Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

TV paga e radiodifusores
brigam pela TV Digital


Leia abaixo os textos de segunda-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 6 de agosto de 2007


TELECOMUNICAÇÕES
Elvira Lobato


TV digital gera disputa entre radiodifusores e redes a cabo


‘Depois da queda-de-braço entre as empresas de telefonia e os radiodifusores e do conflito entre as teles e as operadoras de televisão por assinatura, há uma nova divergência no setor, entre radiodifusores e a televisão por assinatura, por conta do lançamento da TV digital, marcado para 2 de dezembro.


O foco da discussão são as caixas receptoras dos sinais da TV digital, que estão sendo desenvolvidas sem um entendimento com as operadoras de TV por assinatura.


O principal atrativo da TV digital aberta será a transmissão em alta definição, mas as caixas usadas pelas TVs pagas -por cabo ou satélite- não permitem a recepção em alta definição. O assinante de TV paga precisará de mais uma caixa, mais um controle remoto e mais uma antena (externa e interna) se quiser ter acesso à transmissão de alta definição.


‘A falta de diálogo entre os dois setores pode retardar a disseminação da própria TV digital’, diz o jornalista Rubens Glasberg, diretor da PayTV, que tem uma revista mensal e um instituto de pesquisas especializados no setor. Para ele, o ideal seria uma caixa que atendesse aos dois setores.


O impacto da TV digital aberta sobre a TV por assinatura será um dos assuntos principais do Congresso ABTA (Associação Brasileira de Televisão por Assinatura), que começa amanhã, em São Paulo.


O curioso da falta de diálogo entre os dois setores é que vários radiodifusores têm participação acionária em empresas de TV paga, sendo as Organizações Globo o principal exemplo. O grupo possui a maior emissora de TV aberta (Rede Globo), a programadora Globosat e o controle acionário da Net Serviços, que tem a maior base de assinantes de TV paga.


Para Glasberg, os setores vivem ‘um conflito existencial’, porque, apesar de ter sócios em comum, competem entre si. A Rede Bandeirantes e o SBT têm participação acionária na TV Cidade, de televisão a cabo.


Elite


O ministro das Comunicações, Hélio Costa, anunciou, na sexta-feira, a negociação para que um consórcio de empresários indianos e brasileiros produzisse as caixas receptoras a R$ 180, mas os fabricantes já falaram em até em R$ 800. A última estimativa das indústrias de Manaus é de R$ 228.


Na edição da PayTV que será distribuída nesta semana, o diretor de Operações da Net Serviços, José Félix, diz que o público inicial da TV digital é o assinante de TV paga. Para ele, a implantação gradual da televisão digital, que pelo cronograma do governo levará 10 anos, é contra o ganho de escala. Os radiodifusores não se mostram preocupados com a TV paga. ‘O sinal vai estar no ar, e quem quiser poderá recebê-lo. Pela primeira vez, aliás, teremos uma situação inversa: quem quiser receber o sinal pelo ar terá uma qualidade melhor do que a cabo. Para nós, está resolvido’, afirmou o diretor de Engenharia da TV Globo, Fernando Bittencourt.


Para Bittencourt, as operadoras de TV paga é que subestimaram a velocidade de implantação da TV digital e já deveriam ter resolvido seus problemas de tecnologia para ter alta definição.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Classes


‘Ontem na Folha sobre o Datafolha, o registro de que a reação a Lula se deu ‘apenas entre os mais ricos’. E ontem no despacho da agência Reuters, destaque nos sites de buscas de Brasil, ‘Lula se mantém entre os mais populares presidentes na história do Brasil’, com ‘aprovação sem alteração desde março’, isso ‘apesar da crítica pública’ que se seguiu ao desastre aéreo. Notou a agência que o presidente ‘é especialmente popular entre os brasileiros pobres e de classe trabalhadora’.


COM ONASSIS


Mônica Bergamo deu que Athina Onassis estudava ‘uma forma de aderir ao Cansei’; dois dias depois, FHC aparece em sites pelo mundo sorrindo com a ‘herdeira’, via Reuters


FAUSTÃO E IMPLOSÃO


O ‘Jornal Nacional’ pouco ou nada mudou, mas ontem foi o ‘Domingão do Faustão’. O animador, em meio a uma justificação sem fim do global Criança Esperança, virou o locutor da implosão do prédio da TAM, que misturou com:


– Este acidente é misto de incompetência, corrupção… Que sirva para lembrar a sociedade de que precisa reagir, exigir respeito da autoridade.


POR SEGUNDOS


O caderno de turismo do ‘New York Times’ abordou o acidente, que fez a segurança ‘novamente foco de intensa preocupação para turistas’:


– Não é só o Brasil que está sob o holofote. Nas últimas semanas, aviões estiveram a segundos de colidir em aeroportos bem mais perto, como La Guardia e Orlando.


E indicou sites de avaliação sobre aeroportos no mundo.


LULA E O MURO AMERICANO


‘Lula da Silva’ estava ontem na capa do mexicano ‘El Universal’, assinando o artigo ‘Aliança indispensável’, propondo cooperação em petróleo, gás e etanol. Num trecho, ‘em nosso continente não precisamos de muros’, mas de ‘estradas, gasodutos e linhas de transmissão’. Além da mídia mexicana, a visita e o artigo ecoaram por agências como AP, Efe etc. É um ‘giro’ que segue depois por Honduras, Nicarágua, Jamaica e Panamá. Cuba, não.


