O diário britânico The Independent publicou um extenso texto da viúva do jornalista americano Daniel Pearl, Mariane, em que ela reclama de não receber apoio do Wall Street Journal, diário em que trabalhava seu marido quando foi morto por extremistas islâmicos no Paquistão, em 2002. Ela conta que um membro do exército paquistanês, que apelidou de Capitão, jurou que não descansaria enquanto o assassinato não fosse esclarecido. Até hoje ele colabora para que se faça justiça. ‘Eu gostaria que os outros que prometeram a mesma coisa naquela época – incluindo os empregadores de Danny [apelido de Daniel] no Wall Street Journal – tivessem mantido suas palavras também’, escreve.
Mariane conta que o Journal foi ‘aconselhado a não enviar um americano branco para um tribunal paquistanês’ para acompanhar o julgamento de Omar Said Sheikh, mentor confesso do assassinato de Pearl. Por isso, não mandou ninguém. O jornal teria apenas contribuído com uma pequena parte dos honorários de um caríssimo advogado local, que conseguiu que Sheikh fosse condenado à morte. Outros três parceiros do terrorista receberam penas de prisão perpétua, mas todas as condenações são passíveis de recurso.
Segundo a viúva, o Journal só demonstrou muito interesse pelo crime até a revelação de que Pearl estava morto, um mês após seu seqüestro. Depois, abriu um fundo para Mariane, para o qual centenas de pessoas contribuíram com milhares de dólares. Em maio de 2002, quando Sheikh estava sendo julgado, Mariane insistiu em ter ajuda e um advogado da Dow Jones (proprietária do jornal) deixou clara a posição da companhia: ‘Este caso é seu, não nosso’.
‘O assassinato de Danny é como um avião seqüestrado enviado para explodir no coração da sua empresa. Simplesmente não entendo como vocês podem dar as costas e desistir de buscar a verdade’, lamentou Mariane, alguns meses depois, em carta ao Journal. Há um ano, ela e o Capitão foram recebidos mais uma vez pela direção do jornal para cobrar alguma ação. Desde então, nada foi feito. Os processos continuam no Paquistão, e, para acompanhar o que está acontecendo, a viúva tem de recorrer ao noticiário de internet.
MUNDO ÁRABE
Emissora americana al-Hurra é inaugurada
O governo americano finalmente inaugurou, no dia 14/2, a prometida emissora de TV via satélite para público árabe. A primeira transmissão do canal al-Hurra (‘A liberdade’ em português), às 11h da manhã, exibiu janelas sendo abertas, simbolizando a liberdade.
O primeiro programa foi uma entrevista com o presidente Bush no qual elogia a determinação iraquiana para conquistar a democracia. ‘Ainda não faz um ano que estivemos no Iraque e já houve enorme progresso’, disse o presidente. ‘Uma das coisas que acho importante é que as pessoas começaram a falar sobre conquistar a democracia’.
Bush diz ainda que os EUA continuarão pressionando pela construção de um Estado palestino e pela democracia na Arábia Saudita, Jordânia e outros países árabes. De acordo com reportagem do New York Times [19/2/04], Bush se descreveu como ‘o primeiro presidente a ter articulado um Estado palestino’, mas disse ter tido seus planos boicotados por terroristas.
Difícil começo
A primeira notícia foi um boletim que informava de um ataque de guerrilha a uma estação policial iraquiana no oeste de Bagdá, em que 23 pessoas foram mortas. Com al-Hurra, segundo Zeina Karam [AP, 14/2], as autoridades americanas esperam conter o que Bush chamou de ‘propaganda odiosa que entope as ondas de transmissão no mundo árabe’, referindo-se a al-Jazira e al-Arabiya.
Al-Hurra é transmitida a partir de Washington, mas com sucursais em diversas capitais, inclusive Bagdá. Essa é a última iniciativa lançada pelos EUA a fim de atrair a atenção de árabes.
Al-Jazira, orgulho da dissidência
A al-Jazira, defendida por seus executivos como uma emissora equilibrada e rica em notícias mas criticada pelo Pentágono, está em meio a um banimento de um mês no Iraque. Também tem sido alvo de boicote publicitário em alguns países árabes. Essa diversidade, segundo executivos, marca a força do canal. ‘Fomos acusados de ter sido criados por agências internacionais como Mossad e CIA, de ter apoio americano, de ter este ou aquele regime patrocinando, de ter apoio de Osama bin Laden’, disse Wadah Khanfar, diretor-administrativo. ‘Esses tipos de besteira são, para nós, sinal de que o que estamos fazendo é correto’.
Outro sinal, segundo Samuel Abt [International Herald Tribune, 16/2/04], é de que, em seu oitavo ano de funcionamento, o canal diz ter 35 milhões de espectadores diariamente em todo o mundo – a maioria em países árabes, mas podendo chegar a públicos da China e do Japão.
Agora, a al-Jazira pretende se expandir para o mundo de língua inglesa. Após a estréia de seu sítio em inglês, no ano passado, o canal planeja montar um canal via satélite no ano que vem, o que incluiria um canal só de esportes e outro só para crianças, tudo em inglês. ‘Já estamos recrutando jornalistas e construindo um prédio’ para o novo canal, disse Khanfar.
Funcionários do canal disseram que estão recebendo financiamento de executivos do Catar, enquanto a revista britânica The Economist garante que o dinheiro vem do próprio governo catariano ‘porque tem na al-Jazira parte de seus planos pela liberalização política’.
O canal foi o primeiro a divulgar as fitas dos líderes da rede terrorista al-Qaida. Chamando Osama bin Laden de ‘fazedor de notícias’, Khanfar analisou a escolha do terrorista pela al-Jazira ao querer transmitir ao mundo seus discursos. ‘Se você quiser passar uma mensagem à mais ampla audiência, vai à estação de TV mais reconhecida, e al-Jazira, no mundo árabe, é a maior’, disse. ‘Isso não significa que nos tornamos a voz de Osama bin Laden ou do terrorismo. Analisamos isso do ponto de vista noticioso’.