A jornalista italiana Giuliana Sgrena apareceu numa gravação, divulgada na quarta-feira (16/2), em que pede que as tropas estrangeiras deixem o Iraque. Repórter do jornal Il Manifesto, Giuliana foi seqüestrada em 4/2, em Bagdá.
‘Todos devem sair do Iraque’, diz ela na filmagem, em italiano e francês. ‘Ninguém deve vir mais para o Iraque porque todos os estrangeiros são considerados inimigos. Por favor, façam algo por mim’, implora, chorando, a jornalista.
Em determinado momento da gravação, que não tem data, Giuliana pede a ajuda da família. ‘Minha vida está em suas mãos. Ponham pressão no governo’, diz ela. O ministro das Relações Exteriores italiano, Gianfranco Fini, deixou claro que a Itália não retirará suas tropas do Iraque. ‘O governo continuará a fazer tudo o que pode para conseguir a libertação da refém sem alterar as estratégias política e diplomática que têm sido adotadas até agora’, afirmou ele em declaração à imprensa. Horas depois da divulgação da fita com a súplica da jornalista, o Senado italiano aprovou a permanência de seus soldados no Iraque até o fim de junho.
O vídeo foi entregue à agência de notícias Associated Press. Nele, Giuliana está mais magra e aparece sozinha. No canto superior esquerdo da imagem, é mostrada a frase ‘Mujahadin [guerreiros santos] sem fronteiras’.
A jornalista, que não apoiava o envio de soldados italianos ao Iraque, é a oitava cidadã italiana a ser seqüestrada no país. Em agosto do ano passado, o também jornalista Enzo Baldoni foi capturado e assassinado.
Segundo a organização Repórteres Sem Fronteiras, 47 profissionais da imprensa foram seqüestrados no Iraque desde o começo da guerra, em 2003.
Comoção
Milhares de pessoas participaram de passeata no sábado passado (19/2), em Roma, pela libertação de Giuliana. Não há números oficiais, mas estima-se que cerca de 200 mil pessoas estiveram presentes ao protesto. Organizada pelo Manifesto, participou também o pai da jornalista, Franco Sgrena, que, num desabafo, disse que aquele era o ‘melhor momento de dias de muita angústia’. Os manifestantes pediram também a libertação da jornalista francesa Florence Aubenas, do jornal Libération, e de seu intérprete, o iraquiano Hussein Hanoun Al Saidi, desaparecidos há mais de um mês.
Na segunda-feira (14/2), cerca de 30 cantores participaram, em Paris, de um show de apoio à libertação de Florence e Al Saidi. Os dois foram vistos pela última vez ao deixarem seu hotel, em Bagdá, em 5/1. O show foi organizado pelo Libération e a RSF, e homenageou também Giuliana e outros profissionais seqüestrados ou desaparecidos no Iraque.
O cantor francês Charles Aznavour afirmou ter esperança na soltura das jornalistas. ‘Nós precisamos falar disso, e pouco a pouco faremos com que os seqüestradores se sintam envergonhados, e talvez possamos dar a eles algum senso de humanidade para que nos devolvam o que tiraram de nós’, discursou ele. Informações da Reuters [14 e 16/2/05] e AP [19/2/05].