Inspiro-me novamente no livro Crítica da razão indolente. Contra o desperdício da experiência (2003), de Boaventura de Souza Santos, a fim de sustentar o argumento de que a história das civilizações tem sido marcada pela relação hierárquica entre três formas de conhecimento: 1) o conhecimento moral-prático, 2) o conhecimento estético-expressivo; 3) o conhecimento cognitivo-instrumental.
O conhecimento moral-prático é simplesmente o que está vinculado ao reino das necessidades, inscrevendo, no plano da produção do saber, a seguinte virtude: penso, produzo conhecimentos, porque crio as condições técnicas, laborais, afetivas, psicológicas, ambientais, estéticas, comportamentais, discursivas, religiosas e mnemônicas que garantirão a dignidade alimentar, habitacional, corporal, educacional para os conhecidos (a família, as pessoas da comunidade) e para os desconhecidos de outras comunidades, outras famílias, paragens, terras.
O conhecimento moral-prático é intensamente solidário nos planos: 1) geracional, tributário da experiência não apenas fundada na autoridade do adulto, mas também na dinâmica ininterrupta e dialógica que subjaz o convívio entre as diferentes idades humanas;2) temporal, que envolve a relação complexa entre o passado, o presente e o futuro, sem primazia hierárquica de uma dimensão temporal sobre a outra, uma vez que o princípio da solidariedade é ativo, razão por que emerge e se alimenta das relações entre os estratos de tempo, acumulando-se de perspectivas; 3) psicológico, na medida em que a mente social é tanto mais saudável quanto mais a individual também o for; 4) ambiental, marcado pela interação de respeito entre os espaços humanos e não humanos, sem a imposição senhorial do humano sobre os outros seres;5) sagrado e profano, que assim interagem:
Planos maniqueístas no âmbito do trabalho
Plano sagrado: 1) a experiência do mais velho deve ser reverenciada; 2) o passado, como arquivo de múltiplas experiências vividas, deve ser cultivado ritualmente pelos vivos; 3) a mente social tem primazia sobre a individual, razão por que deve ser protegida por todos como garantia fundamental para a saúde individual; 4) a diversidade geográfica e a cosmológica se inscrevem no ambiente social, inspirando-nos e encorajando-nos, através da reverência a montanhas, rios, mares, estrelas, sol, lua).
Plano profano: 1) as gerações mais novas, sem deixar de reverenciar, agitam a dimensão sagrada dos adultos, efetivando assim o diálogo ativo entre as gerações;2) os desafios do presente, produzindo o futuro, dilatam o passado, reavivando-o permanentemente; 3) as psicologias individuais, ou de grupos humanos, atiçam sem cessar as possibilidades expressivas da mente social; 4) o plano humano aprofunda cada vez mais a relação com a esfera geográfica e cosmológica, tornando-nos, cada vez mais, seres que são ao mesmo tempo humanos e maquínicos, naturais e artificiais, de tal sorte que, em processo, o cosmos, como o fora por excelência, agita sem cessar nossos perfis, sempre inacabados, inventando o humano a partir do fora do humano.
É evidente que o conhecimento moral-prático descrito, pelo menos tendo em vista as grandes civilizações (inclusive a nossa) nunca se expressou livremente, pois (quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha?) dissimetrias entre os planos sagrado e profano produziram (não como fatalidade) separações hierárquicas entre gerações, entre temporalidades, mentalidades e ambientes. A intensificação das apartações entre o sagrado e o profano, suas dissimetrias, produzem por sua vez hierarquias e inventam, no lugar da interação solidária, planos maniqueístas do tipo superior e inferior, no âmbito do trabalho, gerando relações de opressão de classes; no étnico, produzindo racismos; no de gênero, sedimentando o patriarcado.
Os sons da fala das aristocracias
Eis os nossos infernos, produzindo outros: separações, apartações, violações.
O conhecimento estético-expressivo, por sua vez, dá-se no plano da linguagem, entendida em termos semióticos: a verbal, a escrita, a icônica, a corporal, musical, a matemática, enfim, de todas, as que já existem e as que criamos, por nossa conta e risco, sujeitos de linguagens que somos.
Se tivermos como referência as civilizações pré-modernas, sobretudo as ágrafas, não alfabéticas, o conhecimento estético-expressivo de maior prestígio nelas inscreveu-se tendo em vista uma interação entre linguagem verbal, a fala, e icônica, de base teológica, de tal sorte que a autoridade da fala, de quem fala, estava intimamente ancorada no rosto ou perfil social de quem fala. O conhecimento estético-expressivo, nesse caso, de prestígio, reduz-se a um segmento social que o domina e o explora: a aristocracia.
Inventamos assim a fala correta em oposição à incorreta ou quem sabe falar e quem não sabe – logo, deduz-se, quem produz conhecimento estético-expressivo de valor e quem não tem valor porque não o produz antes de tudo porque não é o rosto do saber expressivo, com sua correta prosódia, seu divino rosto.
