Lacan e a estrutura discursiva do semblante racista do mundo
“Já que é preciso, de qualquer modo, não lhes pintar unicamente um futuro cor-de-rosa, saibam que o que vem aumentando, o que ainda não viu suas últimas consequências e que, por sua vez, se enraíza no corpo, na fraternidade do corpo, é o racismo. Vocês ainda não ouviram a última palavra a respeito dele” (LACAN, 2007, p.227).
O trecho supracitado é o parágrafo final de O seminário 19… ou o pior (1972-1973), de Jacques Lacan. Apresento-o em suplemento à relação entre hsing, a natureza, e ming, decreto celestial; relação analisada no Seminário 18 de um discurso que não fosse semblante (1971).
Para Jacques Lacan, a dissimetria entre o “decreto celestial” e a “natureza” ecoaria a interface entre o mais-de-gozar e o gozo, assim como a relação, sempre com Lacan, entre a mais-valia marxista e o trabalho coletivo, tal que o semblante do mundo, num dado contexto histórico, pudesse ser concebido como um decreto celestial que não apenas se inscrevesse como um mais-de-gozar para, sobre e em face ao gozo da natureza, mas também como uma mais-valia ou roubo do excedente produzido pela força do trabalho socialmente constituída, donde seja possível traçar um suplemento, cruzando sentidos, com o decreto celestial, o mais-de-gozar e a mais-valia de Marx.
Sob esse ponto de vista, a proposta deste ensaio é: pensar o mais-de-gozar lacaniano como o lugar, na estrutura discursiva do mundo, ocupado pelas oligarquias em nome das quais o seguinte decreto celestial emerge: “Trabalhadores do mundo, gozem para a produção da mais-valia, que nós, os oligarcas, lhes roubamos e roubaremos eternamente porque vocês são meras naturezas – mortas. Jamais se unam contra o decreto celestial. Gozem suas submissões eternas!”
Essa relação entre shing e Ming, entre o decreto celestial e a natureza não apenas ecoa a do mais-de-gozar em relação ao gozo, assim como refrata igualmente a relação entre a mais-valia e extorsão do trabalho coletivo, donde seja possível deduzir que gozo aqui não tenha o sentido de gozar a vida, seja festivamente, seja sexualmente, mas, pelo contrário, gozo neste ensaio, em diálogo com Lacan, tem o sentido de trabalhar, cumprindo o decreto celestial, como natureza morta.
Em conformidade especialmente com os Seminários 18 e 19, de Jacques Lacan, esses três referentes, o decreto celestial, o mais-de-gozar e a mais-valia, podem ser interpretados como um nó górdio do semblante do mundo numa dada época; o nó que equivale ao discurso do mestre e/ou do senhor, na relação direta com o decreto celestial, razão pela qual o discurso do mestre e/ou do senhor será também concebido como aquele que encarna o semblante oligarca que sequestra a mais-valia dos povos, obrigando-os a gozar – a morrer.
O racismo o é, nesse sentido, contra a natureza, hsing; e se transformará em semblante do mundo, se esta, a natureza, compreendida como a instância da vida comum, for o suporte em gozo do decreto celestial, produzindo a mais-valia para os racistas de uma dada época, os oligarcas.
Racismo é, pois, questão de oligarcas. Estes são os racistas de todas as épocas históricas e o serão tanto mais o epicentro de uma sociedade racista quanto mais esta, por meio do trabalho coletivo que a torna possível, gozar o mais-de-gozar dos mestres e/ou senhores do mundo; os oligarcas.
Existe, pois, o discurso do mestre e do senhor, o lugar racista dos oligarcas, porque igualmente existe, na outra ponta, o discurso universitário ou do escravo, instância que goza (trabalha) o mais-de-gozar dos oligarcas, argumento, com Lacan, que faz emergir a seguinte hipótese: o semblante racista de uma dada época se inscreve no corpo da natureza por meio do saber universitário e também do que existe de escravidão no trabalho coletivo, razão suficiente para sugerir que o saber universitário sirva para justificar/instituir a escravidão do trabalho coletivo.
