Poucas horas depois da passagem da tsunami pelo Sudeste asiático, imagens de cinegrafistas amadores já circulavam por sítios de internet e emissoras de TV em todo o mundo. As estrelas do jornalismo televisivo americano, com presença indispensável em tragédia desta magnitude, só chegaram às regiões atingidas cerca de nove dias depois do desastre. Segundo Peter Johnson [USA Today, 4/1/05], é provável que esta demora tenha acontecido justamente pela magnitude da tragédia – foram 13 países e milhares de quilômetros de costa atingidos, com algumas regiões postas literalmente fora de alcance – e pelo período em que ocorreu – o feriado das festas de fim de ano.
Apenas no início da semana passada, Dan Rather, da CBS, Diane Sawyer, da ABC, e Brian Williams, da NBC, começaram a apresentar seus programas dos países do Sudeste asiático. Mesmo que as emissoras abertas e a cabo tivessem correspondentes nos locais devastados horas depois da passagem das ondas, resolveram esperar um pouco antes de enviar seus principais representantes. ‘Há melhores usos para um âncora do que ficar parado no meio de escombros – sem nenhum desrespeito pelas pessoas que ficam diante dos escombros’, diz Marcy McGinnis, chefe de jornalismo da CBS.
O correspondente da ABC Bob Woodruff, reportando do Sri Lanka, defende que este é o tipo de história em que ninguém tem muita noção, nos primeiros dias, da intensidade que poderá tomar. Além disso, a localização da tragédia, de difícil acesso, dificulta o envio imediato de equipes, que ainda têm que ser vacinadas contra cólera, malária e hepatite.
A CNN diz ter levado vantagem, neste sentido. Com produtores e correspondentes espalhados por diversos locais do mundo, a rede pôde chegar rapidamente aos países atingidos e hoje conta com 75 pessoas reportando diretamente do Sudeste asiático.
Desafios físicos e mentais
Depois das dificuldades para chegar aos países – Brian Williams, em sua primeira grande cobertura depois de substituir Tom Brokaw no Nightly News, viajou 48 horas para chegar a Banda Aceh, devastada pela força das ondas –, as equipes enfrentam ainda outro desafio: como abordar as histórias.
Segundo o produtor Steve Capus, da NBC, é importante mostrar matérias de esperança, e não apenas de miséria e destruição. Diane Sawyer apresentou o Good Morning America do paraíso turístico de Khao Lak, na Tailândia, com reportagens que iam desde um passeio por um necrotério improvisado até a volta das crianças à escola no primeiro dia de aula do ano.
‘Este é o tipo de reportagem em que você não faz ligações ou marca entrevistas’, diz Woodruff. ‘Você anda pelas ruas e entra na vida de pessoas que acabaram de passar por momentos e perdas terríveis. Você simplesmente tenta se imaginar no lugar delas – ouvi-las, vê-las e, em certo nível, sentir o que elas sentiram – e reinventar isso, de alguma maneira, para a TV’.