O provedor e portal de internet Yahoo! foi acusado pela organização Repórteres Sem Fronteiras, na semana passada, de ajudar as autoridades chinesas na localização e detenção do jornalista Shi Tao, condenado a 10 anos de prisão em abril por ‘divulgar segredos de Estado ao exterior’. De acordo com a organização, o portal teria colaborado ativamente com a investigação do jornalista, ex-editor do extinto jornal Contemporary Business News na província de Hunan. Ele teria remetido para sítios de internet de outros países, por e-mail, uma nota interna das autoridades chinesas enviada a veículos de comunicação do país em 2004 sobre os perigos em torno da divulgação do aniversário de 15 anos do Massacre da Praça da Paz Celestial. Este texto era considerado ‘segredo de Estado’ pelo governo, e sua divulgação serviu para a condenação de Tao.
Em comunicado, uma porta-voz do provedor afirmou que ‘como empresa internacional, o Yahoo! deve certificar-se de que seus sítios locais operam de acordo com as leis, regulamentações e costumes do país em que estão sediados’. O co-fundador da empresa, Jerry Yang, disse em um fórum online no sábado (10/9) que o Yahoo! foi compelido por ‘uma ordem legal’ de autoridades chinesas a divulgar a direção IP, ou bloco de rede, que identifica o local de onde Tao registrou a informação na internet – ou seja, de onde o jornalista enviou o e-mail – e que não daria mais detalhes sobre o caso.
Em fevereiro, o Comitê para Proteção dos Jornalistas, organização com sede nos EUA, divulgou relatório em que apresenta a China, pelo sexto ano consecutivo, como o país com o maior número de jornalistas encarcerados – hoje, são 42. A China não tem leis que protejam o direito à informação privada, o que torna mais fácil para a polícia pedir a empresas como o Yahoo! que forneçam evidências associadas a um possível crime. A empresa-sede do Yahoo!, na Califórnia, criticou a censura do governo da China a sítios de notícias e blogs.
A RSF manifestou-se contra a atitude da divisão chinesa do Yahoo! e acusou a empresa de estar cada vez mais ligada ao governo chinês. Segundo a ONG, Tao é um ‘bom jornalista que pagou por tentar transmitir informações para o exterior’. Lucie Morillon, porta-voz da RSF em Washington, afirmou que a prisão do jornalista só foi possível com a cooperação do Yahoo!. Com informações de Alexa Olesen [AP, 6/9/05], Jane Macartney [The Times, 8/9/05], John Ruwitch [Reuters, 8/9/05] e Elaine Kurtenbach [AP, 10/9/05].