Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Veja

CONTEÚDO NA REDE
Carlos Rydlewski

O Google cedeu

‘Na semana passada, o Google anunciou que cogita restringir a cinco por dia o número de notícias que cada pessoa pode acessar por meio de sua ferramenta de busca. Foi uma resposta inesperada aos protestos de empresas de comunicação que se avolumam em todo o mundo. Para os grupos jornalísticos, produzir informação qualificada tem um custo elevado. Para sites como o Google, essa mesma informação tem custo zero. Eles a difundem de graça, sem remunerar a fonte original. A longo prazo, dizem as empresas de comunicação, isso é uma receita para a sua morte. O crítico mais incisivo desse estado de coisas é o australiano Rupert Murdoch, dono da News Corp., um conglomerado que reúne desde os canais de TV da Fox até jornais como o Wall Street Journal. Murdoch decidiu se contrapor frontalmente ao Google. Negocia com a Microsoft, por exemplo, a formalização de um acordo inédito. A empresa de Bill Gates pagaria pelo direito de exibir com exclusividade, em seu site de buscas, o Bing, os links das publicações da News Corp.

Também na semana passada, em um congresso da Associação Mundial de Jornais (WAN, na sigla em inglês) realizado na Índia, o presidente da entidade, Gavin O’Reilly, reafirmou, de maneira categórica, a posição de Murdoch. ‘Ser capaz de obter retorno comercial é algo essencial para justificar nosso investimento em conteúdo. Foi para isso que o direito autoral foi inventado há 300 anos. Não queremos migalhas do Google’, disse. Há anos, O’Reilly define como ‘cleptomaníaca’ a atitude do site de buscas em relação aos direitos autorais da mídia. Agora, porém, a situação é agravada por um quadro pouco animador para a imprensa tradicional. Nos Estados Unidos, nos seis meses entre abril e setembro, a circulação de jornais caiu 10,6% de segunda a sábado e 7,5% no domingo.

Depois do anúncio sobre as possíveis novas regras para o acesso a notícias no site, o presidente do Google, Eric Schmidt, publicou um artigo sobre o tema no próprio Wall Street Journal, de Murdoch. No texto, reconheceu que reportagens bem apuradas e análises precisas são críticas para o funcionamento da democracia. Tentou ainda demonstrar que o Google não é um inimigo das empresas jornalísticas, mas uma ‘fonte para a sua promoção’. Segundo Schmidt, os serviços do Google direcionam, ‘gratuitamente’, 4 bilhões de cliques mensais a sites de notícias. ‘São 100 000 oportunidades por minuto para a conquista de leitores e a criação de receita’, escreveu. Schmidt disse que o Google está pronto a ‘fazer a sua parte’ e ajudar a encontrar um novo caminho para o jornalismo na era digital. Esses gestos de boa vontade foram recebidos com algum ceticismo. Em tempos de crise, é difícil convencer os grupos jornalísticos a contentar-se com ganhos futuros – e, ainda assim, hipotéticos.’

 

TELEVISÃO
Marcelo Marthe

Veneno contra a crise

‘Na última terça-feira, a gravação de uma cena com a venenosa Isabel (Adriana Birolli) animou os bastidores da novela Viver a Vida. Na sequência (prevista para ir ao ar nesta segunda-feira), a jovem quebra a monotonia de um café da manhã ao perguntar à mãe se, durante suas gestações, ela exibia uma beleza tão radiante quanto a que vem sendo demonstrada pela mulher de seu ex, Helena (Taís Araújo). Tereza (Lilia Cabral) responde que ficou linda, sim, na gravidez da filha mais velha – mas se tornou um monstro quando esperava Isabel. ‘Minha pele descascou e virei uma baleia’, contou. As atrizes erraram a cena várias vezes – pois não conseguiam conter as gargalhadas. O tranco levado por Isabel provocou reações no estúdio: técnicos bradavam ‘tomou, papuda?’. ‘Falam que a Isabel é maldosa. Eu prefiro não julgá-la’, declara sua intérprete, uma curitibana de 23 anos que encontrou na vilãzinha o seu primeiro papel de destaque. Sondagens com espectadores mostram que as tiradas cruéis de Isabel repercutem entre os espectadores. A trama de Manoel Carlos, porém, segue empacada num ibope bem abaixo da faixa dos 40 pontos na Grande São Paulo, limiar considerado insatisfatório pela Globo.