Lacan, Foucault e o decreto celestial do racismo oligárquico americano
Essa última hipótese pode ser compreendida dialogando, por exemplo, com Foucault de A ordem do discurso (1970), livro baseado na aula inaugural do Collège de France, a partir do qual é possível ler os seguintes argumentos do autor de A arqueologia do saber (1969): 1) a modernidade emerge a partir da segregação da loucura, podendo ser entendida tanto no sentido literal, com o surgimento de hospícios para internar “os loucos”, quanto no sentido figurado, se se considera que todas e todos que não se encaixem na norma da modernidade eurocêntrica potencialmente sejam suspeitos de loucura; suspeição que corresponde a outra forma de racismo; 2) a modernidade foi igualmente tecida e entretecida tendo em vista a interdição do sexo e da política, o que significa dizer com a interdição das sexualidades, o que inclui uma interdição, ainda que heterossexual, da sexualidade feminina, pois a norma é patriarcal, assim como uma interdição da política, compreendida como a política dos povos que se recusem a gozar o mais-de-gozar do decreto celestial de uma dada época; 3) a modernidade foi orquestrada a partir da vontade de verdade ou vontade de saber, termos indiscerníveis que podem ser traduzidos como o lugar do saber universitário, legitimado para estudar, selecionar, classificar e estabelecer juízos sobre a primeira e a segunda segregações, a do louco e a do sexo-política.
A partir daí será possível estabelecer o lugar que ocupa o discurso universitário na estrutura do semblante proposta por Lacan, pois o que Foucault argumentava a respeito da vontade de saber é que esta se tornou a instância, legitimada pelo Estado, para definir o louco, a sexualidade dita “imprópria” ou maldita e também a “má política”, constituindo-se como digamos o espaço epistemológico (a que usualmente chamamos de ciência) que incorpora o decreto celestial, na modernidade, autorizando “as boas naturezas” e desautorizando “as más”.
O mais-de-gozar, sob esse ponto de vista, sendo o lugar do mestre advém ou é alimentado pelo saber universitário, assim como o patrão se enriquece com a extorsão da mais-valia do trabalho produzido por seus empregados ou, em termos de Lacan, por seus escravos.
Ambos, o saber universitário e o escravo, gozam o mais-de-gozar do mestre ou do senhor. Eis aí o semblante racista de uma dada época.
No Seminário 18, Lacan assevera que “o hsing não tem a mais remota chance de que o encontremos nesse troço terrivelmente complicado de obter, de acompanhar de perto, chamado mais-de-gozar. Se é tão deslizante, não facilita a compreensão. Com certeza, não é a isso que nos referiremos quando falarmos de subdesenvolvimento (LACAN, 2009, p.50)”, pista a partir da qual não apenas seja possível inferir que hsing, a natureza, inscreva-se como o locus do subdesenvolvimento como também, por extensão, o do trabalho coletivo, o gozo: instâncias, ainda com Lacan, “não fabricadas para não funcionar (LACAN, 2009, p.50)”, tal sua relação com o subdesenvolvido.
Ainda em diálogo com Seminário 18, Lacan, em relação intertextual com Totem e tabu (1913), de Sigmund Freud, pergunta-se, ao mesmo tempo em que será dilatada a seguinte questão por ele apresentada: “Qual a prescrição do supereu? Ela se origina precisamente nesse Pai original mais do que mítico, nesse apelo como tal ao gozo puro, isto é, à não castração. Com efeito, que diz que esse pai no declínio de Édipo? Ele diz o que o supereu diz. Não é à toa que ainda não o abordei realmente até agora. O que o supereu diz é: goza! (LACAN, 2009, p.166)”, donde seja possível inferir, ainda que como hipótese, que o decreto celestial, o mais-de-gozar e a mais-valia (ou simplesmente o discurso do mestre e/ou do senhor) igualmente nos dizem: goza!
Gozo obviamente impossível, se puro, porque o subdesenvolvido, a natureza, o trabalho coletivo, enfim, se dizem como castração, como aquilo que não funciona, razão pela qual, com Lacan, seja possível inferir que o lugar do discurso do universitário e/ou do escravo seja o sintoma de um gozo impossível, quando implicado com o decreto celestial; goza saber universitário!; goza escravo!
Uma hipótese deste ensaio tem relação com a seguinte questão: será o semblante mundial do imperialismo americano o sintoma do “goza!” trabalho coletivo do e no contemporâneo, compreendendo como “trabalho coletivo” não apenas o trabalho dos operários ou o trabalho dos camponeses, dos profissionais das mais diversas áreas e das mais diversas competências laborais, mas também tudo que diz respeito à civilização burguesa no contemporâneo: o ócio, as guerras, as barbaridades do Emirado Islâmico, as relações de compra e venda; as sexualidades, as subjetividades, a cultura, a política, o material e o imaterial?
