Os escritórios do Media Matters for America, em Washington, parecem uma redação moderna de jornal. Em poucos passos após a entrada, o visitante se depara com dois cartazes que resumem a obsessão da instituição: ‘A Fox mantém o medo vivo’ e ‘Restabeleça a sanidade, lute contra a Fox’.
Desde que foi criado, há seis anos, o Media Matters for America passou de uma proposta de monitorar toda a mídia conservadora americana para focar apenas na emissora Fox News – embora, por vezes, ataque outras personalidades conservadoras midiáticas, como os radialistas Rush Limbaugh e Michael Savage. Diariamente, uma equipe de jovens pesquisadores analisa vídeos e transcrições de programas de estrelas do canal, como os apresentadores ultraconservadores Glenn Beck e Bill O’Reilly, para encontrar fatos dúbios, contraditórios e perniciosos – pelo menos para o ponto de vista liberal da instituição.
Uma das matérias recentes relatou a doação da Fox de pelo menos US$ 40 milhões em horas de programação para candidatos do Partido Republicano – uma estimativa do valor de tempo usado pelos comentaristas do canal para falar sobre potenciais candidatos presidenciais, como Sarah Palin, Mike Huckabee, John Bolton, Rick Santorum e Newt Gingrich.
Influência na agenda política
Para o fundador do Media Matters, David Brock, a perseguição à Fox reflete não apenas a popularidade da rede entre os conservadores, mas seu poder de estabelecer – e talvez distorcer – a agenda política. Brock e sua equipe veem o canal como mais que o equivalente televisivo de um talk radio.
Segundo eles, trata-se de uma operação política, com um papel de disseminar mensagens conservadoras, apoiar candidatos do Partido Republicano e mobilizar eleitores. ‘Não a considero uma instituição de mídia. É uma instituição política que o executivo-chefe Roger Ailes criou depois que o presidente Barack Obama assumiu o governo. Existimos para rebater suas mentiras e desinformações’, dispara. Brock já foi jornalista e, nos anos 90, era considerado conservador. Na última década, abandonou suas antigas convicções políticas e adotou a tendência liberal.
Briga de cachorro grande
A Fox não se intimida em contra-atacar – para deleite do Media Matters, que mantém um arquivo dos ataques periódicos do canal à instituição. No fogo cruzado, milionários rivais: Rupert Murdoch, de 79 anos, executivo-chefe e principal acionista da News Corporation, proprietária da Fox; e George Soros, de 80 anos, investidor cuja organização filantrópica, o Open Society Institute, fundou diversas organizações que costumam atacar a Fox, entre elas a Media Matters.
Murdoch gastou décadas construindo um império de mídia que batia de frente com rivais como a britânica BBC e as maiores redes de notícias americanas. Soros é um liberal que costuma usar sua fortuna para lutar contra regimes totalitários na Europa e financiar grupos progressistas nos EUA, sendo frequentemente criticado pela Fox.
A rede foi rápida em fazer uma ligação entre uma doação de Soros, no valor de US$ 1,8 milhão, para a National Public Radio, e a demissão do comentarista Juan Williams por conta de afirmações preconceituosas sobre muçulmanos feitas em um programa da Fox News. Após a saída de Williams da rádio pública, O’Reilly e outros apresentadores da Fox lançaram uma série de denúncias contra ela, pedindo ao Congresso que eliminasse seu financiamento federal. Em outubro, Soros doou US$ 1 milhão ao Media Matters, afirmando esperar que o dinheiro fosse usado no combate à retórica incendiária da Fox.
O Media Matters tem uma equipe de 80 profissionais, que trabalham em turnos das 5 da manhã à 1 da manhã. São analisados em torno de 400 comentários e matérias diariamente. Além da contribuição de Soros, a organização recebe doações de liberais conhecidos nos EUA, como Peter Lewis, presidente da Progressive, uma das maiores companhias de seguros do país; e Susie Tompkins Buell, co-fundadora da empresa de vestuário Esprit e aliada da secretária de Estado Hillary Clinton. Informações de Paul Farhi [Washington Post, 2/12/10].