CONTEÚDO
Frase da semana
‘‘As pessoas não querem mais conteúdo, elas querem o conteúdo exato’
Devin Wenig, diretor da Divisão de Mercados da Reuters, durante o seminário Paid Content 2010, realizado nesta sexta-feira, sobre estratégias de negócios na área de conteúdo.
Em vez de empurrar mais informação, antes de tudo, publicações precisam trazer, de forma precisa, aquele conteúdo que é relevante e os seus usuários estão procurando.’
PAGAMENTO
Gratuito é bem melhor, mas o pago tem a sua chance
‘A maioria dos usuários (85%) prefere que o conteúdo na internet se mantenha gratuito, porém mais de 50% estaria propenso a pagar diretamente por filmes, músicas e games.
Esse é um dos aspectos mostrados na Changing Models: A Global Perspective on Paying for Content Online, pesquisa global da Nielsen a respeito do conteúdo pago. O estudo, feito com 27 mil pessoas em 52 países, ratifica alguns comportamentos e detalhes.
O primeiro, mais evidente, é que, na área de conteúdo online, o gratuito tem um apelo bem maior frente ao pago, algo já demonstrado em diversos mercados.
E mais – se o conteúdo é relevante e tem ‘valor’, as pessoas têm propensão maior a pagar por ele. A grande questão é que os produtores de conteúdo têm que criar ou descobrir qual conteúdo realmente proporciona ‘valor’ para os seus consumidores.
É algo que já comentei por aqui – as pessoas buscam pela informação que tem ‘mais valor’ para elas, não necessariamente pela que é ‘mais barata’ (Grátis).
Outro aspecto do estudo é que 78% dos entrevistados disseram que, quando assinam um jornal, revista ou TV, desejam que o seu conteúdo esteja disponível em outro dispositivo (na web), sem a obrigação de pagar duas vezes pelo mesmo.
Ou seja, em sua maioria, as pessoas já têm um comportamento ‘agnóstico em relação a dispositivos’. Querem que o conteúdo esteja disponível em vários suportes ao mesmo tempo.
Achei o estudo um pouco decepcionante, pois foca demais no tipo de conteúdo, enquanto as discussões sobre cobrança de conteúdo têm se voltado cada vez mais para o tipo de usuário.
Em outras palavras, pagar por conteúdo online é uma questão cada vez mais ligada ao tipo de usuário (base de consumidores mais leais), do que ao tipo de conteúdo (generalista ou analítico, hardnews ou matérias de fôlego, local ou global).’
REDE SOCIAL
Google Buzz é o ‘Facebook Beacon’ da Google
‘Se não é, está quase lá.
Facebook Beacon é um sistema de ‘publicidade contextual’ implementado em 2007 pelo Facebook, mas que logo foi desativado por expor a terceiros sem autorização dados pessoais dos usuários da rede social. O Facebook foi acusado de violação de privacidade e obrigado a pagar indenizações.
Além de virar ‘case’ sobre ‘privacidade online’, o Beacon serviu de lição para os gerentes da rede social. Não é sem motivos que, hoje em dia, como padrão, novas funcionalidades que envolvam exposição de dados pessoais já nascem desabilitadas. Você ativa se quiser.
Lançado há mais de uma semana, o Google Buzz é um dos produtos da Google que mais foi criticado em seu lançamento e também um dos que mais sofreu modificações em pouco tempo.
Tudo por causa do problema de falta de privacidade.
Criado como um complemento ao Gmail, na visão da Google, o Google Buzz seria uma ‘rede social’. Na primeira vez em que você conectava, seguia e era seguido automaticamente por seus contatos de email. Ou seja, o Buzz já nascia com uma base de usuários (criada de forma forçada). A empresa fez isso por que supostamente acreditava que uma rede social somente é atraente quando o usuário tem um monte de contatos.
Um dos inúmeros problemas dessa integração forçada foi que o Buzz expôs publicamente toda a agenda de contatos de emails de cada usuário.
Para jornalistas, por exemplo, foi um pesadelo. Era possível saber com quais pessoas (possíveis fontes?) o jornalista mais trocou mensagens de emails nos últimos tempos.
A chiadeira não foi sem motivos.
Nicholas Carlson, editor do Business Insider, conta detalhes dos bastidores do caso. Segundo ele, gerentes de produto e engenheiros da Google tiveram que ficar de prontidão para dar uma resposta imediata às críticas que não paravam de chegar. O Buzz se tornou uma prioridade interna.
Em questão de horas, a empresa implementou um link no rodapé do Gmail, que permitia desativar o Google Buzz, o que se mostrou inútil na medida em que você ainda continuava na rede do Buzz com todos os seus contatos de email expostos.
Depois, lançou a opção de bloquear contatos, impedir que seus contatos ficassem públicos até que, na última quarta-feira, foi lançada uma opção de apagar todo o seu histórico no Buzz, inclusive mensagens e contatos que foram adicionados.
Mas já era tarde, o estrago já estava feito.
A lista de contatos de email de diversos usuários foi exposta.
Depois do burburinho na web, a questão promete ir para o lado jurídico. O caso já chamou a atenção do Escritório da Comissão de Privacidade do Canadá e da Comissão de Comércio dos Estados Unidos. Nesta quarta-feira, a Google foi alvo de uma ação coletiva de usuários.
Não é a primeira vez que um produto da Google é atacado em seu lançamento devido a questões de privacidade. Quase sempre quando a empresa de busca lança um produto, as reclamações sobre privacidade partem de governos, preocupados com prédios públicos e bases militares que estão visíveis em mapas da Google, por exemplo.
Críticas que, durante anos, ajudaram a criar a imagem de resistência da empresa, que ‘faz e acontece’ e ‘enfrenta sem medo’ governos. A escritora Janet Lowe, em seu livro Google, até brinca com isso ao afirmar que o setor jurídico é o que mais trabalha na Google.
A diferença é que, desta vez, as críticas estão partindo quase que exclusivamente dos maiores defensores da empresa – seus próprios usuários.
Algo bem ruim para uma empresa gerenciada por um diretor geral, Eric Schmidt, que, em 2007, disse que a Google depende exclusivamente da confiança do usuário. ‘Seria um desastre para a empresa se essa privacidade (confiança) fosse comprometida’.
Pelas críticas que a empresa recebeu na última semana, deu para perceber que a lua-de-mel da Google com a imprensa especializada acabou faz tempo (situação bem diferente dos anos de 2006 e 2007 quando existia uma nítida admiração por parte da imprensa).
Para a Google, acredito que fica a lição imediata de não subestimar duas coisas. Primeiro, o ‘feedback externo’ (ao que tudo indica, a Google teria sido negligente ao não fazer testes suficientes com pessoas de fora da empresa). Segundo, a preocupação de seus usuários com a privacidade. Está certo que, hoje em dia, em algumas áreas, privacidade às vezes parece uma palavra meio deslocada, mas não é bem assim. Nem 8 nem 80.
Para nós, usuários, fica o alerta sobre o quanto a Google tem dados pessoais nossos que podem ser expostos em um simples erro de implementação de um produto.
Independente do que aconteça daqui para frente com o Buzz (se torne um sucesso, mude tudo e vire outra ferramenta), ele entra para a história como o mais desastroso processo de lançamento de um produto feito pela Google.
Atualização às 21h (19/02) – Em um encontro com jornalistas e autores de blogs, Mike Yang, do Conselho de Privacidade da Google, admitiu erros no lançamento do Google Buzz.’
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