Friday, 27 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

‘Tragédia. Executaram a nossa consciência’

Milhares de pessoas foram ao cemitério Troyekurovskoye, em Moscou, na terça-feira (10/10), prestar sua última homenagem à jornalista Anna Politkovskaya, executada a tiros três dias antes no elevador do edifício onde morava. A morte da repórter, uma das maiores críticas ao Kremlin, comoveu a Rússia e levou líderes mundiais a manifestar preocupação sobre a liberdade de imprensa no país.


‘Isso é uma tragédia para a Rússia. Executaram a nossa consciência’, resumiu o reitor da escola de jornalismo da universidade de Moscou, Yasen Zasursky. Compareceram ao enterro de Anna os embaixadores da Noruega, EUA e Suécia e os principais ativistas de direitos humanos russos.


Em carta aberta, o Sindicato de Jornalistas Russos desafiou o presidente Vladimir Putin. ‘Nós queremos ter garantias de que o senhor, como responsável pelos nossos direitos constitucionais e liberdade, controlará pessoalmente a investigação deste crime monstruoso’, dizia o documento.


Em carta aos filhos da jornalista, o presidente da França, Jacques Chirac, condenou o assassinato, afirmando que ele comoveu os franceses e todos os defensores da liberdade de imprensa. Na Bulgária, a rádio nacional pediu que as pessoas acendessem velas na igreja russa em Sófia em nome da defesa da liberdade de imprensa. Na Ucrânia, dezenas de manifestantes – carregando cartazes que diziam ‘O Kremlin matou a liberdade’ – colocaram velas dentro da embaixada russa em Kiev e no consulado na cidade de Lviv.


‘Assim como muitos russos, os americanos ficaram chocados e tristes com o brutal assassinato de Anna Politkovskaya, corajosa jornalista investigativa, altamente respeitada na Rússia e nos EUA’, afirmou no domingo o presidente americano, George W. Bush. ‘Nós pedimos que o governo russo conduza uma investigação vigorosa para levar justiça àqueles responsáveis por este crime’.


 


Putin promete investigação objetiva


Na segunda-feira (9/10), Putin, que até então não tinha se manifestado sobre o assunto, conversou com Bush pelo telefone. Segundo o porta-voz da Casa Branca, Tony Snow, o presidente russo garantiu que tomará todas as medidas necessárias para que seja feita uma investigação objetiva e efetiva. Putin afirmou que o assassinato da jornalista é ‘uma tragédia pessoal e uma bofetada na Rússia’, pois levantou questões sobre liberdade de imprensa e segurança de jornalistas. O procurador-geral da Rússia, Yuri Chaika, encarregou-se de cuidar pessoalmente da investigação.


O jornal Novaya Gazeta, onde Anna trabalhava, mostrou-se cético quanto às promessas de ‘investigação objetiva’ por parte do governo. O título, que na segunda-feira publicou uma edição especial em homenagem à jornalista, anunciou que conduzirá uma investigação paralela e que oferece US$ 1 milhão em recompensa por informações que possam levar aos assassinos.


De acordo com dados do Comitê para a Proteção dos Jornalistas, a Rússia é o terceiro país com mais morte de jornalistas, ficando atrás apenas do Iraque e da Argélia. Anna é a 43ª profissional morta por seu trabalho desde 1993, e a 13ª desde que Putin assumiu o poder, em 2000. O crime desta semana trouxe à memória a morte – até hoje não solucionada – do jornalista americano Paul Klebnikov. Editor da versão russa da revista Forbes, ele foi assassinado a tiros em julho de 2004, em frente ao escritório onde trabalhava em Moscou. Com informações de Maria Danilova [AP, 9/10/06], Reuters [10/10/06] e Sebastian Smith [AFP, 10/10/06].