Em visita à China, o vice-presidente dos EUA, Joe Biden, queixou-se com autoridades locais sobre a recente campanha do governo contra a imprensa americana. Dezenas de correspondentes internacionais na China correm o risco de não ter seus vistos renovados. No país, Biden encontrou-se com jornalistas ameaçados de expulsão e trouxe o assunto à tona nas três reuniões que teve com autoridades chinesas, incluindo o presidente Xi Jinping.
Nove jornalistas do New York Times e ao menos 14 da Bloomberg News enfrentam a possibilidade de não ter seus vistos renovados até o fim do ano, quando eles e suas famílias seriam forçados a deixar o país. Outros veículos, como o Washington Post, também podem ser afetados pela campanha.
A tensão é originada pela irritação do governo chinês com reportagens sobre casos de corrupção envolvendo membros do Partido Comunista. O repórter do New York Times David Barboza ganhou um Pulitzer, este ano, por uma reportagem sobre o tema. Segundo a editora-executiva do Times, Jill Abramson, autoridades chinesas reclamaram para o jornal sobre essas matérias, considerando-as “injustas e desrespeitosas com a China”.
Jill defendeu os artigos e disse que seu jornal está “preparado para cobrir a China” da forma que for possível, mesmo se seus jornalistas forem expulsos. No entanto, ela afirmou que o diário “está ansioso para trabalhar com as autoridades chinesas para renovar nossos vistos, assim como nos anos anteriores”.
Nolan Barkhouse, porta-voz da embaixada dos EUA em Pequim, afirmou que oficiais americanos repetidamente levantaram suas preocupações com as autoridades chinesas sobre o atraso na renovação de vistos, as restrições ao acesso de jornalistas a lugares e a indivíduos e o bloqueio de sites de organizações de mídia ocidentais.
Autocensura
Foi uma matéria do New York Times publicada no mês passado sobre uma suposta prática de autocensura na Bloomberg News que parece ter levantado novamente a discussão sobre a falta de liberdade de imprensa na China. Segundo o Times, funcionários relataram que a agência de notícias teria cancelado duas de suas reportagens sobre corrupção no país por temer pôr em risco suas operações locais.
A Bloomberg, por sua vez, nega que tenha vetado a publicação de alguma matéria. O jornalista que apurava uma das reportagens acabou suspenso e posteriormente deixou a empresa, mas o motivo não foi explicado. No fim de novembro, as sucursais da agência em Pequim e Xangai sofreram inspeções surpresa de autoridades chinesas. As visitas foram identificadas como inspeções de segurança, mas jornalistas as classificaram de uma tentativa de intimidação.