Após o advento da escrita alfabética esta gradativamente foi tomando o lugar da linguagem verbal, garantida, como valor, pelo rosto divinizado do aristocrata. Como a natureza da escrita alfabética é imitação de sons da fala, não por acaso ela foi projetada tendo como referência os sons da fala das aristocracias, considerados sons da verdadeira prosódia, da verdadeira fala, de quem sabe a língua, logo da própria língua, seja lá qual for – os demais, os analfabetos, são, portanto, duplamente caluniados: não sabem nem falar e nem escrever. Não sabem escrever porque não sabem falar e não sabem falar porque não sabem escrever – e toma lição pedagógica no lombo, seu burro!
Conhecimento moral-prático sempre ocupou a base da pirâmide
O conhecimento cognitivo-instrumental é produzido através do acúmulo de experiências, em cooperação, no plano técnico-científico. O conhecimento cognitivo-instrumental (como os das engenharas, das matemáticas, físicas, químicas) ocupa a linha de frente da produção, no plano concreto, do amálgama entre cultura e natureza, pois intervém nesta, modificando-a e ao mesmo tempo ampliando os espaços produtivos humanos. Novas técnicas, novos insumos energéticos, novos artefatos, novas máquinas, novas infraestruturas, linguagens, novas humanidades, novos conhecimentos cognitivo-instrumentais, novos desafios, mutações.
Fundamentalmente, no entanto, o conhecimento moral-prático, em si, agrega tanto o conhecimento estético-expressivo como o cognitivo-instrumental. Tudo vem, nasce e é autoria dele, do conhecimento moral-prático. A ruptura entre o plano sagrado e profano, produzindo separações hierárquicas, inventou, por desgraça, esta aberração; a separação hierárquica entre os saberes, como se o conhecimento moral-prático pudesse estar dissociado do estético-expressivo e este do cognitivo-instrumental.
Digo pudesse porque fundamentalmente, insisto, todo conhecimento é um mesmo bloco aberto que envolve saberes morais-práticos, estético-expressivos e cognitivo-instrumentais. Não existe, pois, um conhecimento moral-prático que não seja também estético-expressivo e cognitivo-instrumental, assim como não existe um conhecimento estético-expressivo que não seja igualmente cognitivo-instrumental e moral-prático ou um cognitivo-instrumental sem saber moral-prático e estético-expressivo.
A separação, portanto, entre os conhecimentos, é ao mesmo tempo uma tática e uma estratégia de poder, no seu sentido mais evidente: a produção de domínio de uns sobre o outros. A história da dominação é também a da separação entre os conhecimentos. Nela e através dela, o conhecimento moral-prático sempre ocupou a base da pirâmide, sempre foi concebido como inferior, errado, improdutivo, ignorante, carregando nas costas às cargas impostas tanto pelo conhecimento estético-expressivo como pelo conhecimento moral-prático separados.
Os saberes e os poderes
Até os começos da modernidade, o topo da pirâmide das e nas relações de poder foi ocupado pelo conhecimento estético-expressivo, primeiramente sob o signo da linguagem falada por aristocratas, ícones eles mesmos de todo saber de prestígio, com seus poderes justificados por teologias, na suposição de que o modo como falavam fosse a copia encarnada da fala dos deuses; um saber estético-expressivo aristocrático que delirava estar fundamentado teocraticamente; segundamente, por sua vez, pela escrita alfabética, inaugurando um longo período de conhecimento estético-expressivo de dominância grafocêntrica tão avassaladora que a escrita alfabética passou a existir, ser apresentada, como se fosse todo o conhecimento estético-expressivo possível. Com isso, mais alguns nós opositivos foram acrescentados, como eco, na relação entre opressor e oprimido, a saber: alfabetizado versus analfabetizado; inteligente versus burro; civilizado versus bárbaro, num contexto em que o opressor, justificado teologicamente a sê-lo, é também o alfabetizado, que é o inteligente, que é o que sabe falar, que é o civilizado, que é, portanto, o que está no direito de combater os bárbaros, burros, analfabetas.
Como a modernidade pode também ser definida como um período histórico em que o poder torna-se indissociável do conhecimento cognitivo-instrumental, de seu controle e efetivo uso, produtivo e militar, pela burguesia, uma mutação importante ocorreu na ordem dos conhecimentos, na virada da Idade Média para Idade Moderna, a saber: o conhecimento cognitivo-instrumental gradativamente foi ocupando o topo da pirâmide e o estético-expressivo, por sua vez, de forma não menos gradativa, foi sendo deslocado para uma posição intermediária, com a permanência, obviamente, do conhecimento moral-prático na base da pirâmide, carregando todos os poderes nas costas.
