A redes americanas de notícias, graças a eventos como a invasão do Iraque e as eleições presidenciais, registraram consideráveis aumentos de audiência ao longo de 2004. A que mais cresceu foi a líder Fox News, deixando ainda mais para trás a segunda colocada CNN, pioneira do jornalismo 24 horas. O presidente dessa emissora, no entanto, faz pouco caso da dianteira assumida pela rival Fox News. Em entrevista para The Independent [6/12/04], Jim Walton insiste que é melhor manter uma postura ‘independente’ e um público qualificado do que trilhar o rumo do discurso conservador da concorrente, que apela a um público menos selecionado, e, portanto, menos interessante para anunciantes. ‘Temos de ser pensadores independentes, temos de ser provocativos, temos de questionar e vamos chatear algumas pessoas no meio do caminho’, comenta Walton.
O presidente da CNN assumiu o posto há dois anos e considera que pode voltar a alcançar a Fox News, apesar de afirmar que isto não é tão importante. O que ele deixa bem claro é que não pretende transformar a cara do jornalismo da CNN. Sinal disso foi sua decisão de tirar do ar o programa de Connie Chung, substituindo-o por uma atração mais séria. ‘Se fosse só uma questão de índices de audiência mais altos, poderíamos fazer as coisas de forma diferente. Poderíamos ser mais sensacionalistas. Poderíamos ser mais como um tablóide ou mais opinativos, e nossos índices iriam subir, mas a qualidade do público cairia’.
Um diferencial da CNN com relação à Fox News é que se trata de uma rede internacional. Enquanto o canal de Rupert Murdoch é produzido para o mercado americano, a rede dirigida por Walton pode, em teoria, atingir 1 bilhão de pessoas pelo mundo. De fato, apesar de estar ficando para trás no segundo lugar, dados financeiros apontam que a emissora deve ter lucro recorde de US$ 220 milhões em 2004. ‘Há uma certa quantidade de classe associada à CNN’, orgulha-se Walton.
Enquanto a CNN tenta diminuir a importância da liderança da Fox News, Bill O’Reilly, o polêmico apresentador do canal conservador, a utiliza como argumento para mostrar que a grande mídia americana, de tendência liberal, está desligada do público. Em sua coluna no New York Daily News [6/12/04], ele comenta que a maioria das pessoas em cargos de decisão na imprensa dos EUA cresceu na época do movimento de oposição à guerra do Vietnã, nos anos 60, e que, portanto, seus princípios não são os mesmos dos da maioria atualmente. ‘Os americanos tradicionais e conservadores muitas vezes sentem que são pouco correspondidos pelos serviços jornalísticos nacionais, que falam para a elite e enxergam o mundo de um ponto de vista de Manhattan ou Georgetown. O povo de Tupelo, no Mississipi, percebeu que seus valores não importam no Rockefeller Center’, escreve O’Reilly, que atribui a este fenômeno o crescimento da Fox News e a queda de suas rivais.