Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

De grão em grão, ninguém pegou

Em São Carlos, vou à Fazenda do Urso, em companhia do radialista Gerson Edson de Toledo Piza, dono da Rádio Intersom, por cujos microfones já passaram grandes personalidades. Sugiro que faça um livro com os melhores momentos de nomes como Luíza Erundina, Lula, Frei Betto, Carlos Nejar, Zuenir Ventura etc. Mas o urso é outro: o simpático Anwar Damha, sem camisa, atrás de uma vasta mesa, examina folhetos, papéis e nos entretém com uma conversa muito interessante, rodeado de alguns funcionários e amigos.


‘Verde que te quero verde’, cantou Federico García Lorca, sem saber que seria executado numa noite escura, em 1936, quando tinha apenas 38 anos. Foi uma das mais célebres vítimas da Guerra Civil Espanhola. Vejo o verde dos projetos imobiliários, o enorme campo de golfe, as benfeitorias todas: fizeram ali um dos maiores campos de golfe da América Latina!


Logo depois de uma conversa nos microfones da Intersom, vêm endossos de várias pessoas em telefonemas, abordagens no café, no restaurante, nos e-mails. A cidade pequena é tribo. Nem bem você falou, é inquirido para aprovações ou ressalvas no café da esquina. Um perigo!


Há uma demanda e um interesse crescentes por autores e livros na cidade e no município, demonstrados, por exemplo, nos cursos e oficinas ministrados na Oficina Cultural Sérgio Buarque de Hollanda. Mas não há nenhuma entidade ou força organizando este importante segmento. Por uma dessas crueldades inusitadas, as livrarias da cidade não têm os livros dos autores da cidade. Ou então estão muito bem escondidos, como de resto escondidos estão os autores nacionais em qualquer livraria do Brasil.


Um vendedor de automóveis me lembra que foi o primeiro a ter um aparelho de fax na cidade. Ali passei duas longas matérias para a revista Playboy nos anos 1980: dois perfis. Um do empresário Wilson Sábio de Melo, dos sapatos Samelo, e outro do boxeador Adilson Rodrigues, o Maguila. Eles emprestavam para poucas folhas, entraram na maior fria, as duas matérias tinham juntas quarentas páginas e a linha caiu várias vezes. Quis pagar a ligação, não quiseram me cobrar nada. Disseram ser uma honra ter servido. Essas pessoas não querem nada da gente, nos comovem de um jeito que jamais esquecemos.


Denúncias refogadas


A verdadeira vida, queridos leitores, está bem longe de gabinetes, quaisquer que sejam eles, cujos ocupantes raramente se dão conta da efemeridade dos cargos.


Soube, aliás, que o ex-prefeito de São Carlos, Rubens Massucio Rubinho, condenado por corrupção, cumpre pena no presídio de Araraquara. Queria visitá-lo, e não pelo prazer de ver preso o prefeito de quem tanto discordara (quase um trava-língua), mas porque, sendo católico, aprendi que devemos abominar o pecado, não os pecadores. Será que aqueles que viviam a seu redor bajulando o homem têm ido ao menos visitá-lo?


Ainda não temos um quadro do que disse a imprensa do interior sobre os temas em evidência nas CPIs, mas é aconselhável pesquisar nos jornais, nas rádios, nas TVs. Algo foi dito e escrito há bastante tempo. E as versões conflitam com as da grande imprensa.


Na imprensa do interior ganharam relevo muito antes alguns temas estampados depois nos grandes jornais.


Acho que valeria a pena pesquisar em pequenos jornais do interior o que foi antecipado. As denúncias contra Antonio Palocci, por exemplo, parecem todas refogadas.