Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Universidade na luta pela qualidade

A universidade de Oxford, na Inglaterra, planeja criar um instituto de jornalismo, informa a revista The Economist [23/3/05]. A idéia é elevar os padrões do jornalismo britânico. Na semana passada, o vice-chanceler da universidade formou um grupo de trabalho para começar a elaborar o assunto.

Por trás da iniciativa, há um bom número de pesos-pesados do jornalismo do país. Entre eles, estão o ex-diretor de programas de televisão Tim Gardan, o jornalista e professor de Oxford Timothy Garton Ash, representantes da Reuters Foundation, o editor do Guardian Alan Rusbridger e o jornalista John Lloyd, há anos no Financial Times.

Todos eles acreditam que há problemas com a qualidade do jornalismo feito na Inglaterra. As críticas se baseiam em três aspectos específicos. O primeiro é a obsessão da imprensa com as chamadas ‘tolices’ – boa parte dos jornais britânicos dá muito espaço para fofocas e escândalos envolvendo celebridades. Na semana passada, o British Press Award, premiação anual do jornalismo do país, concedeu o prêmio de Jornal do Ano ao tablóide ultra-sensacionalista News of the World. O Furo do Ano foi para uma matéria sobre o adultério cometido por um jogador de futebol. O tom do evento levou alguns editores de conceituadas publicações a começarem a planejar um boicote para o ano que vem.

A segunda crítica diz respeito à intrusão de certos órgãos oficiais, como a Comissão de Reclamações da Imprensa, no conteúdo jornalístico. Recentemente, o jornal Mail on Sunday foi censurado pela Comissão por uma reportagem sobre a adoção de uma criança americana por um ministro britânico e sua mulher. O jornal argumenta que conseguiu detalhes da história médica do casal a partir de um depoimento de um amigo da família, e por isso teria o direito de publicar a matéria.

Finalmente, o terceiro problema é a falta de precisão jornalística. Segundo a Economist, mentiras fabricadas, como as do ex-repórter do New York Times Jayson Blair, que levaram o editor-executivo Howell Raines a pedir demissão em 2003, mal causariam comoção na Inglaterra.

A razão de a imprensa britânica ser tão ‘inculta’? Para a revista, ela está na estruturação do mercado midiático do país. Enquanto nos EUA os jornais locais quase chegam a desfrutar de monopólio, na Inglaterra eles praticamente se estapeiam pela atenção dos leitores – que, por sua vez, parecem estar mais interessados em matérias excitantes e sensacionalistas do que naquelas sóbrias com informações precisas.

Oxford não é a única instituição que se preocupa com os caminhos que a imprensa vem trilhando. Outras universidades, como a London School of Economics, também estão elaborando programas de estudos de assuntos ligados à mídia.