O decreto celestial imperialismo americano é esse que sentencia por todos os meios “goza humanidade”!, para que sejamos o suporte subdesenvolvido do mais-de-gozar do mundo, situação que condena ao subdesenvolvimento todos os quadrantes da Terra ao mesmo tempo em que define o semblante planetário como amarican way of life ou, para ser mais preciso, american way of death.
O decreto celestial da racista-mor oligarquia americana, epicentro de seu imperialismo, para se constituir, necessita da colaboração efetiva das oligarquias do mundo, que funcionam como a delegada racista policia oligárquica que ao mesmo tempo se faz como gozo e como mais-de-gozar: como gozo porque, como oligarquias dos seus respectivos países e regiões, a função delas é trabalhar, serem escravas do imperialismo americano, colaborando diretamente com a mais-valia da oligarquia do Tio Sam; como mais-de-gozar porque são efetivamente o mais-de-gozar, a instância da mais-valia de seus países e regiões, dentro de uma geopolítica mundial de repartição oligárquica do planeta.
A racista função polícia do decreto celestial do imperialismo americano
A função polícia do imperialismo americano é exercida pelas oligarquias internacionais existentes em todos os países do mundo, sem exceção, incluindo Rússia e China; oligarquias que gozam o mais-de-gozar das multinacionais estadunidenses impondo um gozo mortal, subdesenvolvido, ao planeta, tal que o decreto celestial american way of life (death) represente um verdadeiro estado de exceção contra a vida na terra, expresso sob a forma de genocídios, despojos, estupros, violações, perseguições, indiferenças, prisões arbitrárias, abandonos, fome, ignorância, barbárie, fundamentalismos, ódios, narcisismos suicidas, num processo de gentrificação das populações desalojadas cada vez mais das condições mínimas de sobrevivências.
Essa polícia oligarca persegue principalmente a política dos povos, entendendo-se por esta, a política dos povos, os processos de liberação deles da condição de gozo subdesenvolvido do decreto celestial do mais-de-gozar do imperialismo americano.
Lacan, a respeito da função de polícia, diz, no Seminário 23: “Certamente vou precisar voltar ao círculo. Ele tem uma função bem conhecida da polícia. Serve para circular. É por isso que a polícia conta com um apoio que não é de ontem (LACAN, 2007, p.25)”, apoio, em termos deste ensaio, ancorado no gozo circular das oligarquias do planeta.
Se para Lacan a dimensão fálica tenha relação com a função polícia e se, circulando, a função polícia se inscreva no simbólico apoiado num passado (“um apoio que não é de ontem”) milenar, é porque a função polícia circula em torno do Real, conceito que pode ser interpretado como o lugar da política dos povos; o Real lacaniano é a abertura do tempo que se recusa a gozar o passado imemorial de sociedades oligárquicas, como a medieval, a romana, a grega, a egípcia e assim por diante.
A política é o Real sem rei; um Real de um Demos sem Kratos, sem poder, porque em potência se constitui como o vazio de decreto celestial, num mundo, sempre em potência, sem mais-de-gozar, logo sem mais-valia e sem gozo escravo/universitário e ao mesmo tempo, eis o aparente paradoxo, com o mais-de-gozar e com o gozo dos e para os povos, porque sem oligarquias, motivo suficiente, supõe-se, para projetar um povo em si mesmo político, sem polícia, porque nele a função circular da polícia poderá tornar-se um circulo aberto e em curva, cortado por uma reta infinita, na e da invenção de si.
A gozada polícia oligárquica no Senado brasileiro
É nesse contexto de polícia oligárquica que é possível analisar os gozados senadores policiais brasileiros “circulando” na Venezuela no último dia 18 de junho, como os racistas do decreto celestial estadunidense, contra a política dos povos latino-americanos.
São eles, Aloísio Nunes (PSDB), Ronaldo Caiado (DEM), Cássio Cunha Lima (PSDB), José Agripino (DEM), Ricardo Ferraço (PMDB), José Medeiros (PPS), Sérgio Petecão (PSD) e Aécio Neves (PSDB), esses policiais oligárquicos a serviço do decreto celestial do imperialismo estadunidense, protestando como espantalhos contra a política dos povos presente na Venezuela a partir principalmente da emergência dessa figura singular; desse que foi um povo encarnado, Hugo Chávez, o maior líder político do século 21, provavelmente assassinado por alguma arma radiativa (reativa), em circulação, da função polícia, também presente (e como) no mundo científico.