O esquema abaixo mostra como se deu a relação entre o poder e as formas predominantes do conhecimento, antes e após o advento da modernidade:
Primeiro Quadro: Ordem dos saberes e dos poderes “até” a Idade Moderna
Conhecimento estético expressivo |
– Razão teológica usada para exprimir e justificar os lugares sociais, as práticas e os saberes; – A aristocracia e o clero se apresentam como os representantes de Deus na Terra; – O conhecimento estético-expressivo circunscrito à escrita alfabética é a base ou a referência a partir da qual tanto a aristocracia quanto o clero se expressam, expressando a si mesmos |
Conhecimento cognitivo-instrumental |
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Conhecimento moral-prático |
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Segundo Quadro: Ordem dos saberes e dos poderes “a partir” da Idade Moderna
Conhecimento cognitivo-instrumental |
– Gradativa perda de espaço social da aristocracia e do clero; 2.Crise da razão teológica inscrita na perspectiva estético-expressiva da aristocracia e do clero; – Emersão de uma gradativa visão laica da vida; – uma gradativa consciência agônica da morte -definitivamente controlado pelo poder burguês a partir da Revolução Burguesa. |
Conhecimento estético-expressivo |
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Conhecimento moral-prático |
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A produção da modernidade no plano dos conhecimentos
A emersão do conhecimento cognitivo-instrumental, como a referência central do mundo dos valores e da produção, impôs uma perda de espaço social gradativa e contínua da escrita alfabética.
A literatura, para ficar num exemplo, em oposição às belas letras, surgiu, sempre gradativamente, através da perda de prestígio da escrita alfabética. Esta decaiu, como linguagem estético-expressiva de referência, porque a aristocracia e o clero, castas que dominavam a escrita alfabética, também decaíram. É possível definir a literatura, nesse sentido, como um campo discursivo que se volta contra seu suporte, a escrita alfabética, seja desconstruindo-o, seja debochando de seus valores clássicos, de seu sistema de prosódias aristocráticas, seja, por outro lado, propondo um intenso diálogo com o conhecimento moral-prático, incorporando seus valores, suas demandas, suas dissonâncias e enchendo-se, portanto, de mundos.
Dom Quixote (1615), obra do escritor espanhol Miguel de Cervantes (1547-1616), sob esse ponto de vista, inaugura o discurso literário, liberando-se da referência centralizadora do poder aristocrático e clerical. Não é circunstancial que o protagonista da narrativa, Dom Quixote, sendo nobre, é a pessoa de quem se ri, o que equivale a rir do conjunto da aristocracia e seus valores.
Por outro lado, a relação entre Dom Quixote, o louco nobre letrado, e o personagem Sancho Pança, como perfil do conhecimento moral-prático, na narrativa de Miguel de Cervantes, dá o tom do futuro do conhecimento estético-expressivo no decorrer da modernidade: será usado para trapacear e fazer promessas ao conhecimento moral-prático, como ocorre na relação entre Dom Quixote e Sancho Pança ou estabelecerá um efetivo diálogo promissor com o conhecimento moral-prático, produzindo uma verdadeira transculturação literária, social, econômica, política, epistemológica?
A partir da modernidade, portanto, temos, como possibilidade para a produção da própria modernidade, no plano dos conhecimentos: 1) O conhecimento cognitivo-instrumental continuará separado dos demais, aprofundando cada vez mais seu poder sobre os demais e sobre o mundo; 2) O conhecimento cognitivo-instrumental estabelecerá um pacto com o conhecimento estético-expressivo, a fim de encurralar mais e mais o conhecimento moral-prático, dominando-o e domesticando-o; 3) O conhecimento cognitivo-instrumental estabelecerá um pacto com o conhecimento moral-prático empurrando para o lixo da história a empáfia meritocrática do saber estético-expressivo, reduzido à escrita alfabética; 4) O conhecimento estético-expressivo se submeterá ao conhecimento cognitivo-instrumental, seguindo seus passos e compassos e, ao mesmo tempo, trairá a si e ao conhecimento moral-prático; 5) o conhecimento estético-expressivo passa ou passará a dialogar apenas consigo mesmo, produzindo, por exemplo no campo das ciências humanas, saberes centrados em si mesmos, segmentados, para iniciados; 6) o conhecimento estético-expressivo estabelece um pacto com o conhecimento moral-prático e, por consequência, ambos, o conhecimento moral-prático e o estético-expressivo, vinculado à escrita alfabética, articulam-se para se apropriarem do conhecimento cognitivo-instrumental produzindo uma verdadeira revolução; 7) O conhecimento moral-prático se apropria do conhecimento cognitivo-instrumental e destrona de vez os valores aristocráticos e burgueses do conhecimento estético-expressivo, forçando-o a reaver a si mesmo; 8) o conhecimento moral-prático se apropria do conhecimento estético-expressivo rumo à apropriação do conhecimento cognitivo-instrumental, mudando a face do mundo tornando-o ao mesmo tempo moral-prático, estético-expressivo e cognitivo-instrumental; 9) o conhecimento moral-prático se isola tanto do conhecimento cognitivo-instrumental e do estético-expressivo, tornando-se presa fácil igualmente de ambos.