De sua parte, ontem no programa ‘Alô, Presidente, número 289’, como descrito por sua Agência Bolivariana de Notícias, Hugo Chávez anunciou ‘giro’ por Argentina, Uruguai, Bolívia e Equador -com mais dinheiro para a primeira e investimentos em petróleo nos dois últimos.


A ILHA


Em seu ‘Juventud Rebelde’, Fidel Castro prometeu que, na volta dos dois boxeadores, ‘não os espera prisão nenhuma’ e ‘as autoridades brasileiras podem ficar tranqüilas’…


O MAIS RICO


Na capa do ‘Wall Street Journal’ sobre ‘o homem mais rico do mundo’, ‘Slim faz seus bilhões à velha maneira: monopólios’. Na primeira frase do texto, ‘Slim é o Senhor Monopólio do México’. Já na revista ‘Época’, da Globo, associada de Slim na Net, lá pelo meio do texto, o registro de que, ‘tanto Bill Gates [o mais rico anterior] quanto Carlos Slim enfrentam competidores, mas ambos têm conseguido manter níveis elevados de controle de seus mercados’.


Em quadro no ‘WSJ’, as diretrizes de Slim, tipo ‘negar acesso a sua rede’, ‘dumping’ etc. Em quadro na revista, as ‘regras de ouro do bilionário’, oficiais, tipo ‘otimismo sempre rende frutos’, ‘manter austeridade fortalece’ etc.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Empresa da Globo lançará 5 canais de sexo


‘A Playboy do Brasil, empresa recentemente formada entre a Globo e a argentina Claxson, vai lançar no país cinco canais eróticos até o ano que vem.


Dois canais, na verdade, serão relançados: o Venus (de sexo explícito pesado) e o Private (de filmes europeus). Essas marcas, que já foram distribuídas pela DirecTV, devem chegar até o final do ano aos assinantes da Net e da Sky, as duas maiores operadoras do país.


Os outros três canais -o Shorteez (de clipes e formatos eróticos curtos), o Xcess (bizarrices, fetiches étnicos, mulheres exóticas) e o Fresh (com atrizes ‘novatas’)- só serão lançados em 2008.


A Globo detém 60% da Playboy do Brasil. A empresa nasceu oficialmente em julho como a maior programadora de conteúdo adulto do país. Uniu as marcas da Claxson (como a Playboy TV) às da Globosat (Sexy Hot e For Man).


Um estudo da programadora aposta que, com a digitalização da TV paga, a oferta de conteúdo adulto pela TV por assinatura crescerá 25% neste ano, mais do que a média do setor (15%).


O levantamento traz dados inéditos: em 2005, a distribuição de material erótico pela TV paga movimentou US$ 54 milhões -apenas 7% do mercado de pornografia, dominado pela internet (49%) e por DVDs (36%). Em 2007, calcula a Playboy do Brasil, a receita bruta da TV paga com conteúdo adulto atingirá R$ 176,6 milhões.


HABITUÉE


Estrela da MTV, Daniella Cicarelli volta amanhã ao ‘Programa do Jô’. Fez sucesso em 2006, quando falou sobre o barraco em seu casamento com Ronaldo. Agora, o ‘assunto’ é o vídeo em que transa como namorado numa praia.


BUMBO 1


O SporTV festeja a audiência feminina conquistada no Pan. As mulheres assistiram a um dos três SporTV durante 43 minutos por dia. No resto do ano, essa média é de 26 minutos. Já os homens, que normalmente vêem os SporTV durante 36 minutos, aumentaram essa permanência para 53 minutos.


BUMBO 2


O SporTV diz que foi sintonizado por mais de 9,2 milhões de pessoas diferentes durante pelo menos um minuto no Pan.


ESTRESSE 1


As relações entre a TV Globo e o jornal ‘Extra’, ambos das Organizações Globo, estremeceram na semana passada. O diário popular carioca publicou nota sobre um vídeo em que J.B. de Oliveira, o Boninho, diretor de ‘Big Brother Brasil’, aparece dizendo, numa brincadeira, que já atirou ovo em prostitutas. Em seu site, o ‘Extra’ exibiu o vídeo.


ESTRESSE 2


A Globo não gostou de o jornal ter tratado o conteúdo do vídeo como assunto sério e de não ter acolhido a versão contada pelo próprio Boninho. Em represália, cortou o envio de textos sobre suas produções ao jornal e proibiu jornalistas da publicação de entrarem no Projac, sua central de estúdios. As relações entre os veículos já foram restabelecidas.’


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O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 6 de agosto de 2007


PUBLICIDADE
Marili Ribeiro


Quanto vale uma Gisele Bündchen na publicidade?


‘A cada vez que uma empresa usa a modelo brasileira Gisele Bündchen em alguma campanha, suas ações na Bolsa têm uma valorização média de 15%, segundo o Gisele Bündchen Stock Index, um índice criado pelo economista americano Fred Fuld. Mesmo considerando-se o cachê astronômico da estrela (estimado em cerca de US$ 2 milhões por contrato), é, sem dúvida, um grande investimento. Mas pagar altas cifras para vincular um produto a um rosto famoso nem sempre é garantia de retorno.


Para criar o tal índice Gisele Bündchen, Fuld, que tem um site, o Stockerblog, em que escreve sobre questões financeiras – além de publicar artigos em grandes jornais americanos -, fez uma conta simples. Avaliou as empresas que contrataram a brasileira como garota-propaganda e comparou quanto suas ações valiam na Bolsa de Nova York antes e depois da aparição dela. Foi assim que chegou aos 15% de aumento. Nesses mesmos períodos, a valorização média do índice Dow Jones foi de 8,2%.


