Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Perspectivas inovadoras para a compreensão textual

Durante muito tempo, o conceito de texto esteve intimamente ligado à linguagem verbal [leia-se, escrita]. Isto é, para que um determinado material linguístico fosse alçado à condição texto, deveria ser construído com base na linguagem escrita. Não estamos dizendo aqui que a linguagem não-verbal [leia-se, imagem] não se fazia presente nos materiais textuais. Contudo, o tratamento dado à linguagem não-verbal ainda não contemplava a construção de sentido face o texto imagético.

Em face desse conceito de texto que tinha como foco apenas a palavra, a leitura era alçada à condição de decodificação de conteúdos e informações. De acordo com Barbosa & Souza (2006), o ensino dessa competência linguística primava por práticas mecânicas de reprodução, focando em atividades que priorizavam a localização, a extração e, em especial, a reescrita de pequenos fragmentos/trechos de textos. Ora, o ato de ler pautava-se, única e exclusivamente, no plano verbal exposto na superfície do texto. Excluía-se, assim, a linguagem não-verbal e uma gama de elementos discursivos que compõem o plano visual.

Bentes (2001) e Feres (2002) demonstram o fato de, nos anos de 1980, a Linguística de Texto e/ ou Teorias do Texto, por meio de seus postulados, produzirem um novo conceito de texto enquanto sentido, ou melhor, enquanto unidade de sentido. Na ótica de Xavier (2006), o conceito de texto passa, então, a abarcar todas as práticas comunicativas construídas com base na linguagem escrita, oral e imagética. Esse novo conceito de texto inclui a imagem na construção linguística do texto. Ora, se antes a noção de texto estava, única e exclusivamente, condicionada e determinada pela escrita, agora, tal noção cai por terra.

Elementos linguísticos, discursivos e semióticos

É nesse contexto que se fala em Multimodalidade. No dizer de Dionísio (2005), o conceito de multimodalidade diz respeito às mais distintas formas de construção linguística e de apresentação da informação/ mensagem (DIONISIO, 2005). Essa diversidade de formas se dá, por intermédio da articulação/ junção entre palavras e imagem. Em outras palavras, cores, imagens, o formato/ tamanho das letras, a disposição da grafia e das ilustrações presentes na superfície textual etc.. Todos esses traços e marcas multimodais evidenciam a pretensão comunicativa do texto e, sobretudo, contribuem de forma significativa para a elaboração de significação por parte do leitor.

Emergem, desse modo, os textos multimodais, que lançam mão da diversidade de modos de construção, pautando-se, para isso, na articulação entre/ junção entre o âmbito verbal e visual [leia-se, escrita e imagem]. Ou seja, as mais distintas formas de linguagem. São exemplos que ilustram esse tipo de texto: Anúncios, Charges, Histórias em Quadrinhos – HQs, Propagandas, Tirinhas, Pinturas, Imagens, Ilustrações etc. A leitura assume, dessa maneira, a “Perspectiva de Produção de Sentido face o Texto” (KOCH & ELIAS, 2006), sejam tais textos escritos e/ ou imagéticos.

Nesse sentido, a inserção de aspectos e traços multimodais na construção linguística do texto traz à tona novas posturas para a compreensão textual, na medida em que a construção de efeitos de sentido face o texto transcende a palavra, abarcando, assim, a grande diversidade de elementos linguísticos, discursivos e semióticos presentes na superfície textual.

Referências

BARBOSA, M. L. F. F.; SOUZA, I. P. Práticas de leitura no Ensino Fundamental. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.

BENTES, A. C.. “Linguística textual”. In: MUSSALIM, F.; BENTES, A. C. (Org.). Introdução à Linguística: domínios e fronteiras. São Paulo: Cortez Editora, 2001.

DIONISIO, A. P.“Multimodalidade discursiva na atividade oral e escrita” (atividades). In: MARCUSCHI, L. A. (Org.); DIONISIO, A. P. (org.). Fala e Escrita. Belo Horizonte: Autêntica, 2005.

FERES, B. S. “Estratégias de leitura, compreensão e interpretação de textos na escola”. In: Anais do VI Congresso Nacional de Linguística e Filologia, Rio de Janeiro/ RJ, CiFEFil, 2002.

KOCH, I. G. V.; ELIAS, V. M. Ler e compreender: os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2006.

XAVIER, A. C. S.. Como se faz um texto: a construção da dissertação argumentativa. Catanduva: Rêspel, 2006.

******

Silvio Profirio da Silva é graduando em Letras pela Universidade Federal Rural de Pernambuco