‘Isabel transformou a amargura numa franqueza radical’, diz Manoel Carlos. No último sábado, a jovem levou seu primeiro corretivo, por ter escondido da mãe um vídeo que Luciana lhe mandara de presente. Tereza abordou-a de surpresa na saída do banho e a cobriu de cintadas no lombo. Isabel não chorou. ‘Ficar peladona foi o de menos. Meu desafio era apanhar sem perder a altivez’, diz Adriana. A atriz começou no circuito de teatro infantil de Curitiba com apenas 8 anos. Mudou-se para o Rio de Janeiro em 2007 para cursar a oficina de talentos da Globo – onde, ao que consta, era tratada como patinho feio por não se enquadrar no protótipo reinante da modelo-atriz. A moça é baixinha, e sua voz rouca, embora sexy, não se enquadra bem no padrão Globo de fonoaudiologia. Mesmo assim, ela saltou de uma ponta como jovem emo no folhetim Beleza Pura, no ano passado, para Viver a Vida. ‘A Adriana tem os mesmos olhos e a mesma energia da Lilia Cabral. Isso pesou na escolha’, diz o diretor Jayme Monjardim.

O próximo passo de Isabel será surrupiar o namorado da médica vivida por Daniele Suzuki – Manoel Carlos adianta que esse romance vai ‘abrandar’ sua crueldade. Na gravação da semana passada, contudo, a própria Adriana ainda não tinha noção de como seriam suas próximas cenas. Normalmente, os capítulos de uma novela das 8 são gravados com cerca de vinte dias de antecedência. Na atual, essa margem caiu para uma semana, ou menos. Manoel Carlos é famoso por escrever em cima da hora. Ao contrário da maioria dos noveleiros, redige tudo sozinho. ‘É o meu jeito’, diz. Mesmo para seu padrão, porém, o autor vem em marcha lenta (vale lembrar que, aos 76 anos, ele não esconde o desejo de se aposentar depois da novela). Se em trabalhos anteriores a ‘seca’ de novos capítulos começou a incomodar quando a trama se aproximava do final, desta vez ela se instalou antes da metade da história. Não é nada que se compare à crise que afetou a novela Esperança, de Benedito Ruy Barbosa, que desmoronou por causa dos atrasos. Não, ainda não é o Benedito. Mas, aos atrasos, soma-se a preocupação, na Globo, com o andamento da trama, muito carregada nas tintas dramáticas e demasiado lenta. A acidez de Isabel é um dos poucos elementos que agitam a história. Pensa bem, Manoel. Deixa a moça má…’

 

Marcelo Marthe

O verdadeiro impostor

‘Na final do campeonato francês de futebol de 2002, Rémi Gaillard desfilou no gramado ao lado dos campeões do FC Lorient. Sem nunca ter chutado uma bola, ele levantou a taça, deu entrevistas e foi parabenizado pelo então presidente do país, Jacques Chirac. A farsa fez do humorista uma figura popular na França. Gaillard, de 34 anos, também já se passou por um jogador profissional de tênis e por um fortão num concurso de Mister Universo. Suas estultices tornaram-se um fenômeno na internet: disponíveis de forma gratuita no site do comediante, o Nimportequi.com, seus vídeos foram vistos quase 500 milhões de vezes. Gaillard acaba de chegar à TV brasileira. Há duas semanas, seus quadros vêm sendo exibidos pelo Fantástico.

Na noite em que o francês aportou na Globo, um dos diretores do Pânico, da RedeTV!, postou no Twitter: ‘Hoje o Fantástico nos copiou muito’. Os dois programas travam uma batalha pelo ibope no domingo. A aposta em Rémi Gaillard é uma clara tentativa do Fantástico de recuperar o terreno perdido para o concorrente entre o público jovem. Mas falar em cópia não vem ao caso. Se alguém fez cópia, foi a atração da RedeTV!. O Pânico emula as farsas de Gaillard num de seus quadros mais famigerados, O Impostor, em que o humorista Daniel Zukerman busca entrar sob disfarce em eventos oficiais e festas de celebridades. O quadro estreou neste ano – e, além de sua premissa ser idêntica à seguida pelo penetra francês desde o início da década, o brasileiro incorporou sua alcunha. Gaillard é o ‘Impostor’ original.

Em outubro, o Pânico pisou na bola ao demonstrar docilidade servil a um político. O senador petista Eduardo Suplicy pressionou o programa a não exibir imagens dele com uma sunga vermelha no Congresso Nacional – e o Pânico se impôs uma desnecessária autocensura. Algo que contrasta com o jeito impiedoso de seus concorrentes do CQC. Na semana passada, a atração da Band levou ao ar imagens do petista José Genoino agindo de forma destemperada. Ao ser abordado pelo repórter-comediante Oscar Filho, Genoino lhe deu uma cotovelada e vociferou: ‘Vocês só fazem violência contra as pessoas’. O rompante trai sua visão autoritária: cabe aos humoristas, sim, cutucar os políticos. ‘Vários perdigotos me atingiram. Mas eu entendo: talvez ele temesse perguntas sobre o mensalão’, diz Oscar Filho. Ao não reconhecer que Gaillard lhe serviu de inspiração, o Pânico tropeçou. É o segundo tropeço recente.’

 

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