Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Vídeos do ISIS apresentam dilema ético para a imprensa

A Fox News foi a única emissora americana a divulgar integralmente – em seu site – o vídeo da morte brutal do piloto jordaniano Muadh al-Kasasbeh, queimado dentro de uma jaula por militantes do Estado Islâmico (ISIS). O grupo terrorista exigia que a Jordânia entregasse a extremista iraquiana Sajida al-Rishawi em troca do piloto, capturado depois que seu avião foi derrubado na província de Raqqa, na Síria, em dezembro. Após o vídeo com a morte de Muadh al-Kasasbeh, a Jordânia anunciou que executou a extremista.

O ISIS divulgou o vídeo na internet na terça-feira [3/2]. O YouTube removeu o link horas depois de ser postado no site de compartilhamento de vídeos, e o Facebook declarou que, se alguém o distribuísse na rede social, também seria derrubado.

Diversos veículos de comunicação de diferentes países optaram por mostrar apenas fotos do crime. A Fox News não exibiu as imagens na TV – em vez disso, o âncora Shep Smith descreveu-as em detalhes para os telespectadores. O canal optou por publicar o vídeo inteiro – com duração de 23 minutos – em seu site.

Divulgação fortalece o terror

Analistas de terrorismo criticaram a decisão. Segundo Malcolm Nance, especialista em contraterrorismo e extremismo radical, ao postar o vídeo a Fox News fez exatamente o que o ISIS queria: propagá-lo. “O valor do terror é usar a mídia para espalhar terror”, diz ele, que dirige um think tank em Hudson, Nova York.

Rick Nelson, especialista em segurança nacional e terrorismo no Centro de Estratégia e Estudos Internacionais, em Washington, concorda: o ato de publicar o vídeo dá mais poder ao ISIS. “Eles são uma organização terrorista. Eles querem atingir os corações e mentes das pessoas globalmente, e, ao perpetuar estes vídeos e os colocar na internet, certamente se está expandindo a audiência e os efeitos potenciais”, diz. “Estes grupos precisam de uma plataforma, e isso dá a eles uma plataforma”.

Em artigo no New York Times, o repórter Ravi Somaiya afirma que, mais uma vez, a divulgação de um vídeo do ISIS representa um desafio ético para veículos jornalísticos. Nos EUA, o New York Daily News publicou uma imagem em que o piloto aparece sendo tomado pelas chamas. O BuzzFeed postou uma série de fotos, com o fogo se aproximando da vítima. O site declarou que, apesar de adotar a política de evitar publicar imagens explícitas, acredita que não exista uma “barreira protetora artificial entre as notícias e os leitores”.

A maior parte da imprensa americana, no entanto, optou por usar imagens do começo do vídeo, quando Kasasbeh ainda não havia sido atingido – o New York Times publicou uma foto do piloto ainda fora da jaula, com a roupa cor da laranja de presidiário, com os militantes atrás dele. Já o Washington Post, em seu site, estampou uma foto do jordaniano vestido com seu uniforme militar. Reuters e Associated Press usaram a mesma fotografia, em que a família do piloto aparece segurando uma imagem dele em uma passeata pela sua soltura.

“Leitores curiosos podem encontrar fotos ou vídeos abomináveis ou ofensivos em seus telefones em segundos. Desta forma, censurá-los em sites de notícias tem pouco impacto”, escreve o jornalista do Times. “Mas o ISIS, em particular, alimenta-se de propaganda, buscando atrair novos devotos com a promessa de uma guerra religiosa brutal e urgente. Ele precisa de uma cobertura forte”.