O escândalo de invasão de privacidade dos clientes da Bloomberg pelo serviço de notícias da empresa não chegou a surpreender seus funcionários. O monitoramento de clientes – em sua maioria bancos e corporações que pagam por dados atualizados do mercado financeiro – não foi visto com estranhamento por causa da excessiva vigilância das atividades dos próprios funcionários da Bloomberg.
A análise da política interna do grupo pode responder a algumas questões que persistem mesmo após executivos terem admitido e pedido desculpas pelo incidente. “A cultura de vigilância é bem forte lá dentro. Existem 450 câmeras no edifício, você deve mostrar o crachá na saída e na entrada. O horário em que você sai e entra é exibido para qualquer um que procure por você no sistema”, conta um ex-repórter da empresa.
Anos de costume com o monitoramento podem ter ajudado a invasão de privacidade de clientes parecer perfeitamente aceitável, avalia o editor John Carney em artigo no site da CNBC [14/5]. “Eles estão fazendo isso internamente há tanto tempo que pensam que é normal”, diz outro antigo funcionário. “Isso assume proporções exageradas para as pessoas que não entendem que nada que você faz no trabalho é realmente privado”, completa um atual empregado. “Isso é muito Bloomberg. Use qualquer informação disponível. Persiga agressivamente uma notícia. Combine essas coisas e você tem um caso de invasão de privacidade”, resume um terceiro ex-funcionário.
Fora de Wall Street, no entanto, eram poucos os repórteres que se aproveitavam das informações disponíveis nos terminais de informações fnanceiras da Bloomberg, porque outras indústrias não os usam tão intensamente. “Se você estivesse cobrindo empresas não financeiras, elas não possuíam terminais, então você não se importava com esse tipo de coisa”, explica outro repórter.
Jornalismo não é o foco da Bloomberg
Algo quase unânime entre os funcionários é a refutação de que algumas reportagens teriam sido corrompidas pelo fato de jornalistas estarem presentes em reuniões para a venda de terminais. “Isso é mentira. Existe uma separação sólida entre vendas e reportagens. A Bloomberg é séria sobre sua integridade jornalística”, declarou um ex-jornalista da empresa.
Dois antigos repórteres da Bloomberg citam um outro aspecto do escândalo: a velocidade com que ele se voltou contra os repórteres é um sinal de que o foco da empresa é a venda de informações financeiras, não o jornalismo. Tunku Varadarajan, pesquisador da Universidade de Stanford e ex-editor da Newsweek, concorda: “o que o tumulto realmente faz é iluminar a guerra velada entre o setor de vendas e o setor jornalístico da Bloomberg. A venda de terminais é o rei, o jornalismo é o valete. Qualquer coisa que comprometa as vendas é um sacrilégio, o que explica por que os executivos defendem tanto os terminais, mas não se importam em culpar o setor jornalístico”.
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