O Chartered Institute of Journalists (CIoJ), organização profissional e sindicato de jornalistas londrino, considera que o apelo que emissoras de TV como a ITV, a BBC e a CNN fizeram aos espectadores para que enviassem imagens feitas por câmeras de telefones celulares após os atentados terroristas à Londres é ‘totalmente inaceitável’ e ‘beira a irresponsabilidade’, informa Dominic Ponsford, do Press Gazette [2/8/05].
A organização critica, sobretudo, o programa London News Tonight, da ITV, que anunciou aos telespectadores que possuem celulares equipados com câmeras digitais: ‘Inscreva-se conosco para que possamos contatá-lo quando uma matéria estiver acontecendo na sua área, porque queremos que você, telespectador, sinta-se parte do excitante mundo do jornalismo’. A emissora ainda deixa bem claro que não pagará por nenhum material recebido e que as imagens enviadas poderão ser repassadas para outros órgãos sem que haja qualquer pagamento ao respectivo autor.
Em comunicado, a organização declara que a utilização de imagens de fotógrafos ou cinegrafistas amadores que estavam no local de um acontecimento sempre foi aceitável. No entanto, a tentativa que agora se faz de encorajar os espectadores a sair para obter imagens e entregá-las às emissoras é um tipo de exploração.
A organização também acusou a BBC de apoderar-se dos direitos de imagens do material enviado por amadores – atitude que pode ser extremamente lucrativa se as imagens forem repassadas para outras emissoras. A CNN é vista pelo CIoJ como o exemplo máximo da exploração, pois além de esperar que lhe seja enviado material sem pagar por ele, declara em seu sítio de internet que os autores são responsáveis por ‘indenizar, defender e proteger a CNN de todas as ações ou perdas’ que resultem das filmagens.
Comportamento de risco
Não apenas as fotos tiradas por sobreviventes das explosões de 7/7 em Londres, como também as do acidente sem vítimas com um avião da Air France, que pegou fogo ao aterrissar durante uma tempestade em Toronto, no Canadá, na terça-feira (2/8), estão preocupando investigadores de segurança e acadêmicos de comunicação, reporta Mark Memmott, do USA Today [5/8/05].
Eddie Ho, de 19 anos, estava no avião da Air France e vendeu as fotos que tirou com sua câmera digital para sindicatos de jornalistas, que repassaram as imagens para diversos veículos de comunicação. Uma delas foi tirada dentro do avião momentos depois do acidente em Toronto e mostra passageiros em direção à saída. As outras foram tiradas do lado de fora da aeronave e mostra os passageiros escapando da fuselagem deteriorada.
De acordo com uma pesquisa de mercado realizada pela IDC, metade das casas americanas possui câmeras digitais e 40% delas têm celulares equipados com câmeras. Com a multiplicação destes equipamentos, algumas questões são levantadas sobre o aumento do risco das vítimas ao pararem para tirar fotos e sobre a atitude da mídia, ao encorajar um comportamento de risco quando divulga as imagens amadoras. Do outro lado do debate, há a alegação de que tais fotos também podem ser úteis na investigação dos casos.
Mark Rosenker, diretor do Conselho de Segurança no Transporte do Reino Unido, disse que é irresponsável tirar fotos em situações nas quais pessoas precisam de ajuda. Helen Muir, professora de psicologia aeroespacial da Universidade Cranfield, no Reino Unido, alega que, na maioria dos incêndios em avião, em apenas dois minutos da primeira centelha o passageiro já não tem mais condições de sobreviver na cabine. Entretanto, ela acredita que as fotos podem ser úteis nas investigações de acidentes. Para Kelly McBride, professora de ética na mídia do Poynter Institute, nos EUA, é responsabilidade da mídia recusar a divulgação de fotos tiradas por amadores em situações com risco de vida.