As práticas e os saberes sem separação
A história da modernidade até os dias de hoje é inseparável da relação entre os conhecimentos, tal como descritos acima. Destaque-se, a propósito, que todas as relações ocorreram, mas as predominantes foram: 1) o conhecimento cognitivo-instrumental, sob o domínio burguês, cooptou o conhecimento estético-expressivo, vinculado à escrita alfabética, que passou a produzir saberes ratificando a territorialidade burguesa do conhecimento cognitivo-instrumental; 2) O conhecimento estético-expressivo produziu saberes auto-referenciais, voltados apenas para si, desdenhando do diálogo estratégico com conhecimento cognitivo-instrumental e principalmente do diálogo necessário com o conhecimento moral-prático.
Todas as tentativas do conhecimento moral-prático de produzir livremente seu próprio destino foram esmagadas, seja no centro do sistema-mundo, como ocorreu na Comuna de Paris (1871), seja na periferia, como se deu, tendo em vista alguns exemplos advindos do Brasil, em Quilombo dos Palmares (1655-1695) e na comunidade de Canudos (1896-1897). Ambas tentativas de produção de liberdade protagonizadas pelo conhecimento moral-prático foram brutalmente massacradas, sendo esta a palavra de ordem que se espalhou por todos os lados no mundo: o conhecimento moral-prático é sempre exemplarmente massacrado quando se rebela e procura produzir linhas de fuga num mundo extremamente hostil, que milenarmente o condena a ser às costas sobre as quais o peso dos poderes se instala e refestela.
A questão de base, esfíngica, portanto, desde sempre, para os poderes instituídos, é: o conhecimento moral-prático deve ser tomado, sequestrado, vilipendiado. Talvez o maior equívoco das tentativas de produção de sociedades socialistas, no século 20, advenha do fato de que em nenhuma delas houve protagonismo efetivo, em perspectiva, do conhecimento moral-prático, no seu sentido mais evidente: acabar de vez com a separação dos conhecimentos, produzindo um conhecimento moral-prático comum, pela simples razão de que tudo vem e advém do mundo moral-prático, que deve romper com todos os degraus da pirâmide social, a fim de dilatar a horizontalidade de tudo, em tudo, num imenso e cosmológico espaço liso, fora de todo parasitismo dos espaços estriados, hierárquicos.
O desafio do socialismo do século 21, que eu prefiro chamar de comunismo do século 21, portanto, é este: a produção de um mundo em que o conhecimento moral-prático incorpore o cognitivo-instrumental e o estético-expressivo, ressingularizando-os a fim de que expressem a vida comum, sem separação entre as práticas e os saberes. O comunismo do século 21 é o comunismo moral-prático através do qual a questão de base é mesmo a base, o reino das necessidades: a alimentação, a saúde, a educação (moral-prática, bem entendida), a moradia digna, a satisfação individual (ou de grupos) indissociável da coletiva, a vida, enfim, comum, produzindo, no comum, entre comuns, o comum – o comunismo do século 21.
Uma dimensão cultural domesticada
Como os poderes instituídos escutam e auscultam os fluxos presentes e futuros do conhecimento moral-prático, eles procuram, como é de se esperar, antecipar seus passos a fim de surpreendê-los nas encruzilhadas não apenas os reprimindo, quando é o caso, mas também e antes de tudo produzindo a farsa de um mundo moral-prático, como se fosse possível o comunismo moral-prático dentro do capital, a serviço do capital, rendido ao capital.
Procurando antecipar a necessidade vital do comunismo do século 21, sob a batuta do conhecimento moral-prático, através do qual tudo se torna moral-prático, a pós-modernidade do capital, das corporações, produziu o teatro mundial da sua farsa, a saber: o sistema midiático planetário como suporte da cultura de massa mundial. Eis aí a farsa do comunismo moral-prático do século 21.
A carta na manga que institui mundialmente essa farsa é a cultura, vivida de forma separada, sobretudo da dimensão econômica. A cultura separada é o cenário mundial do comunismo da cultura de massa do século 21, iniciado no século 20. Sempre de forma separada dos outros planos da vida, como o econômico e o político, o comunismo cultural da cultura de massa produz a mentira de uma democracia mundial supostamente protagonizada pela cultura moral-prática, de tal maneira que todos, independente de seu perfil socioeconômico, são transformados em cultura moral-prática, rompendo, por exemplo, a separação entre o erudito e o popular, a partir da farsa de que tudo é popular, de que todos somos populares, no campo exclusivo da cultura esquadrinhada pelas tecnologias cognitivo-instrumentais de comunicação.
