Já virou tradição política. Candidato que se preze deve sentar na poltrona do apresentador Tim Russert para uma sabatina em seu programa Meet the Press, da NBC. Já passaram por lá Howard Dean, o senador John Edwards, Bill Clinton, o democrata Al Gore e George W. Bush. A maioria desses políticos já esteve mais de uma vez no programa. Bush, atual presidente, acaba de fazer sua segunda participação.
Pela quarta eleição presidencial seguida, os candidatos e pré-candidatos foram ao programa levar ao público suas mensagens. Bush, por exemplo, aceitou participar do Meet the Press em parte porque, segundo seus assessores, queria demonstrar sua capacidade de responder a perguntas difíceis.
De acordo com Jim Rutenberg [The New York Times, 9/2], participar do Meet the Press parece uma boa forma de se destacar. O programa tem a maior audiência de domingo de manhã, com uma média de 4,4 milhões de telespectadores por semana. Mas a presença em qualquer outro programa também daria destaque.
‘Obviamente, ele podia ter ido à Oprah‘, disse Suzy DeFrancis, assistente de comunicações da Casa Branca. ‘Acho que o presidente sentiu que aquele era um fórum capaz de atingir um grande público e que Tim era conhecido por suas perguntas afiadas’. De fato, a reputação de ‘durão’ de Russert irrita seus concorrentes. Executivos de outras emissoras há muito confabulam que seus principais entrevistadores são tão bons quanto. De fato, George Stephanopoulos, do This Week da ABC, Bob Schieffer, do Face the Nation da CBS, e Chris Wallace, do Fox News Sunday, são figuras importantes entre apresentadores e moderadores da categoria. Mas Russert é visto como um desafio aos entrevistados, devido a sua formação (ele foi advogado e político – democrata).
Jornalismo vira propaganda
A presença de Bush no Meet the Press, porém, foi aproveitada em todo o seu potencial. Uma parte da entrevista foi usada na campanha de reeleição do presidente, o que gerou protesto imediato da NBC News, que exibe o programa. O vídeo promovia as iniciativas de política internacional de Bush e foi disposto no sítio da campanha, além de ser remetido via e-mail a cerca de 6 milhões de pessoas.
A peça trazia música de fundo e terminava com uma garota correndo em um campo gramado. Incluía citações do presidente feitas no programas, entre elas, a seguinte: ‘Minha política internacional acredita que a América tem uma responsabilidade a cumprir neste mundo’.
Segundo Elizabeth Jensen [Los Angeles Times, 11/2], após idas e vindas de advogados, o vídeo foi removido do sítio. Scott Stanzel, porta-voz da campanha de Bush, disse que ‘apesar de ser totalmente legal e apropriado sob as normas de ‘justo uso’ utilizar partes da entrevista, respeitamos as vontades da NBC e removeremos o vídeo’. A lei de copyright americana permite, sob a doutrina de ‘fair use‘, a reprodução de material, com alguns limites, para críticas, comentários, informações noticiosas etc. Geralmente, a prática ocorre sem reclamações da mídia.
Barbara Levin, porta-voz da NBC News, disse que a emissora protestou o uso da entrevista porque não pretende ‘criar materiais que campanhas políticas usem em propagandas’. ‘Esse vídeo promocional tem música, é editado para imprimir impacto e mistura outras imagens não relacionadas à entrevista’, afirmou.