do Canal Brasil, no Auditório Ibirapuera. Ney Matogrosso, Rodrigo Maranhão e João Bosco serão os próximos.’


 


 


Rodrigo Russo


Sem Michael, irmãos Jackson discutem e buscam retorno na TV


‘Se em ‘Michael Jackson’s This Is It’, documentário lançado após a morte do cantor, o que se vê é um astro que ainda tem talento e foco para comandar um grandioso projeto de retorno aos palcos, o panorama é diferente na série ‘Os Jack5on’, que estreou no canal pago A&E na última semana.


Aqui, os quatro irmãos remanescentes do grupo The Jackson 5 (Jackie, Jermaine, Marlon e Tito) evidenciam ao público, por meio de um reality show, a dificuldade para voltar aos estúdios após o anúncio do retorno do grupo, que pretendia lançar um álbum em comemoração aos seus 40 anos de atividade, e a reação da família à morte de Michael.


‘Ainda podemos gravar juntos? Essa é a questão’, resume bem um dos Jackson. Outra questão, comum em famílias menos populares, é a dificuldade de convívio entre os irmãos. Eles demonstram o interesse em um trabalho harmonioso durante as gravações, mas logo se percebe que volta à tona uma antiga rixa entre Jackie e Jermaine pela primazia das composições e ideias.


Embora fique claro o interesse mercadológico dos envolvidos na série, ao menos a edição não esconde as polêmicas e discussões surgidas em frente às câmeras, o que não a poupou dos críticos americanos.


O álbum comemorativo, objetivo declarado para a reunião, foi adiado para este ano. Talvez Jermaine tenha captado bem o espírito ao falar aos irmãos sobre a riqueza: ‘Isso aqui é ilusório. O real foi Indiana [Estado dos EUA onde os Jackson foram criados]’. Como na carreira da banda.’


 


 


COBERTURA


Álvaro Pereira Júnior


Terremoto de notícias


‘Se você é estudante de jornalismo a fim de aprender alguma coisa, um toque: esqueça o que ‘ensinam’ na faculdade e preste atenção na cobertura da CNN sobre o terremoto no Haiti.


Menos de 24 horas depois de Porto Príncipe ser sacudida, a rede americana já estava com pelo menos quatro repórteres ali, todos vindos dos EUA. Isso sem falar nas dezenas de técnicos, de produtores e de editores de imagem que certamente também foram deslocados.


Sabe-se lá como, na noite seguinte ao desastre, já estavam entrando ao vivo em áudio e vídeo, editando reportagens, enfim, dando um show de telejornalismo.


Um cético pode dizer: grande coisa, os EUA ficam muito perto do Haiti e, com o dinheiro da CNN, qualquer um faria uma megacobertura. Nada disso. A principal concorrente da CNN, a FoxNews, também tem dólares às toneladas, e deu vexame.


Enquanto o fenomenal Anderson Cooper, da CNN, apresentava seu programa, ‘360º’, ao vivo de Porto Príncipe, sabe o que a FoxNews, jeca e provinciana, transmitia? Um debate sobre os problemas de audiência do programa de entrevistas de Jay Leno (que foi mudado de horário e fracassou).


Estou na Costa Rica, e o hotel não tem a terceira rede de TV de notícias dos EUA, a MSNBC. Acho difícil que tenha chegado aos pés da CNN.


O próprio Anderson Cooper disse no ar: ‘Isso é o que a gente sabe fazer melhor’. Ele se referia, é claro, à cobertura de grandes eventos, que exigem agilidade, reação rápida e domínio total da infraestrutura de TV.


Pode ser que, no dia a dia nos EUA, a FoxNews esteja dando uma canseira em audiência na CNN. Mas, na hora em que o bicho pega, na hora em que a história tem H maiúsculo, o mundo sintoniza a CNN.


Não há como não admirar esses caras.’


 


 


TECNOLOGIA


David Carr, NYT


‘Tablet’ poderá salvar o conteúdo impresso


‘No ano passado, conversei com um executivo da Apple sobre e-readers (equipamentos eletrônicos para leitura) e material impresso, principalmente no contexto do pecado original da mídia de oferecer conteúdo grátis on-line.


Eu disse que um ‘tablet’ funcional, com conteúdo que pudesse ser cobrado e vendido como um aplicativo, solucionaria em parte os problemas da imprensa. ‘O que o mundo espera’, comentei, ‘é um equipamento leve, iluminado por trás, com tela em quatro cores grande o suficiente para se ler confortavelmente, com navegação de toque e conexão sem fio’.


‘Você está falando de um computador, e não de um e-reader’, disse o executivo, sobriamente. ‘E custaria mais caro, provavelmente mais perto de US$ 1.000 do que de US$ 200.’


‘Está bem’, respondi. ‘Onde posso comprar um?’ No final deste mês, todos poderemos ter uma visão desse futuro. Segundo o jornal ‘Financial Times’, a Apple deverá fazer o anúncio de um importante produto na próxima terça, quando, muitos especulam, será revelada uma versão de seu ‘tablet’.


O site Gizmodo palpitou que o equipamento provavelmente se chamará iSlate, custará cerca de US$ 800 e só chegará às lojas em março ou abril. (Rumores de um ‘tablet’ colorido da Microsoft chamado Courier também apareceram no site, e uma empresa chamada HTC estaria fabricando um que usa o sistema operacional Google Chrome. E há outros.)


Kai-Fu Lee, ex-diretor do Google na China, sugeriu em seu blog que o ‘tablet’ da Apple teria uma tela multitoque de 26 cm com gráficos tridimensionais. E muitas editoras têm produzido conteúdo na crença de que o ‘tablet’ é apenas questão de tempo. Então, o ‘tablet’ da Apple é uma quimera de nossa imaginação ou é a segunda encarnação do iPhone, capaz de tudo, inclusive salvar da catástrofe alguns provedores de material impresso? Eu sou otimista, por isso escolho a alternativa 2.


Para que o produto tenha valor significativo, precisa resolver um problema, ou ser muito útil, ou ambos. Muitos acreditam que os computadores fazem um bom serviço ao permitir que as pessoas leiam conteúdos digitalizados, mas o ato de clicar um mouse tem pouco em comum com virar uma página: os usuários ‘rolam’ o texto verticalmente, quando na verdade o querem virar na horizontal, como fazem há séculos. Um dos motivos pelos quais o Kindle se saiu bem, apesar de suas limitações, é que os computadores são feitos para trabalhar os dados, e não para ler.


O ‘tablet’ representa uma oportunidade de renovar o romance entre o material impresso e o consumidor. Pense em sentar-se em sua sala, sua cama ou em um avião com uma publicação que você realmente adora aninhada em seu colo. Desde que a imprensa foi concebida, as pessoas tiveram um relacionamento íntimo com o texto, tocando e virando as páginas.


Há problemas práticos a serem solucionados, incluindo tornar o equipamento leve o suficiente para segurarmos, com uma bateria para alimentar uma tela que consome muita energia. E o custo é um problema. Embora um ‘tablet’ eficiente passe vídeos e faça mágicas que um e-reader não pode, valerá a pena pagar o triplo por ele? Para mim, sim, e talvez para um grande nicho de leitores.


Mas que vantagem o ‘tablet’ oferece aos provedores de conteúdo impresso? Bem, ele ajuda revistas e jornais a medir o envolvimento do consumidor com os anúncios. Ainda assim, por que as pessoas seriam levadas a pagar por algo que recebem de graça?


É aí que entra a Apple. Uma interface simples e confiável que dê acesso a conteúdo pago pode fazer coisas incríveis: cinco anos atrás, quase ninguém pagava por música on-line, e hoje sabemos que as pessoas concordam em pagar se o preço for justo e houver conveniência.’


 


 


 


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O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 18 de janeiro de 2010


 


CRÍTICA


Felipe Recondo


OAB e ANJ veem ataque à mídia pelo governo


‘O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Cezar Britto, criticou ontem o conteúdo do texto-base da 2ª Conferência Nacional de Cultura, que contém críticas à mídia, como revelou ontem o Estado. Britto disse que o governo confunde a concentração de grandes empresas jornalísticas nas mãos de grupos econômicos com monopólio. Na opinião dele, o Planalto não pode interferir na liberdade dos meios de comunicação de informar a sociedade.


‘A liberdade de opinião jornalística, ainda que se possa discordar dessa opinião, é um direito fundamental. O Estado deve fomentar essa liberdade e não restringi-la’, afirmou.


O diretor executivo da Associação Nacional de Jornais (ANJ), Ricardo Pedreira, também criticou as diretrizes do texto. ‘A ANJ lamenta e condena qualquer iniciativa que vise a impedir a plena liberdade de expressão’, disse. ‘Nesse caso, assim como em outros relatados recentemente, trata-se de proposta antidemocrática e anticonstitucional, uma vez que a plena liberdade de expressão é um dos preceitos básicos da nossa Constituição. É condenável essa tentativa de dirigismo, de interferência no conteúdo dos meios de comunicação.’


As propostas de intervenção nos meios de comunicação se tornaram mais frequentes desde o final de 2009. Primeiro foi na Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), que propôs auditorias, feitas pelo poder público, nas empresas.


Depois surgiu o Programa Nacional de Direitos Humanos, que propôs a cassação de concessões para as empresas que, a critério do governo, violassem direitos humanos. A nova investida, programada para a 2ª Conferência Nacional de Cultura, em março, parece não surpreender mais os críticos.


O texto-base da conferência adianta o tom de como o assunto será tratado. ‘O monopólio dos meios de comunicação (mídias) representa uma ameaça à democracia e aos direitos humanos, principalmente no Brasil, onde a televisão e o rádio são os equipamentos de produção e distribuição de bens simbólicos mais disseminados, e por isso cumprem função relevante na vida cultural’, informa o texto que orientará as discussões da conferência.


Falta de Informação


O deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), da Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática, disse ontem que concorda com a ideia de que o monopólio dos meios de comunicação pode comprometer o exercício dos direitos humanos. Mas esse não é o caso do Brasil, segundo o parlamentar: ‘Monopólio é a existência de um só veículo de comunicação. Não é o nosso caso.’


Teixeira sugeriu duas hipóteses para explicar por que o governo sugere haver monopólio da mídia no Brasil. ‘A primeira é da falta da informação, da boa-fé’, opinou. ‘A segunda seria uma estratégia, conhecida, que é colocar no corner quem pode fiscalizar o governo.’


O principal responsável no Brasil por violações de direitos humanos não são os meios de comunicação, mas o próprio Estado, segundo deputado. ‘Quando não dá salário digno para os aposentados ou quando deixa doentes nos corredores dos hospitais, é o Estado brasileiro que viola os direitos humanos.’


Colaborou Roldão Arruda’


 


 


HAITI


Phillip Kennicott, The Washington Post


Imagens realistas rompem com a tradição


‘As imagens que chegam do Haiti são mais fortes que as de desastres naturais recentes e das guerras em curso. Não está claro se isso reflete a magnitude e proximidade do desastre ou alguma mudança na disposição dos meios de comunicação de apresentar, com exatidão, o horror da devastação no país.


Ou será o Haiti uma exceção? Haverá algo na condição essencial do país e de seu povo que autorize a nova licença da mídia? As convenções usuais de mais sugerir que exibir traumas parece ter se esvaziado. Corpos cobertos de poeira e argamassa, mortos empilhados nas ruas sem lençóis para ocultá-los ? essas são violações do código não escrito de que a morte só pode ser vista, na etiqueta estabelecida da mídia dominante, por analogia ou metáfora.


Na sexta-feira, o Washington Post exibiu a foto de uma garota com o torso esmagado sob o peso do concreto. O New York Times exibiu a de um homem morto numa maca improvisada, coberto pela poeira branca que faz os corpos ? vivos ou mortos ? parecerem esculturas.


Imagens de guerra, especialmente as travadas pelos EUA na última década, são politizadas. A representação realista da morte é explosiva, e é costumeiro controlá-la, temendo inflamar paixões a favor ou contra o conflito. Nos últimos anos ? e em contraste com milênios de história, quando ferimentos e sangue eram exibidos orgulhosamente pelos guerreiros ? a privacidade do soldado foi considerada fundamental. Nos EUA, imagens de sofrimento em guerras são referenciais, mas raras vezes são vívidas.


O medo de violar a privacidade da vítima não existe no Haiti. Após anos sugerindo horror, os parâmetros caíram: a câmera é uma janela para a miséria, e jornalistas têm a permissão de mostrar o pior e dizer com a urgência bruta: vejam.