Esse arranjo mundial do comunismo moral-prático do século 21, reduzindo-o a uma domesticada dimensão cultural, supostamente moral-prática, só foi possível porque ele é instituído a partir do pacto entre o conhecimento cognitivo-instrumental, ligado às novas tecnologias de comunicação, com o conhecimento estético-expressivo. O que ocorreu e está ocorrendo é que o conhecimento cognitivo-instrumental das tecnologias de informação produziu, sob o domínio do capital, a linguagem do conhecimento estético-expressivo dominante no mundo todo, que não se inscreve, como suporte, obviamente, na escrita alfabética, mas na da cultura de massa como farsa de um comunismo cultural moral-prático.
A cultura de massa
O que está em jogo, em plena construção experimental, é a montagem de um teatro mundial de afirmação do comunismo moral-prático da cultura de massa como estratégica montagem levada a cabo com o propósito de compensar e ao mesmo tempo de evitar, antecipando, as lutas populares necessárias para a construção da única vertente possível do comunismo que pode salvar a humanidade, o comunismo moral-prático do século 21. Este, além de assumir o protagonismo do conhecimento cognitivo-instrumental e estético-expressivo, quebrando a espinha dorsal da hierárquica relação entre homem e natureza, inventando-se permanentemente, não pode admitir sua redução à dimensão cultural separada das outras esferas da vida. Por isso o comunismo do século 21 tem como princípio não a concepção de cultura predominante nos tempos atuais, fundamentalmente separada e reduzida a si mesma, mas a cultura como o conjunto da práxis humana, que festeja antes de tudo a produção de sua liberdade em relação ao jugo do conhecimento cognitivo-instrumental em sua versão mais funesta; a produção das tecnologias das armas de destruição em massa, como a bomba atômica e a de nêutrons, por exemplo.
Resulta daí a importância de sua inserção política, fundada na percepção clara do objetivo real do comunismo moral-prático reduzido à cultura de massa, a saber: combater e evitar comunismo moral-prático do século 21 subjugando-o ao conhecimento cognitivo-instrumental das tecnologias midiáticas contemporâneas. Estas, como um ventríloquo, dissimulam o conhecimento estético-expressivo possível para o conhecimento moral-prático do século 21, como que a dizer, e dizendo efetivamente: o conhecimento estético-expressivo do comunismo moral-prático é a cultura de massa mundial.
Temos, assim, a produção desta farsa: o conhecimento moral-prático finalmente possui seu conhecimento estético-expressivo valorizado mundialmente: a cultura de massa. Através dele, de seu conhecimento estético-expressivo, o conhecimento moral-prático pode se expressar livremente, como suposto sujeito livre de sua produção simbólica, num contexto em que a verdade é simplesmente a seguinte: o conhecimento cognitivo-instrumental adquiriu tanta força, em sua complexa dimensão tecnológica, de alcance planetário, sob a batuta do imperialismo ocidental, que subjuga sem cessar tanto o conhecimento moral-prático quanto o conhecimento estético-expressivo, através da farsa da união de ambos – demanda, como vimos, que estava na base do começo da produção da modernidade.
Um neomarcatismo multicultural
É por isso que o comunismo moral-prático do século 21 não pode permitir, sob hipótese alguma, este escândalo patológico: o domínio imperial do conhecimento cognitivo-instrumental das tecnologias midiáticas – mas não apenas –, porque, caso contrário, não será de fato comunismo moral-prático do século 21, cuja premissa fundamental é a seguinte: tudo vem e advém do conhecimento moral-prático, inclusive e principalmente o conhecimento cognitivo-instrumental; tudo deve ser dirigido pelo conhecimento moral-prático realmente ativo, porque inventa sem cessar seu conhecimento estético-expressivo a partir de seu, porque de todo mundo, conhecimento cognitivo-instrumental. É evidente que essa situação não ocorre no comunismo moral-prático da cultura de massa, porque nela e através dela o conhecimento moral-prático é editado pelos interesses comerciais da oligarquia dona das multinacionais do Ocidente, que é a que controla o conhecimento cognitivo-instrumental de ponta por todos os lados do mundo.
Esse é o equívoco de base do sociólogo Hermano Viana, estudioso da cultura funk carioca e idealizador do programa Esquenta!, da TV Globo, que costuma atirar sem rumo contra supostos intelectuais elitistas que, segundo ele, tendem a negar e desqualificar a produção cultural da periferia do sistema-mundo, a partir do preconceito de que o favelado não é capaz de criar seu próprio conhecimento estético-expressiva, de forma livre e digna. Quero crer na boa vontade de Hermano Viana, mas não posso deixar de assinalar seu equívoco. Esquenta! é uma concessão da Casa Grande, que controla o conhecimento cognitivo-instrumental das tecnologias midiáticas, elaborado nos parâmetros estabelecidos não por Hermano Viana, tampouco pela periferia, mas pela própria Casa Grande midiática, que controla meticulosamente a prosódia estético-expressiva do programa, marcada pela mistura de sensualidade moral-prática e seu convívio com madames cariocas, como se fossem as condições possíveis do comunismo moral-prático: conviver, fornecendo seu corpo sensual, com a Casa Grande, eliminando totalmente o litígio, em nome do respeito à diversidade.