Esses senadores policiais circulam na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, não sendo circunstancial que esta tenha sido presidida pelo oligarca Ricardo Ferraço, do Espírito Santo, estado onde vivo, e agora esteja sob a presidência de Aloísio Nunes, o oligarca pitbull paulista, ex-guerrilheiro; e não tem nada pior que um ex-guerrilheiro transformado em policial oligárquico, por inscrever em si a dinâmica dos dois círculos: o círculo aberto da política, projetando-se como uma curva infinita tanto mais soberana quanto mais dança ao ritmo da política dos povos, de qualquer povo; e o círculo da polícia, fechando-se cada vez mais para o centro do decreto celestial, razão pela qual ele esteja na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado brasileiro com o objetivo de fazer-se como o policial da política nacional – o xerife racista e raivoso do imperialismo estadunidense.
Sob o ponto de vista dessa polícia oligárquica brasileira, a ousadia da justiça venezuelana, a de prender os seus respectivos policiais oligarcas envolvidos no planejamento de “revoluções coloridas” advindas do decreto celestial do imperialismo americano, nas quais e por meio das quais, além da destruição do patrimônio público, cidadãos venezuelanos foram assassinados e sem contar ainda que são reincidentes, enfim, sob o ponto de vista desses gozados policiais, Aécio Neves, Aloísio Nunes, Ricardo Ferraço e que tais, a prisão de seus semelhantes em oligarquia soa evidentemente como uma ameaça a eles mesmos, embora, tragicamente falando, no caso do Brasil, eles estejam além do bem e do mal, pela evidente razão de que o Ministério Público Federal, a Polícia Federal e o Poder Judiciário brasileiros, com as cada vez mais raras exceções, são instituições constituídas por oligarcas que gozam igualmente o decreto celestial do imperialismo americano, não sendo por acaso que ocupem os cargos que ocupem, com altos salários, para circular e prender qualquer mínimo vestígio de política anti-imperialista no âmbito do Poder Executivo do Brasil.
Os presos políticos do Brasil
Se política é sempre política dos povos em luta por sua liberação de qualquer decreto celestial e se, por outro lado, o racismo se constitui fundamentalmente como a perseguição da polícia oligárquica à política libertária dos povos, é bom ficar claro que os verdadeiros presos políticos do Brasil (e do mundo) são os presos pobres, argumento que torna o Brasil um dos países mais racistas do mundo, tal são os seus milhões de presos políticos.
Por outro lado, se se considera os presos do Mensalão do PT, embora nenhum deles seja propriamente pobre, é preciso dizer com todas as letras, independente do fato de o Partido dos Trabalhadores não ser de esquerda, que José Genuíno, José Dirceu, Delúbio Soares, e os demais condenados no processo do Mensalão petista, foram presos políticos, porque eram integrantes de um governo (o do primeiro mandato de Lula) envolvido, ainda que contraditoriamente e sem clareza histórica, com um projeto de poder em que o decreto celestial do imperialismo americano deixaria de ser o centro do gozo e do mais-de-gozar da oligarquia brasileira.
Foram condenados, nesse sentido, pela polícia oligárquica do judiciário brasileiro, com apoio da polícia oligárquica midiática, porque eles tinham um projeto relativamente político vinculado à produção de um mundo multipolar.
Os condenados do Mensalão petista, portanto, foram fundamentalmente presos políticos.
A gozada tríade policial oligárquica brasileira
Na atualidade, o centro da polícia oligárquica (sempre com o apoio intransferível da racista oligarquia das mídias corporativas) é a sede da Polícia Federal de Paraná, tendo como protagonista o Juiz Sérgio Moro e uma legião de delegados oligárquicos da Polícia Federal como Igor Romário de Paula, Márcio Adriano Anselmo, dentre outros, além de membros do Ministério Público.
Compreendendo, em diálogo com Lacan e Foucault, que o racismo é antes de tudo contra a política dos povos e é exercido por uma espiral de polícias oligárquicas do mundo político, empresarial, institucional, financeiro, agrário, narcotraficante, no Brasil, na atualidade, a racista polícia oligarca persegue a política brasileira a partir da oligarquia encarnada em membros da Polícia Federal, do Ministério Público e das corporações midiáticas.
A Polícia Federal, o Ministério Público e a oligarquia midiática constituem a tríade em guerra aberta contra a política brasileira e muito especialmente contra a economia política brasileira, entendendo-se por esta, a economia política, a tentativa dos governos petistas de engendrar um sistema econômico-produtivo, tendo a Petrobrás como epicentro, independente do decreto celestial estadunidense, levado a cabo para contemplar as suas multinacionais.