O efeito entorpecedor da última década, que também incluiu imagens devastadoras de New Orleans e Sichuan, pode ter baixado o limiar do que é aceitável mostrar.


A disponibilidade online de fotos e vídeos mais realistas pode ter mudado a equação. Também parece haver uma qualidade auto dilacerante, como se a mídia estivesse indiciando tanto a si mesma quanto a indiferença do Ocidente pela nação mais pobre do Hemisfério.


A disposição de ver o desastre por completo reflete a condição do Haiti. Ele foi deixado de lado. Houve, é claro, anos de engajamento e desengajamento ? quando os EUA e países do Hemisfério interferiram (em geral, desastrosamente) na política ?, resoluções da ONU, forças de paz e esforços.


Mas com furacões, um sistema político fracassado, corrupção, golpes e tumultos, o Haiti se tornou a definição de Estado falido. Curto e grosso: veio o parecer que o povo do Haiti não tinha nenhum status. Se acreditarem nisso, então, é impossível violar sua privacidade.


A câmera está gravando algo que afetará tudo o que está ligado ao futuro desse conturbado país. Ela está perguntando se aquelas são pessoas como nós. Está perguntando se nós acreditamos que elas são humanas.’


 


 


TELEVISÃO


Keila Jimenez


Passaporte digital


‘Se, por aqui, a Globo ainda não conseguiu ter a audiência da alta definição compatível com o tamanho do seu investimento na tecnologia, lá fora a rede prepara a estreia de sua primeira novela em HD, e para uma grande plateia.


O canal Tele-Novela HD, da Coreia do Sul, é o primeiro do mundo a transmitir a programação da Globo em alta definição.


A minissérie Maysa, as séries Tudo Novo de Novo, Som e Fúria e Força Tarefa; as novelas A Favorita, Duas Caras, Caminho das Índias e os desfiles das escolas de samba serão transmitidos para cerca de 500 mil assinantes do canal HD sul-coreano. O número impressiona uma vez que no Brasil -país infinitamente maior -, no ano passado, foram contabilizados apenas 1,2 milhão de televisores com receptores de TV digital.


O canal Tele-Novela tem atualmente 2,5 milhões de assinantes, sendo que, desses, 2 milhões são consumidores da programação normal, sem ser em HD.


Nos EUA, quem abrirá as transmissões da rede em HD é Caminho das Índias. O folhetim ainda não tem data de estreia no Telefutura, canal americano que exibe produções latinas.


Últimos românticos


Para o último dos 13 programas desta temporada do Ao Ponto Remix, Jairo Bauer recebe a cantora Wanessa. O bate-papo, que só vai ao ar no dia 7 de março, fala de romantismo nos dias de hoje e sobre a maneira como o jovem demonstra seus sentimentos. A atração é exibida aos domingos, às 15h30, na Cultura.’


 


 


Entrelinhas


‘Glória Pires, Letícia Spiller, Dalton Vigh e Lília Cabral são alguns dos nomes ‘reservados’ por Aguinaldo Silva para sua próxima novela na Globo, Marido de Aluguel, em 2011.


Glória deve ser a protagonista da trama de Aguinaldo, par de Dalton Vigh. Já Lília, uma vilã para integrar a respeitada galeria do criador de Nazaré Tedesco (Renata Sorrah).


O bom e velho Chaves, do SBT, voltou a ser estrela do Big Brother Brasil, da Globo. Assim como em edições passadas, os BBBs dedicaram tempo – nada precioso – para falar do enlatado preferido de Silvio Santos.


A grande disputa entre o elenco da transmissão do carnaval da Band este ano foi por uma vaga no time de Salvador. Tem gente – que foi ano passado e neste não vai – que ficou de bico.


Já Adriane Galisteu, que vai desfilar, ficou, sem problemas, com a cobertura da folia no Rio pela Band.


Justo Veríssimo será o próximo personagem de Chico Anysio a entrar no Zorra Total. Ele substituirá Alberto Roberto. A Globo também estuda dar ao humorista um programa fixo na grade deste ano.


Os jornalísticos do SBT vão ganhar novos cenários em março, data em que deve estrear também no canal o programa de Roberto Cabrini. O jornalista está atualmente gravando matérias na Somália.’


 


 


 


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