Não falo em nome de supostos intelectuais elitistas. A própria ideia de intelectual, elitista ou não, é uma aberração para a perspectiva moral-prática, que é ao mesmo tempo intelectual e sensorial, sem se limitar à ordem funcional dos discursos e das divisões das práticas e dos saberes. Imaginemos, para continuar, que pudéssemos, como convidados, fazer apresentações culturais na ante-sala de Auschiwitz, a fim de alegrar, na hora do almoço, os diretores e os obedientes soldados da holocáustica prisão, sem questionar, através de nossas danças, sensualidades, vozes, corpos, a câmara de gás, a prisão como um todo e, por extensão, o próprio nazismo, em seu fundamento mesmo. Por mais exagerado que pareça o exemplo fornecido, não é isso que ocorre no programa Esquenta!? Onde, dançando, rindo, sambando, cantando funk, existe questionamento sobre o formato elitista, francamente pró-imperialista, do jornalismo da TV Globo? Onde o questionamento de sua programação fílmica, como estratégica propaganda simultânea do american way of life e das intervenções bélicas americanas, massacrando povos, em nome do destino manifesto de meia dúzia de plutocratas brancos, donos de corporações, inclusive midiáticas? Supor que tais questionamentos, e uma infinidade outros, é ridículo, é igualmente supor que a cultura popular deve desvestir-se de sua realidade política, em nome de um neomarcatismo multicultural que concebe a diversidade possível apenas se aceita expressar-se nos parâmetros do velho plano colonial de mostrar a bunda para inglês ver, que é o que se transformou o carnaval carioca na sua configuração apoteótico-midiática.
A nuvem etérea da abstração
Deixemos claro, fora das mistificações, o comunismo da cultura de massa do século 21, manietado pela Casa Grande midiática tem dois traços indissociáveis: demagogia e populismo. Há muito que o espaço da política deixou de ser o centro da demagogia e do populismo. Agora esse centro demagógico e populista se inscreve no interior da própria cultura de massa falsamente moral-prática do século 21, sequestro degenerado das criações realmente populares, através de edições sensuais e demagógicas da potência irreprimível e libertária do verdadeiro comunismo do século 21: o moral-prático, pelo moral-prático, através do moral-prático, fora de todo favor derivado dos sentimentos de culpa, quando muito, dos bonzinhos equivocados, como Regina Casé, a serviço da Casa Grande.
Na perspectiva do comunismo moral-prático do século 21 o único convívio possível entre pobres e ricos é o que se funda na exigência do litígio marcado pelo político desafio de tomar o domínio cognitivo-instrumental dos meios de produção dos abastados, acabando ao mesmo tempo com o rico e com o pobre, porque o fim da existência de um pressupõe o fim da existência do outro. Insisto, pois, na questão de base: ser sujeito popular no plano cultural ou não, sob o ponto de vista do comunismo moral-prático do século 21, significa colocar-se como sujeito coletivo concreto do conhecimento cognitivo-instrumental do sistema midiático, sem precisar da velha política de favores do Brasil colonial – favores, bem entendido, para aparecer na TV Globo, a magnânima, sorrindo, mostrando a bunda, como novos ricos, convivendo, pacificado, com os velhos ricos.
Em função de seu milenar exílio, o conhecimento moral-prático não se expressa como as instituições do Estado esperam ou supõem, inclusive ou até mesmo antes de tudo as corporações midiáticas. A relação entre o conhecimento moral-prático, base da pirâmide, com o cognitivo-instrumental e estético-expressivo se inscreve ou ecoa a dialética entre o concreto e o abstrato. Tudo para o conhecimento moral-prático adquire uma dimensão concreta, porque simplesmente é do concreto que ele vive e é a partir do concreto que ele se expressa. Quem efetivamente ignora que o conhecimento cognitivo-instrumental de ponta, sob o domínio oligárquico, é arma contra o conhecimento moral-prático, arma tanto mais nefasta e eficaz quanto mais não é evidenciada como arma? O conhecimento moral-prático enfim é concreto simplesmente porque não é parasitário e, portanto, vive do mundo concreto, como todos nós, se não estivéssemos delirando racismos, elitismos, machismos sedimentados, também, pela separação entre as formas de conhecimento.