Para a mencionada tríade, a questão é de preconceito racista arraigado na memória monumental dos tempos oligárquicos, donde seja possível deduzir que qualquer grupo empresarial, inclusive o das poderosas empreiteiras, que ouse participar desse projeto político-econômico é de antemão considerado criminoso e será transformado (mesmo que sejam poderosos oligarcas bilionários) em presos políticos.
Tudo isso, no entanto, só se torna possível porque das policias oligarcas a serviço do decreto celestial do imperialismo americano, a racista polícia das mídias corporativas é de longe a mais indispensável, de tal maneira que seja possível afirmar: o decreto celestial da oligarquia americana, essa racista polícia mundial, não funciona sem a indústria cultural; sem o domínio do sistema midiático internacional.
E por que não funciona?
O decreto celestial do imperialismo americano e o gozado semblante midiático
Não funciona por um motivo muito simples. O sistema midiático mundial constitui o semblante do decreto celestial do imperialismo americano.
Sem o sistema midiático corporativo internacional, não existiria o amarican way of life (death); não existiria a função circular das oligarquias racistas espalhadas pelo planeta afora, a serviço do mais-de-gozar do imperialismo americano.
E é precisamente no âmbito do gozado, racista e policial semblante das corporações midiáticas que o projeto petista de uma “política brasileira” multipolar se fez e se faz extremamente vulnerável, pela evidente razão de que a oligarquia policial midiática brasileira não perdeu o mais mínimo espaço policial durante os governos do PT; pelo contrário: continua inimputável no seu mais-de-gozar nacional, enquanto o PT goza a sua lastimável subserviência laboral, sendo caluniado, de forma absolutamente racista, como ocorre com qualquer trabalhador alienado perante seu patrão – quanto mais abaixa a cabeça, mas o patrão exige subserviência e mais o rouba por meio da extorsão da mais-valia.
Curiosamente, por mais avançado, à esquerda, que seja o processo bolivariano da Venezuela, em sua recusa de gozar o mais-de-gozar do imperialismo americano, embora nem se compare com a situação brasileira, também lá faltou uma lei dos médios consequente e é preciso dizer com todas as letras: lá também o semblante midiático corporativo domina, impondo um gozo subserviente sobretudo à classe média, essa figura social que tem especial predileção para ser o suporte físico do gozo do decreto celestial do imperialismo americano em todos os lugares do planeta.
O semblante midiático do decreto celestial americano e as forças políticas de esquerda
O semblante do decreto celestial do imperialismo americano se dá portanto no âmbito das corporações midiáticas. Estas são o epicentro do racismo do contemporâneo; racismo antes de tudo contra a política, de tal modo que seja possível afirmar: a cor da pele do racismo sempre foi, é e será a política libertária dos povos lutando por justiças coletivas.
É por isso que as forças políticas do mundo, de todos os matizes, só farão jus ao nome político (de esquerda) se não permitir ser circulada, numa ciranda de semblante, pela polícia oligárquica das corporações midiáticas, porque, do contrário, serão sempre falsas políticas (de esquerdas), como partes e contrapartes do semblante do decreto celestial do imperialismo americano.
Mais do que os governos, nesse sentido, inclusive mais que o governo americano, as forças políticas do mundo precisam se constituir como a incansável sugestão de Lacan: como um discurso que não fosse semblante e muito especialmente como uma política que não fosse o semblante em gozo do decreto celestial do imperialismo americano.
Esse é o desafio dos povos que não fossem semblantes.
O resto é gozo teatralmente fatal da bionatato(polícia) do imperialismo americano, com seu semblante midiático a eternizar o gozo subdesenvolvido de todo o planeta.
O semblante das corporações midiáticas do decreto celestial estadunidense, como o lugar espetacular do racismo contra a natureza, contra hsing, é o epicentro da crise ecológica, ética, econômica, epistemológica, cultural, estética da humanidade, no contemporâneo.
Não será possível justiça alguma e muito menos não será possível minimamente equacionar a questão do racismo, esse trágico eterno retorno da humanidade, se não for realizada uma profunda democracia do sistema midiático internacional, o que não será possível se não ficar evidente que qualquer oligarquia, e principalmente a midiática, constitui um escândalo; a corrupção humana e ecologicamente insustentável.
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Luís Eustáquio Soares é professor