Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Uso da palavra `refugiados´ provoca polêmica

De que você chamaria as pessoas que perderam tudo e só ficaram com a roupa do corpo, sem ter sequer certeza de que serão capazes de retornar um dia a suas casas, e forçadas a construir uma nova vida em um lugar estranho? As empresas de mídia estão lutando para achar a palavra certa, afirma Jocelyn Noveck, da AP [6/9/05]. Muitas delas, incluindo a agência Associated Press, vêm usando o termo ‘refugiado’ para descrever as pessoas que perderam seus lares em conseqüência da passagem do furacão Katrina. Mas a escolha vem despertando fúria em alguns leitores e críticos, em especial da comunidade negra. Eles argumentam que o termo ‘refugiado’, de alguma maneira, expressa que as vítimas do furacão, muitas delas negras, são cidadãos de segunda classe.


Segundo o reverendo Jesse Jackson, é racismo chamar cidadãos americanos de refugiados. Alguns alegam que os termos ‘evacuados’ ou ‘deslocados’ são muito específicos e não suficientemente dramáticos para expressar a situação enfrentada pelos sobreviventes do Katrina. O presidente Bush afirmou que estas pessoas não podem ser chamadas de refugiados, pois são americanos e precisam de ajuda, amor e compaixão de todos os cidadãos americanos.


A Convenção de 1951 das Nações Unidas relativa ao Estatuto dos Refugiados descreve um refugiado como alguém que ultrapassou fronteiras internacionais para escapar da violência ou opressão. Segundo o dicionário Webster New World, o termo é definido mais genericamente como uma ‘pessoa que sai de casa ou do país para procurar refúgio em outro lugar, como em tempo de guerra ou de perseguição religiosa ou política’.


A crítica levou algumas organizações de mídia, como o Washington Post e o Boston Globe, a banir o termo da cobertura do Katrina. A AP e o New York Times decidiram continuar usando a palavra quando considerar seu uso apropriado. A editora-executiva da AP, Kathleen Carroll, considera apropriado o termo para descrever a gravidade deste desastre histórico, que forçou muitas pessoas a procurar refúgio em 30 diferentes estados dos EUA. A porta-voz do Times, Catherine Mathis, diz que o diário não baniu o termo por achar que ele simplesmente define a situação das pessoas que têm de sair das suas casas em busca de abrigo.