A escola pública com que sempre sonhei, sem imaginar que existisse na Zona Leste de São Paulo. Não precisei atravessar o Atlântico nem pegar avião. A 20 minutos de carro da estação Itaquera do metrô encontrei a Escola Estadual Jardim Iguatemi, que me deixou em êxtase durante vários dias. E ainda agora.
Fui convidado em abril de 2005 para participar do Simpósio de Educação Científica organizado pela escola, a realizar-se em junho. Aceitei sem pensar duas vezes. Mas, depois, tentei imaginar dezenas de vezes o que me aguardava. Infelizmente, o nosso imaginário com relação à escola pública brasileira, alimentado pela mídia e por experiências diretas ou indiretas, traz imagens preocupantes. E por se tratar de uma escola na periferia de São Paulo, preparei-me para não encontrar o melhor.
E encontrei o melhor dos mundos possíveis. Suzy Ribeiro, a diretora, contou-me dezenas de iniciativas, episódios, tudo registrado com fotos que mostram uma grande vontade de acertar e, mais do que isso, acertos reais!
Perguntei-lhe sobre evasão, violência, gravidez precoce… e todos os indicadores indicam que eu estivera errado ao imaginar aquela escola calamitosa de que falava Darcy Ribeiro em um de seus livros. Os banheiros limpíssimos, as carteiras conservadas, o muro externo sem pichação. Os alunos, na maioria adolescentes compenetrados (e não aborrecidos nem aborrecentes), o corpo docente integrado, os funcionários solidários, a comunidade participante.
Realidade palpável
A utopia encontrou um lugar na periferia paulistana. Sob a orientação e a liderança de uma diretora consciente de seu papel, os professores criam e organizam projetos de pesquisa que envolvem todos os alunos. Em 2004, o Projeto Países. Em 2005, o Projeto Cientistas. No ano que vem estudarão 51 filósofos. Em 2007 já sabem o que vão fazer — pesquisar a vida, a garra, a luta de conhecidos atletas. Uma verdadeira maratona em busca do conhecimento articulado, contextualizado.
O ambiente propicia a colaboração. Fui ministrar uma palestra sobre metodologia científica, sobre a paixão de estudar. Encontrei alunos entusiasmados. Os poucos momentos de ‘indisciplina’ são a mais natural reação de jovens não engessados. No encerramento, o Hino Nacional soou-me com sua mais forte mensagem de amor pátrio, sem pieguice ou cinismo.
Este artigo eu precisava escrever. Para dizer a mim mesmo que não estava sonhando. Naquela manhã, conheci uma realidade real, palpável, que recomendamos em nossos textos, nós, imaginosos teóricos.
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Doutor em Educação pela USP e escritor (www.perisse.com.br)