Existe, pois, uma milenar relação entre o concreto o abstrato. Quanto mais longe do conhecimento moral-prático mais tudo se expressa de forma mais etérea e abstrata. Sabemos que o capitalismo é um sistema mundial de extorsão da riqueza comum. Sabemos que a fome na Somália é resultado direto desse sistema depredador, assassino e iníquo, mas ninguém viu ou verá uma figura como Bill Gates tirando diretamente um prato de comida digno das mãos de uma mãe Somali sem leite nos seios para alimentar seu faminto bebê. Concretamente, é assim que funciona, mas a nuvem etérea da abstração (que alcança todas as dimensões da vida, inclusive a jurídica) esconderá esse fato bruto: a concentração de riqueza, logo o rico, tira a comida do pobre. Por outro lado, para o conhecimento moral-prático, logo para o pobre, tudo tende a se expressar concretamente; tudo é o que é, sem subterfúgios institucionais. Tudo, cada gesto, para o pobre, é visível e, se sai do instituído para o mundo etéreo e abstrato dos ricos, coloca-se imediatamente numa posição à margem, sendo visto concretamente como marginal, fora da lei.
Legado de Chávez é a sementeira mais promissora
Um conhecimento moral-prático em busca de sua liberação do jugo da dimensão etérea e abstrata, que lhe pesa concretamente nas costas, encherá essa dimensão de mundo real, de marginalidade de corpos, de expressões faciais, de gritos, de gargalhadas, de dança, de informalidades (sob o ponto de vista etéreo e abstrato, logo formal), de demandas reais, concretas, porque dizem respeito às necessidades mais evidentes, a garantia e a autonomia alimentar, a conquista da casa digna, a proteção dos filhos, o trabalho seguro e digno, o cuidado da saúde si e de todos os outros pobres, porque tudo no pobre, na dimensão política de sua luta pela vida, é coletivo, solidário, tudo é para si, mas é também para os outros pobres. Tudo é potencialmente revolucionário, multidão concreta que concretiza a tudo, embora, no cenário igualmente concreto da luta de classes, quanto mais os estratos de classe ocupam ou se aproximam do topo da pirâmide social, protegendo-se de abstração e de relações etéreas, mais não reconhecerá a dimensão concreta expressada na perturbação libertária do conhecimento moral-prático, do pobre, acusando-a de bárbara, autoritária, louca, ignorante, imprópria, absurda, irregular, ilegal, simplista, maniqueísta, caluniando-a sem cessar, portanto, e por uma razão muito simples: seu etéreo mundo, inclusive jurídico, inclusive epistemológico, inclusive midiático, seus enfim sistemas de representação etéreos não estão minimamente programados para sentir e perceber, concretamente, as razões reais, universais, do conhecimento moral-prático.
Hugo Chávez Frías foi esse turbilhão de concretudes, de corpos, de lutas por justiças no plural mesmo, justiça econômica, justiça epistemológica, justiça étnica, justiça de gênero, justiça, justiça e mais justiças. Hugo Chávez Frías transformava a questão política, a questão do Estado, em questões de carne e osso, reais. Nascido no interior da Venezuela, na cidade de Sabaneta, capital do estado de Barinas, Chávez encarnou e multiplicou as potências demoníacas do interior abandonado pelas oligarquias venezuelanas. O menino pobre, filho de professores das primeiras séries (sempre os começos da concretude, inclusive no plano da aprendizagem dita formal), foi educado por sua avó, Rosa Inés, que lhe ensinou a arte de fabular, de confabular, concretamente, a milenar arte de contar estórias do mundo moral-prático, com suas mil e uma noites de prosódias pobres, de pobres; mil e uma noites de claridades solares de exemplaridades de resistências e de alternativas contra todas as formas de opressão: a menina pobre que foi abandonada pela madrasta, o moleque trapaceado pelo tio corrupto, que lhe rouba o trabalho de um dia todo que seria revertido em pão para a mãe e os irmãos mais novos; estórias concretas, de mundos concretos, de situações concretas, de injustiças reais, mas contadas com espírito imaginativo, com fantasia, com potência cosmológicas de outros mundos possíveis, porque necessários, porque tomados por outras variáveis linguísticas, fora dos padrões preestabelecidos, porque urgentes.
Urgência, a urgência do pobre foi a que marcou o destino público, político, de Hugo Chávez. Uma urgência que é uma legião de urgências, porque tudo que é urgente para o pobre o é igualmente para todos os injustiçados do mundo; para todos os condenados da Terra, sob o peso covarde, perverso, o reino de todas as maldades, das etéreas oligarquias de ontem e de hoje, insensíveis, narcisistas, dotadas de capacidades de comprar tanto quanto estão vendidas, cooptadas pela rede dos poderes imperialistas, colonizadores, midiáticos, publicitários. Chávez, opondo-se às garras dessa rede de maldades, tendo em vista o seu epicentro sísmico, a expansão imperialista do capitalismo americano, foi o homem da urgência da fome, por isso seu nome foi legião, legião de outras fomes, legião de pobres, que são os de sua infância, de sua terra natal, mas também de toda Venezuela, de toda América Latina, de toda África, do mundo todo; legião de mundos, na biografia política de Hugo Chávez; de mundos reais, os quais, quando se agitam, perturbam as dissimuladas abstrações dominantes, que respondem com ódio, com calúnia, com asco, desprezo, com golpes oligárquicos manietados por etéreas agências de golpes americanas, como a CIA, a Usaid; com golpes midiáticos, essa caixa de ressonância diária que sempre o mostrou, deu notícias dele, difamando não a ele, apenas, mas às concretas demandas necessárias, urgentes, para ontem, para o ano passado, para as décadas passadas, séculos passados, para os milênios passados, do mundo moral-prático.