Apesar dos números positivos, o diretor de criação e sócio da agência Africa, Sérgio Gordilho, diz que Gisele, assim como qualquer outra celebridade, funciona desde que gere empatia com o produto que anuncia. ‘Por três anos, ela funcionou tão bem no Brasil para a Nívea que se chegou a cogitar que ela poderia vir a ser o rosto mundial da marca’, diz. Neste ano, o contrato com a marca alemã de beleza foi encerrado, mas a top model já assinou contrato milionário com a Procter & Gamble para protagonizar a campanha da marca de produtos para cabelos Pantene.


‘Em alguns casos, mais do que fazer um trabalho de construção de marca, a companhia que contrata uma figura tão em evidência quer mesmo ostentar que o negócio vai bem. Tão bem que pode pagar um ícone caro’, diz o publicitário Eugênio Mohallem, presidente da agência Fallon no Brasil. Um cachê estelar pode chegar a R$ 5 milhões no Brasil. Em média, as estrelas nacionais cobram entre R$ 250 mil e R$ 2 milhões por contrato de até um ano.


Para Mohallem, há um certo abuso no meio publicitário quando se trata de usar figuras famosas em campanhas – o que ele chama de ‘truque fácil’. ‘Chamar uma celebridade é uma solução sem esforço, que denota uma preguiça em buscar saídas efetivamente criativas, porém mais trabalhosas.’


Pesquisa do instituto Ipsos feita para avaliar a eficácia das peças publicitárias mostra que, em quase 60% dos casos, o uso da imagem de uma celebridade tem efeito inócuo. ‘Na maior parte das vezes, a falta de pertinência do personagem ao produto não produz o alcance pretendido pela mensagem’, diz Márcio Salibury, diretor para América Latina da Ipsos ASI. ‘O anúncio tem não apenas de ser notado pelo consumidor, mas principalmente associado à marca para resultar em vendas ou construção de marca.’


EXPOSIÇÃO


Isabelle Perelmuter, vice-presidente de Planejamento da Fischer América, concorda que certos personagens têm um desgaste por causa do excesso de exposição. Por isso, diz ser preciso um estudo cuidadoso antes de se fazer a escolha. ‘É fundamental cruzar os atributos da marca com os atributos da celebridade que se pretende usar’, diz.


Para lançar no Brasil o C4 Pallas, novo carro da Citroen, a agência EuroRSCG Brasil foi buscar o ator americano Kiefer Sutherland – o agente Jack Bauer do seriado 24 Horas. ‘O Sutherland tem tudo a ver com a marca e com o público que queremos atingir’, diz Jáder Rossetto, vice-presidente de criação da agência. ‘ Vimos em pesquisas internas que o público não agüenta mais ver os mesmo garotos propagandas. Há um abuso, com uso de personalidades vazias, que não acrescentam nada’. Embora a Citroen no Brasil não divulgue, o mercado publicitário diz que o ator ganhou U$ 1 milhão para fazer a campanha.


NÚMEROS


15% é a valorização média das ações de uma empresa que contrata Gisele Bündchen como garota-propaganda, segundo índice criado por um economista americano


US$ 2 milhões é o cachê estimado da modelo por contrato


R$ 250 mil a R$ 2 milhões é o cachê cobrado por celebridades no Brasil por contratos publicitários de até um ano’


INTERNET
Renato Cruz


No Brasil, Google aposta na oferta de serviços por celular


‘Além de organizar toda a informação do mundo, o Google tem como meta torná-la disponível. Em países como o Brasil, isso significa mais do que digitalizá-la e indexá-la. ‘Sabemos que em vários mercados a primeira experiência das pessoas com serviços interativos será pelo celular’, afirma o mexicano Daniel Alegre, diretor-gerente para América Latina do Google. ‘A mobilidade é muito importante. Como a adoção do wap (internet pelo celular) é bastante lenta, estudamos como as mensagens de texto podem ser usadas na nossa estratégia.’


O primeiro passo nesse sentido foi o uso das mensagens de texto via celular no Orkut, lançado no começo do ano. ‘O serviço foi desenvolvido com os engenheiros do Google no Brasil, para ser adotada no mundo todo’, diz Alegre. O Google tem um centro de pesquisa e desenvolvimento em Belo Horizonte, criado com a aquisição da Akwan, uma empresa local. O centro trabalha em outras soluções de mobilidade e na melhora da busca para o público brasileiro, entre outros projetos.


Segundo o Comitê Gestor da Internet no Brasil, cerca de 67% da população brasileira nunca acessou a rede mundial. Por outro lado, existem 106,6 milhões de telefones celulares no País, o que representa 56 aparelhos para 100 habitantes. Quando esteve no Brasil, em abril, o presidente mundial do Google, Eric Schmidt, recomendou que a empresa criasse iniciativas para ajudar o crescimento do acesso à internet no País. ‘Estamos trabalhando nisso’, garante Alegre.


O executivo está há três anos e meio no Google. ‘Algumas vezes ainda fico admirado com a maneira como a empresa encara os negócios’, afirma Alegre. No lugar de criar produtos que sejam mais fáceis de vender ao anunciante, o Google tem como foco atender ao maior número de usuários possível. Depois entram as equipes comerciais, que precisam descobrir como oferecer o produto ao mercado.


‘Nosso presidente normalmente coloca os negócios em segundo lugar’, destaca Alegre. É claro que Schmidt faz isso a partir de uma posição confortável. No ano passado, o Google teve um lucro líquido de US$ 3 bilhões, sobre um faturamento de US$ 13,8 bilhões.


O Googleplex, em Mountain View, se parece com um campus universitário. A empresa procura criar um ambiente descontraído de trabalho. Os funcionários podem levar seus cães de estimação ao trabalho e são recompensados com cupons de massagem. Existem espaços, que eles chamam de microcozinhas, com comida de graça. A reportagem do Estado passou por algumas mesas de bilhar, mas nenhuma delas estava sendo usada. A estratégia é deixar as pessoas confortáveis, e assim elas sentem menos vontade de voltar para casa.’


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‘A busca geográfica é um grande mercado’


‘Chikai Ohazama é um dos fundadores da Keyhole, empresa comprada em 2004 pelo Google e que deu origem ao Google Earth e ao Google Maps. ‘Éramos um grupo de 30 ou 35 pessoas’, afirma o engenheiro, atualmente gerente de produto. Abaixo, trechos da entrevista feita na sede do Google.


O que mais o surpreendeu desde o lançamento do Google Earth?


Eu sempre me surpreendo com os mashups (combinação de dados de fontes diferentes). Oferecemos nossa ferramenta como uma plataforma e a comunidade desenvolve aplicações que a gente nunca imaginou. Existem mashups que indicam os melhores bares da cidade. Outros mostram as casas à venda, com seus preços. Combinaram o Google Maps com o Craiglist (site de anúncios) e o resultado foi bem interessante.


Como o senhor usa seu tempo para projetos pessoais?


Hoje estou mais ocupado em encorajar as pessoas, em fazer com que coisas legais aconteçam. O Google Moon e o Google Mars (serviços que mostram a superfície da Lua e de Marte) surgiram como projetos pessoais.


Como será a evolução do Google Earth?


Existem dois caminhos a seguir. Um deles é conseguir imagens cada vez melhores, com muito mais referências geográficas. Outra é acrescentar novos recursos, como fizemos com os mapplets (pequenos programas que podem manipular mapas).


Como o senhor compara a visão que tinha quando criou a Keyhole com o que acabou acontecendo?


Tudo o que a gente sonhava aconteceu. Levamos sistemas de informação geográfica para as massas. A experiência toda, incluindo imagens tridimensionais, está disponível para todos.


E qual é o sonho agora?


Descansar? Não é só isso. Da mesma forma que a web tem hoje bilhões e bilhões de páginas, espero que a web geográfica também tenha bilhões e bilhões de documentos. A geoweb é um grande conceito e a busca geográfica é um mercado cada vez maior.’


Rodrigo Brancatelli


Cartilha ensina pais a proteger crianças


‘Camila, que parece ter 10, 11 anos no máximo, posa para a foto à beira da piscina com um sorriso de orelha a orelha. Aline, um pouco mais nova mas igualmente sorridente, aparece de pijama de ursinhos. As amigas Karina, Lígia e Lia jogam bola na praia – ‘tentam jogar’ é uma definição mais apropriada para a cena, já que duas estão estiradas na areia. Essas e tantas outras fotografias postadas na internet não deveriam passar de imagens ingênuas, instantâneos da infância que renderão boas risadas no futuro. Mas, no presente, servem de munição para uma legião de pedófilos que se esconde e prolifera nas páginas da internet.


Há tempos que o mundo virtual perdeu a inocência. Sem dificuldade – e, principalmente, sem legislação clara -, criminosos trocam mensagens e e-mails com fotos de menores em situações supostamente eróticas como se fosse uma coisa normal, banal até. O Orkut, site de relacionamentos com 25 milhões de brasileiros, acabou transformando-se em paraíso desses pedófilos virtuais. Numa comunidade de troca de imagens, além de encontrar as cenas de Camila, Aline, Karina, Lígia e Lia, é possível aprender até uma receita de droga para ‘desacordar a menina e facilitar o trabalho’, como ensina um dos internautas.


‘A atuação dessas pessoas é facilitada porque não há ninguém vigiando’, diz Ana Maria Drummond, diretora-executiva do Instituto WCF-Brasil, braço brasileiro da World Childhood Foundation, entidade fundada pela rainha Silvia da Suécia, que desenvolve campanhas a favor da proteção das crianças e adolescentes.


‘Os próprios pais não sabem o que seus filhos fazem na internet, que fotos eles postam, com quem conversam. Há pais que nem sabem o que é Orkut, o que é Messenger. Esse gap (distância) de gerações que existe só facilita a ação dos pedófilos.’


Para conscientizar pais e torná-los multiplicadores, a WCF-Brasil lança nesta semana cartilha educativa com dicas e soluções para evitar que meninos e meninas fiquem à mercê dos criminosos na internet. Com uma tiragem inicial de 330 mil exemplares, o livreto Navegar com Segurança será distribuído nas unidades do Sesi/Senai e no Shopping Pátio Higienópolis, na região central de São Paulo.


‘A cartilha mostra desde explicações básica sobre como funciona a internet até como instalar filtros para evitar que os filhos acessem conteúdo impróprio’, conta Ana Maria Drummond. ‘O importante é mostrar que o computador não é vilão da história, ele só precisa ser bem administrado.’


Para mostrar como o problema é maior que o imaginado pelos pais, a WCF-Brasil encomendou pesquisa inédita à ONG SaferNet Brasil, entidade que combate crimes na internet por meio de denúncias anônimas feitas pelos próprios internautas. Analisando as 596.738 denúncias recebidas entre 26 de janeiro e 28 de junho, a SaferNet descobriu 45.941 páginas com conteúdo de pedofilia no Orkut. Cerca de 187 mil fotos foram postadas no período – 50 mil não foram retiradas do ar e continuam ali, passíveis de serem vistas por qualquer pessoa com um mouse.


FILTROS


‘O próprio Orkut, quando retira as páginas do ar, demora mais de uma semana para fazer isso’, diz Thiago Tavares, presidente da SaferNet. ‘É uma eternidade. Essas informações, quando analisadas à luz dos casos concretos e das medidas judiciais adotadas, servirão para subsidiar a ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público Federal de São Paulo na Justiça Federal que pede que o Orkut seja condenado a pagar indenização de R$ 130 milhões por danos morais coletivos causados aos internautas expostos ao conteúdo pornográfico infanto-juvenil. Algo precisa mudar para que os pedófilos não continuam se multiplicando, e a conscientização é o primeiro passo.’


A bióloga e professora universitária Sílvia Fazzolari Correa percebeu como a internet poderia ser perigosa na educação dos seus filhos depois que flagrou Otávio, de 9 anos, e Flávia, de 6, olhando fotos de sexo explícito no computador. ‘Foi quando me dei conta de que o mundo virtual precisa de limites, iguais aos que eu imponho no mundo real’, diz. ‘Há criminosos na internet do mesmo jeito que há nas ruas, e cabe aos pais proteger seus filhos desse tipo de comportamento.’


Sílvia instalou uma espécie de filtro no PC de casa, um programa que impede o acesso a conteúdo impróprio e só libera sites que tenham sido aprovados por ela ou por seu marido. ‘Eu não permito Messenger ou Orkut, por exemplo’, diz. ‘A internet pode ser uma ferramenta fantástica. Mas eu só darei liberdade aos meus filhos para navegarem sozinhos quando tiver certeza de que eles têm discernimento necessário para fazer isso.’


FRASES


Ana Maria Drummond


Diretora-executiva do Instituto WCF-Brasil


‘O importante é mostrar que o computador não é o vilão, ele só precisa ser bem administrado’


Sílvia Fazzolari Correa


Bióloga


‘A internet pode ser uma ferramenta fantástica. Mas só darei liberdade a meus filhos para navegarem sozinhos quando eles tiverem discernimento para isso’’


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‘Hackers do bem’ perdem horas tirando fotos do ar


‘Capitão Henry Schuster Troski é um internauta sem nome, sem idade e sem profissão. Prefere manter tudo isso sob anonimato – afinal, não está no Orkut e no MSN para conhecer pessoas e conversar com amigos, mas sim para caçar pedófilos. Ele e outras centenas de internautas perdem horas por dia para fazer o papel que deveria caber ao próprio Orkut e às autoridades, procurando páginas de pedofilia e agindo como hackers para tirar as fotos do ar.


‘Não há ação da Polícia Federal nem de ninguém, nós temos que fazer todo o trabalho’, diz ele, uma espécie de justiceiro virtual. ‘Recebo cerca de 50 denúncias por dia, mas ninguém ajuda. Todo dia vejo muitos amigos desistindo de fazer esse trabalho. Já tivemos casos de conseguir até o nome real e o endereço de pedófilos, mas a polícia não fez absolutamente nada.’


O estudante de engenharia F.M. também se esconde atrás de um apelido para denunciar pedófilos na rede. Sempre adotando nomes de mulher, ele convida seus alvos para conversas e mostra supostas fotos de pedofilia. Essas fotos na verdade são um vírus que invade o computador do pedófilo e descobre suas informações pessoais. ‘Faço isso porque tenho nojo desse tipo de pessoa’, diz. ‘Uma prima minha já teve fotos dela postadas em sites de pedófilos. O problema é que a cada dia o número de denúncias aumenta e quem deveria coibir essas ações parece fechar os olhos.’


A empresa americana Google Inc., que controla o Orkut, promete agora ajudar nesse trabalho. Uma parceria feita com os procuradores-gerais de Justiça de todo o País vai colocar à disposição do Ministério Público uma ferramenta exclusiva para vasculhar o Orkut e até retirar páginas do ar, sem a necessidade de determinação judicial. A parceria deve estar funcionando plenamente até o fim do ano.


Uma equipe bilíngüe na matriz da Google, na Califórnia, Estados Unidos, promete levar no máximo 24 horas para responder aos promotores e decidir sobre a exclusão de comentários ou de comunidades consideradas ofensivas. No lugar da página deletada, será colocado um aviso com o símbolo da Polícia Federal. A Google também promete guardar as informações dos IPs dos usuários (códigos que registram os acessos) por dois anos – e não por seis meses, como ocorre atualmente.


‘Há quase dois anos estamos nessa batalha para aumentar a segurança no Orkut, sem resultados práticos’, diz Thiago Tavares, presidente da SaferNet. ‘É preciso tratar os criminosos do Orkut com a mesma legislação com que se julga os criminosos do mundo real. Sem isso, os pedófilos continuarão atuando sem medo.’’


Pedro Doria


Livros na era digital


‘Na semana passada, o assunto cá da coluna foi a OpenLibrary, projeto para digitalizar todos os livros do mundo. É o terceiro destes projetos, que incluem também um do Google e outro da Microsoft.


Na mesma semana, a Biblioteca Pública de Nova York recebeu uma Expresso Book Machine. É a segunda do mundo – a primeira está na sede do Banco Mundial, em Washington. Ela permite ao cliente que escolha um livro qualquer num banco de dados, imprime o exemplar e o encaderna.


No momento em que este tipo de máquina for comum – não vai demorar muito -, os arquivos livreiros da OpenLibrary, do Google e da Microsoft já estarão bastante recheados. É neste ponto em que uma revolução muito parecida com a da música digital tomará de assalto, mas não de surpresa, as editoras. Seu negócio vai virar de cabeça para baixo.


A partir dos anos 1950, nos EUA, algumas grandes gravadoras começaram a se consolidar, fazendo fortunas com artistas de amplo apelo popular. As primeiras estrelas milionárias não eram muitas – de Elvis Presley a Frank Sinatra – mas o rock, na década seguinte, principalmente a partir dos Beatles, transformou estas grandes empresas em gigantes.


As ferramentas da indústria fonográfica chegaram ao auge da sofisticação nos anos 80, quando o marketing assumiu as rédeas. Fórmulas, pesquisas de mercado, testes, acordos com rádios – a máquina de produção de sucessos passou a independer do artista. Dominando a divulgação e distribuição de discos, controlando cada um dos fatores, criou-se uma indústria na qual poucos grupos gigantescos impunham ao mercado uma meia dúzia de superestrelas que rendiam quantidades obscenas de dinheiro.


A digitalização da música mudou isto. Um negócio que dependia de discos que faziam sucesso por conta de uma única faixa naufragou – baixá-la da internet é trivial. Ficou mau negócio para as gravadoras investir fortunas num produto que não renderia. O mercado massificado é também melhor domado quando há poucas opções. Na internet, as opções musicais são amplas.


A música digital, hoje, é um negócio rentável mesmo para as gravadoras grandes – mas é um negócio diferente, com mais opções, onde o arquivo, os velhos discos, podem ser muito mais valiosos do que os novos. Afinal, tudo pode estar à disposição. E novas opções, fora do mundo das grandes gravadoras, surgem com mais facilidade.


As grandes editoras começaram a vender seu momento Beatles muito recentemente, com o Código Da Vinci e Harry Potter. Provavelmente nunca viverá seu momento Madonna, da produção quase científica, encomendada e não-acidental de um mega-sucesso. A digitalização chegou antes e muito mais opções de leitura estarão por aí.


Sim, o escritor que quiser, poderá abrir mão de ter uma editora. E, para elas, argumentar que há pirataria será mais difícil. Afinal, a tradição das bibliotecas é de emprestar livros de graça, mesmo. O paralelo com a música não é perfeito. Mas há algo de diferente no ar.’


O Estado de S. Paulo


O fim das apostas no SL


‘Desde a semana passada, empreendedores virtuais estão proibidos de oferecer jogos de azar no Second Life (SL). A Linden Lab, desenvolvedora do game, alterou a política em relação a cassinos e fechou a maioria dos estabelecimentos, com a justificativa de que a prática pode desrespeitar leis de diversos países.


A informação foi publicada no blog oficial do Second Life. A Linden Lab diz que a decisão foi tomada porque não há ‘um serviço oficial de jogos de azar online’ oferecido pela empresa e residentes do metaverso moram nos mais diversos países, com diferentes entendimentos em relação ao funcionamento de cassinos.


A resolução teve efeito imediato. A busca por destinos no SL com a palavra ‘cassino’ traz agora apenas nove resultados, contra centenas há alguns dias. As ilhas que ainda oferecem serviços de jogos de azar desativaram a programação das máquinas e desabilitaram as apostas.


O cassino WCB, por exemplo, um dos mais freqüentados, informa da nova proibição assim que visitantes chegam à empresa. Cassinos não são comuns em ilhas brasileiras, talvez porque esse tipo de casa de diversão é proibido no País.


Houve diversos protestos em ilhas estrangeiras do metaverso. A repercussão inclui também a imprensa especializada. A revista ‘The Avastar’ trouxe na capa a imagem de uma lápide com as inscrições ‘Morte da liberdade no SL’.


Teoria da conspiração


Após a decisão, alguns dos blogs internacionais que cobrem o Second Life divulgaram que o FBI, a polícia federal norte-americana, teria influenciado e pressionado a Linden Lab. Blogueiros falam inclusive em uma investigação aberta pelo birô sobre a troca de dinheiro em casas de jogos virtuais, mas não há confirmação da teoria por parte da empresa nem do governo dos Estados Unidos.


Independentemente de pressões externas, a decisão da Linden Lab é corajosa, já que ilhas com cassinos são fonte de lucro importante com aluguel de terras. Além de que jogos de azar são as atividades mais populares no metaverso.


‘Mesmo com a popularidade, a decisão foi acertada’, afirma o empresário brasileiro Fábio Marcos de Souza (avatar Fabian Wiefel), gerente de produto da Second Mania. A empresa que dirige em São Paulo, a ASL Consulting, oferece um serviço de fidelização de residentes a partir de troca de linden dollars (o dinheiro do metaverso). ‘Com isso, a Linden sinaliza que há segurança no Second Life para ações corporativas sérias.’’


TELEVISÃO
Antonio Gonçalves Filho


A filosofia e a economia juntas no Fantástico


‘Ao lançar há dois anos o livro O Valor do Amanhã, o economista e filósofo Eduardo Giannetti não se dirigiu ao leitor habitual de sua área, alertando no prefácio tratar-se de uma obra destinada a leigos. A idéia que o animava era bastante simples: ele falaria de juros, sim, mas não da maneira árida como se espera de um economista. O sucesso do livro foi tanto que inspirou uma série de dez programas de curta duração (10 minutos) inseridos no Fantástico, da TV Globo, a partir do próximo domingo. Dirigido pela cineasta Isa Ferraz, a série pretende mostrar como a vida das pessoas – do brasileiro, em particular – é afetada pela falta de planejamento, como se fôssemos exterminadores do futuro. Giannetti parte do princípio que todo ser humano, independentemente de sua conta bancária, é um economista intuitivo. Só que pode estar alocando recursos em lugar errado.


Será, então, um programa para orientar o telespectador a aplicar sua poupança? Não exatamente. A economia, na série baseada em O Valor do Amanhã, é considerada principalmente sob a ótica do comportamento. Giannetti vai falar da escassez de dinheiro, mas em especial da escassez de tempo e cérebro – e como a má administração de ambos pode provocar resultados desastrosos. A realidade dos juros, diz ele, está presente em todas as situações cotidianas em que se dá uma troca intertemporal. Certo é abrir mão de prazeres no presente para não enfrentar sofrimentos no futuro, conselho que parece não ter muita ressonância numa época dominada pelo hedonismo imediatista. Mas é justamente esse seu desafio: provar que a plenitude do corpo jovem se constrói à custa da fraqueza do corpo velho. ‘Viver agora e pagar depois ou plantar agora e colher depois’ é a principal lição de casa que Giannetti vai propor ao telespectador brasileiro.


Se escrever sobre economia para leigos já é difícil, como transformar em imagens um discurso sobre escolhas intertemporais, produtividade, taxas de poupança, contas públicas e crescimento? A resposta vem da diretora Isa Ferraz, especialista em temas complexos – foi dela a idéia de filmar O Povo Brasileiro, série televisiva em dez capítulos baseada no livro do antropólogo Darcy Ribeiro. ‘Será quase um programa de perguntas e respostas com filmes e desenhos que fazem parte do repertório das pessoas, além de imagens inusitadas para estimular a imaginação.’ Uma delas é o cenário euclidiano e algo abstrato desenhado por Hélio Eichbauer em que se move o ator Matheus Nachtergaele, quase uma homenagem ao construtivismo russo do início do século 20.


Como não dá para sustentar um argumento só pelo conceito, Giannetti conta com a intervenção de Nachtergaele para ‘interpretá-los’. Por vezes recorre a fábulas (especialmente a da cigarra e da formiga), histórias bíblicas e à poesia de Rilke para explicar por que tempo é dinheiro. O poeta de língua alemã nascido em Praga, como se sabe, aconselhou jovens aspirantes a retardar a estréia literária e resistir à tentação de produzir sem qualidade. A perseverança traria o saldo para esses jovens poetas, aconselhava Rilke, acompanhando o raciocínio de Baudelaire. Já a ganância e a pressa, como prova o célebre personagem Shylock, de O Mercador de Veneza, rende bem menos juros. Palavra de Shakespeare, outra figura notável evocada na série.


Do lado filosófico, no entanto, quem ganha em citações é o pensador austríaco Wittgenstein (1889-1951), grande influência na obra de Giannetti. ‘Ele provou que a filosofia é a batalha contra o enfeitiçamento da linguagem’, observa, justificando o cuidado com a terminologia para poupar o espectador. O argumento de Wittgenstein, de que toda ação incorpora princípios econômicos, é desenvolvido por Giannetti em campos diversos: passa pela antropologia, biologia, teologia, física e chega ao meio ambiente no último programa da série, que traz como convidado o biólogo americano Edward Wilson.


Wilson é um entomologista especialista em formigas. Estuda o uso de feromônios para comunicação entre esses pequenos insetos. Antes dele pouca gente falava em biodiversidade. Alarmado com o desaparecimento de espécies no planeta, o biólogo puxa uma discussão sobre as relações promíscuas entre aceleração econômica e destruição ecológica. O elenco de convidados inclui ainda nomes de colegas biólogos como Fernando Reinach, um dos coordenadores do primeiro projeto genoma brasileiro, a antropóloga Manuela Carneiro da Cunha, o filósofo e teólogo Mário Sérgio Portela e o psiquiatra Joel Birman, entre outros. Como se vê, os programas podem ser de curta duração, mas trazem longa reflexão sobre como a economia em expansão – que destrói o meio ambiente – nem sempre significa progresso. Os juros que vamos ter de pagar no futuro pela emissão presente de gases venenosos é incalculável.


Um programa comandado por um economista, que trata pouco de finanças e muito de filosofia, pode parecer insólito. Não quando a busca de correspondências e analogias faz com que Giannetti e Isa Ferraz inventem exemplos inauditos para traduzir, por exemplo, a economia de tempo. Até o grande violonista Turíbio Santos é convocado para tocar um prelúdio de Villa-Lobos e ilustrar como a miopia temporal representa uma armadilha. Tempo em música, como se sabe, é um componente fundamental, assim como também nas religiões, que prometem recompensas após a morte. Giannetti vai buscar nelas correspondentes analógicos para explicar que a cobrança de juros não é uma invenção de banqueiros. Muito antes do índice Dow Jones apavorar financistas com a idéia do inferno em Wall Street, o ser humano já sofria com a idéia de pagar juros altos demais pelos pecados que cometeu.


Bem, o perigo de esbarrar num discurso moralista é enorme e Giannetti evita a tentação de dar conselhos. Todos os programas terminam com uma pergunta. ‘É o avesso da auto-ajuda’, garante o apresentador, um intelectual e professor de Cambridge que jamais se imaginou como ídolo popular. Não é lícito esperar que ele agora vire garoto-propaganda. Inspirado em Marx, o economista vai comentar o consumo excessivo e a alienação, combinação explosiva quando a ecologia e o futuro da humanidade estão em jogo. Giannetti, evoque-se, não é marxista. Inclina-se mais para o lado do economista americano Irving Fisher (1867-1947), que ficou milionário aplicando suas teorias econômicas e também faliu por causa delas no crash de 1929.


Ao contrário de Fisher, Giannetti não corre atrás de dinheiro, mas de paz. Escreveu O Valor do Amanhã na pequena cidade de Tiradentes e é para lá que pretende voltar quando a série terminar. Não pensa em se tornar celebridade instantânea. ‘O imediatismo acaba com o Brasil’, diz, observando que somos fruto de três culturas que elegeram o presente como meta: a indígena, a africana e a ibérica. Já o futuro, conclui, ‘responde à força e à ousadia de nosso querer’.’


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A fábula da cigarra e da formiga na terra do sol


‘Por que os ratos e as formigas estocam alimentos para o inverno em quantidades exageradas? La Fontaine encontrou, no século 17, um bom mas insuficiente argumento para justificar as razões de uma formiga previdente esnobar uma cigarra indolente, estocando mais folhas que poderia consumir em sua mísera existência. Já o filósofo e economista Eduardo Giannetti busca, em O Valor do Amanhã (Companhia das Letras, 340 págs., R$ 47), explicações mais razoáveis para o comportamento mimético dos humanos. A avareza e a atitude perdulária são analisadas com igual dedicação em quatro capítulos do livro, que já teve cinco reimpressões. Trata-se de um ensaio acessível sobre a natureza dos juros, presentes, segundo ele, em qualquer forma de troca intertemporal. Sua realidade, defende, não se restringe ao mundo das finanças. Está em todas as esferas da vida, espiritual ou material. Deixa-se de pecar para ganhar o céu. Ou pagar juros a Satã.


Giannetti procura, por meio de exemplos e situações da vida comum, mostrar como tudo se resume a uma troca entre o presente e o futuro. E não só na vida do homem. Ele registra a ocorrência de trocas intertemporais também no mundo natural, buscando as raízes dos juros nos lugares mais insuspeitados, como o fenômeno da fotossíntese. Os juros, conclui, são parte da ordem natural das coisas. Shylock, o vilão de O Mercador de Veneza, teria adorado ouvir isso, mas sofreria de um fenômeno chamado ‘hipermetropia temporal’ por atribuir valor excessivo ao amanhã e subestimar o presente.


Esse é o maior mérito de seu livro: ele não despreza aspectos comportamentais e institucionais. Eduardo Giannetti arrisca indiretamente uma radiografia do Brasil, onde os juros são cronicamente altos e as taxas de poupança extraordinariamente baixas. Como crianças, viveríamos nós apenas para o presente?’


Keila Jimenez


Relíquia à venda Record livra-se do imóvel onde nasceu


‘Pertencente à Record desde 1953, quando nasceu o canal 7 de São Paulo, o prédio onde vinha funcionando a Rede Mulher, no Aeroporto, será vendido. A iniciativa que dará cabo a uma das relíquias da história da TV tem a ver com o lançamento do canal de notícias Record News, previsto para estrear em novembro.


O prédio da Rede Mulher, que cederá seu sinal ao novo empreendimento da Record, está sendo esvaziado.


A Record vende ao mercado publicitário que o Record News será um canal de notícias 24 horas no ar, e com poucas reprises, diferentemente de GloboNews e Band News. Para manter o ineditismo de notícias, a idéia da emissora é contar com a produção jornalística de suas 101 afiliadas.


Mesmo assim, a maior parte do conteúdo do novo canal será produzida na sede da Record na Barra Funda, em dois estúdios ainda em reformas, que foram no passado utilizados para gravações da novela A Escrava Isaura e de games como o Sem Saída.


Apesar de a Record anunciar que contratará 300 profissionais, as aquisições do Record News somam pouco menos de 30 pessoas até agora.


entre-linhas


Eureka, considerada uma das melhores séries de ficção científica atualmente, estréia quarta-feira, às 21 horas, no novo Sci-Fi Channel da Sky.


Muito se falou sobre a possível saída de Cláudia Rodrigues da Globo, com possível convite da TV Record, mas ela tem lá mais cinco anos de contrato a cumprir.


Com nova edição ainda este mês, a Dança no Gelo, do Domingão do Faustão, já tem seu novo elenco anunciado o time é formado por : Luciele Di Camargo, Gisele Itié, Rodrigo Faro, Ícaro Silva, a miss Nathália Guimarães, Luiza Brunet e Tande.


R$ 200, R$ 150 ou R$ 100. Ninguém se entende no Ministério das Comunicações quando o assunto é o preço do conversor de sinal para TV digital.


O AXN exibe hoje, às 21 horas, o último episódio da terceira temporada de Lost, ainda que muita gente já tenha baixado o capítulo da internet.


Sônia Braga está em São Paulo para participar da feira da Associação Brasileira de TV por Assinatura (ABTA), a convite do canal MGM. A atriz contará aos visitantes como foi a experiência de participar do AFI Awards, que homenageou Al Pacino.


Carla Fioroni e Daniel Braggion estão em cartaz no Teatro Bibi Ferreira às quintas-feiras, com a peça Quaquá Pão com Ovo. São vários personagens, todos conectados a um momento da história da televisão.’


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