O jornal britânico The Sun anunciou o lançamento do “Sun SecureDrop”, um sistema para que fontes possam fornecer informações anonimamente e de forma segura. De acordo com o tabloide, sua criação é uma resposta à Ripa (Lei de Regulação dos Poderes de Investigação), que permite que a polícia britânica acesse registros telefônicos e eletrônicos de jornalistas sem que haja a obrigação de avisá-los a respeito. Como a Ripa é baseada em critérios amplos e vagos para ser aplicada (como “a proteção da segurança nacional”), a polícia vem se aproveitando dela para beneficiar investigações internas.
Para ser acessado pelo usuário comum, o “Sun SecureDrop” requer a instalação do Tor, um browser de navegação anônima. Segundo editores do jornal, toda mensagem enviada através dele será criptografada automaticamente, evitando assim qualquer tipo de identificação. Além disso, os repórteres só vão ler as mensagens em um laptop desconectado da internet, uma medida de segurança para evitar uma vigilância mais avançada ou o ataque de crackers. “Estamos oferecendo aos denunciantes – os heróis desconhecidos de uma sociedade livre – uma confiança renovada de que seu anonimato será protegido”, dizia o texto do editor investigativo Brian Flynn.
O Sun foi um dos títulos mais afetados pelas operações que investigaram os jornais do grupo News Corporation, pertencente ao magnata Rupert Murdoch, acusados de passar anos grampeando pessoas ilegalmente, inclusive celebridades e políticos, a fim de conseguir informações para reportagens sensacionalistas. Onze jornalistas do Sun foram indiciados. Por fim, o Ministério Público do Reino Unido extinguiu parte dos processos sob a alegação de que estava havendo perseguição aos jornalistas.
Curiosamente, muito embora o Sun tenha sido um combatente feroz da Ripa, o jornal tem criticado repetidamente o ex-funcionário da NSA Edward Snowden e o jornal The Guardian pela publicação de revelações sobre vigilância em massa.
Pedidos por uma nova legislação
Em entrevista ao The Irish Times, Elizabeth Knight, advogada especialista em direitos humanos pelo Open Rights Group (grupo que defende a privacidade digital), declarou-se contrária às atuais leis britânicas de monitoramento de dados e disse que a Ripa está ultrapassada – o que, por sua vez, explica por que o governo tem livre permissão para realizar esse tipo de vigilância indiscriminada. Ela crê que qualquer monitoramento deveria ser direcionado a alvos específicos e legítimos, e não centrar-se em uma reunião de dados gerados por toda e qualquer pessoa.
Elizabeth diz que é esperado que haja alguma forma de regulamentação e proteção de dados em algum momento, mas que esta pode vir a ser insatisfatória, pois pode acabar englobando apenas os dados, e não os metadados (“dados que descrevem os dados”), que, embora não contenham o conteúdo das mensagens, podem conter informações potencialmente reveladoras sobre uma comunicação, como a data, o horário, a duração e o receptor de um telefonema ou e-mail. Esse tipo de informação pode revelar detalhes sensíveis, como, por exemplo, atestar que determinada pessoa ligou para o Alcoólicos Anônimos.
No momento, o Partido Liberal Democrata britânico está prometendo uma série de medidas para proteger jornalistas, dentre as quais a proteção de profissionais que violam a lei em prol do interesse público, como no caso da exposição de crime ou de corrupção. Além disso, também há o interesse na criação de uma versão da Primeira Emenda da Constituição americana, que exigiria que autoridades e tribunais levassem em conta a importância da liberdade de expressão e de uma imprensa livre. Um manifesto lançado pelo partido diz que jornalistas devem ter a chance de desafiar judicialmente os poderes da Ripa de acessar seus dados sem autorização, desde que isto não comprometa nenhuma investigação.
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