Os pobres do mundo se agitaram na urgência de Hugo Chávez. Foi através de sua urgência que ele, a partir do ponto de vista do conhecimento moral-prático, tornou-se um devorador de livros, um leitor incansável, urgente. Chávez lia e aprendia, portanto, não a partir dos critérios de rigor etéreos impostos pela aristocrática história do conhecimento estético-expressivo vinculado à escrita, que impõe regras, normas, condutas elitistas, segmentadas por disciplinas apartadas da vida concreta, abstratas, mas a partir da fome de aprender do mundo moral-prático. É por isso que sua urgência de leitor insaciável não poderia perder tempo com leituras etéreas do mundo das elites, por pedagogias que rezam o credo de que ler é bom e ponto final, independente do que se lê e de como se lê, concretamente. Sem precisar de aprender, porque não é aprendizagem que se ensina na escola, por dizer respeito às urgências de sobrevivência do mundo dos pobres, Chávez sabia que a escrita sempre foi arma de guerra etérea contra os pobres do mundo, acusados de analfabetos, bárbaros, burros, simplistas, por não saberem escrever e ler, alfabeticamente, a prosódia das oligarquias. Chávez, portanto, lia como um analfabeto, fora das prosódias dominantes, enchendo a escrita de vozes dissonantes, de músicas, de danças, de risos, de verdades.
É por isso que, repito, não perdia tempo com leituras etéreas, com a vaga ideia de que ler é bom e ponto final. Chávez, urgentemente, leu os autores comprometidos com o mundo moral-prático e, ecoando as estórias de sua avó, leu Simón Bolívar, leu Lenin, leu Marx, leu geopolítica, leu Galeano, Chomsky, James Petras, Samin Amir e, com este disse o que importava, na momento que importava: “Bush, go home!”. Leu e leu e, lendo, experimentava, projetava, indicava os caminhos necessários: a união latino-americana, o não aberto, debochado, informal, popular à Área de Livre Comércio das América – Alca, uma rendição fatal às multinacionais americanas; a Unasur, a Celac, o Alba, Aliança Bolivariana para as Américas, a primeira e única experiência de bloco de países, no mundo todo, inspirada pela urgência das necessidades reais dos povos, pela urgência urgentíssima da solidariedade entre os países pobres. Chávez não parou aí: propôs e realizou, realizando-se, a Telesur, a televisão do Sul pobre do mundo, comprometida com o ponto de vista dos pobres. Chávez propôs o Petrocaribe, propôs o Banco do Sul e, no plano interno, foi gradativamente, pelas beiradas, enchendo o elitista e corrupto Estado venezuelano (qual não é?) de mundos concretos: as missões, como a Misión Milagro, que curou as cataratas de milhões de idosos da Venezuela e da América Latina; missão de todos os jeitos, propiciando alimentos subvencionados para os venezuelanos, acesso à saúde, proteção à infância; e dá-lhe mais missões que se transbordaram em gestões coletivas de empresas nem privadas, nem estatais (aprendeu com Samir Amin?), mas fundadas em outros modelos de propriedade. Daí surgem as comunas e as cooperativas, milhares – devires que tomariam, com o tempo, não obstante suas contradições, todo o Estado: o socialismo do século 21 moral-prático, um mundo concreto de experimentações necessárias no lugar do Estado etéreo, abstrato, sem povo, lento.
Você não estará exagerando? Não estará endeusando um simples humano, reificando uma pessoa, mitificando-a?, poderia perguntar o leitor cauteloso. Chávez não tinha a cautela etérea das abstrações sem mundos. Chávez tinha mundos em si, povos. Como Cristo, e não é exagero, um devir Cristo, porque marcado por devires pobres. O legado de Chávez (esse é o princípio de esperança deste artigo) é a sementeira mais promissora do comunismo moral-prático do século 21, porque, tirando leite de pedra, enfrentando diversidades concretas, tornou-se multidão de pobres, que deve a partir de agora governar em seu lugar, inspirada e devotada em seu infinito amor, brotando e brotado das sementes ao vento dos pobres da Venezuela e do mundo.
Num mundo milenarmente, viciosamente, acostumado com derrotas, com esquerdas pedantemente derrotadas, eis aí, seu mais importante, e urgente, simples, legado político (de Hugo Chávez): povos do mundo, “hasta la victoria siempre!”
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Luís Eustáquio Soares é poeta, escritor, ensaísta e professor de Teoria da Literatura na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes)