Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Uma tempestade de boatos e fotos falsas

Na era do Twitter, as notícias ruins voam. Mesmo quando as notícias ruins nem são notícias. Durante o furacão Sandy, quando as pessoas tentavam obter dados sobre os prejuízos causados na Costa Leste americana pela tempestade, a desinformação espalhou-se rapidamente pela web. A disseminação de dados falsos foi instigada por jornalistas, que antigamente aprendiam a importância de checar cada fonte. Boatos e fotos alteradas tomaram conta do Twitter e do Facebook, à medida que as pessoas compartilham as histórias mais chocantes – e eventualmente falsas – sobre o poderoso furacão.

Milhões de pessoas que ficaram sem energia na Costa Leste confiaram nas redes sociais para saber como estava sua situação no momento, mas os mais persistentes compartilharam falsas histórias, que contaram com o apoio de organizações de mídia respeitáveis. Em poucas horas, esses boatos eram desmentidos por outros repórteres que tentavam checar a informação. As agências envolvidas, inclusive a Con Edison (empresa responsável pelo fornecimento de energia e gás da região de Nova York) e a MTA (Metropolitan Transit Authority, responsável pelo funcionamento do metrô), também utilizaram seus próprios recursos digitais para dissipar equívocos. “Está havendo uma indústria caseira de mensagens falsas”, disse T.J. Ortenzi, produtor de mídias sociais. “Os trolls são parte da cultura da internet. Alguém está se divertindo disseminando essas coisas.”

Con Edison

  • A Reuters chegou a informar que 19 trabalhadores da Con Edison estavam presos numa estação de energia. A agência disse pelo Twitter que a informação era falsa e um porta-voz, Allan Drury, confirmou que a história não era verídica. Na terça-feira à tarde (30/10), a matéria da Reuters ainda estava na internet. “Ninguém estava preso no edifício”, disse Drury. “Algumas pessoas foram ajudadas a sair, mas provavelmente teriam saído sozinhas.” O prédio a que Drury se referia fica na Rua 13 Leste, próximo ao elevado FDR. Por volta das 20h30 de segunda-feira (29/10), uma explosão no local deixou 250 mil clientes sem serviço. “Não temos certeza do que provocou a explosão”, disse Drury. “Poderia ter sido a enchente que se seguiu ao incrível temporal, assim como poderia ter sido entulho que tivesse danificado nossos equipamentos.”

Um vídeo do fato foi compartilhado nas redes sociais e pelas organizações de mídia, inclusive a Associated Press, que dizia mostrar o momento da explosão. Quanto a uma estimativa do tempo necessário para normalizar o fornecimento de energia às áreas afeitas, Drury disse: “No que diz respeito a todo o nosso sistema, que abrange cinco bairros da cidade e mais o condado de Westchester, a normalização do serviço levará, provavelmente, pelo menos uma semana.”

MTA

O Wall Street Journal divulgou que o presidente da MTA, agência responsável pelo funcionamento do metrô, Joe Lhota, calculara que os metrôs de Nova York ficariam fechados “pelo menos por uma semana”. Isso foi desmentido pela conta do Twitter da agência. Na entrevista coletiva que deu na manhã de terça (30/10), o prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, disse que o transporte público ficara afetado “até novas informações” e acrescentou que um serviço de ônibus limitado voltaria a funcionar terça à tarde até ser completamente normalizado na quarta (1/11).

Bloomberg acrescentou um número mais específico no que se referia à normalização dos serviços do metrô e de energia, dizendo que “se fosse o caso de adivinhar”, poderia levar de três a quatro dias (o metrô) e de quatro a cinco dias (a energia). Segundos após o anúncio feito pelo prefeito, os usuários do Twitter, inclusive jornalistas, compartilhavam os números. A agência repetiu que não havia uma previsão para a normalização dos serviços. Andrew Cuomo, governador de Nova York, deu uma entrevista coletiva após a entrevista do prefeito e anunciou que um serviço limitado de ônibus seria normalizado às 5 horas da manhã de terça (30/10) e que os passageiros não teriam que pagar passagem.

Bolsa de Valores

Um meteorologista disse ao repórter Piers Morgan, da CNN, que o andar do pregão do prédio da Bolsa de Valores de Nova York estava sob 10 metros de água. A matéria ficou vários minutos no ar, com Morgan perguntando a especialistas sobre as implicações que a enchente poderia ter na economia. O correspondente de finanças do programa, Ali Velshi, disse: “Isto terá uma influência sobre a riqueza das pessoas no mundo todo.” Dez minutos depois, a CNN disse que a matéria poderia não term sido confirmada.

Por volta das 20h, um tuíte dizia: “Confirmada enchente na Bolsa de Valores”. A mensagem vinha de alguém que se identificava como Comfortablysmug e foi repetida mais de 600 vezes, alcançando milhões de pessoas. Pela mesma rede social, jornalistas que se haviam comunicado com a Bolsa de Valores de Nova York confirmaram que as informações eram falsas. A história da enchente pegou de surpresa autoridades da Bolsa de Valores que se reuniriam naquela segunda-feira para planejar a reabertura, na terça (30/10).

Antes da chegada do furacão Sandy, foi a vez de fotos adulteradas de tubarões nas ruas de Nova York e imagens antigas da Costa Leste. Usuários do Twitter desmentiram rapidamente algumas das fotos mais chocantes, revelando que estavam sendo divulgadas como reais imagens das ruas, distorcidas pelo Photoshop, do filme-catástrofe The Day After Tomorrow.

Na tarde da segunda (29/10), a repórter Katie Rogers, assim como Alexis Madrigal, da The Atlantic, reuniu algumas das fotos falsificadas com maior circulação e criou um guia prático sobre como descobrir fotos adulteradas e checar outras. Algumas horas após terem surgido no Twitter, grande parte dessas fotos e boatos havia sido desmascarada e condenada. O mesmo, entretanto, não pode ser dito do Facebook, onde a informação é espalhada pelas redes, e não num fórum público. Informações de Amanda Holpuch e Paul Farhi [The Guardian e Washington Post, 30 e 31/10/12]