Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

O catolicismo do candidato

Geraldo Alckmin tem repetido que é católico, mas jura de pés juntos que mal conhece o Opus Dei.

No blog de Jorge Bastos Moreno, em 31/5/2006, o colunista perguntou: “E a Opus Dei? Explique esse negócio direito.” Alckmin respondeu:

“Primeiro: creio em Deus, sou católico, e não sou da Opus Dei. Se fosse, eu diria. Não há problema algum. Sou católico, apostólico e romano. […] Por que sou católico? Meu pai foi seminarista, ele quase foi padre. Sou de uma família católica. Meu pai era franciscano da Ordem Terceira de São Francisco de Assis, franciscano leigo. Essa confusão de Opus Dei é porque um tio meu, que foi ministro do Supremo Tribunal Federal, José Geraldo Rodrigues de Alckmin, foi da Opus Dei. Já é falecido.”

De fato, Alckmin não é membro oficial do Opus Dei. Mas essa “confusão” não é tão confusa assim. Há uma evidente associação entre o candidato do PSDB e aquela instituição, faz tempo. Nem se deve apenas ao tio ter pertencido à Obra. Alckmin mente timidamente…

Esta associação deve-se, por exemplo, ao fato de que o então jovem prefeito Geraldo, de Pindamonhangaba, em 1978, homenageou o fundador do Opus Dei, batizando uma rua da cidade com o nome desconhecido: Josemaría Escrivá de Balaguer, a exemplo do que ocorreu em Barbastro (cidade natal de Escrivá), em 1971. Mas por aquelas bandas hispânicas entende-se uma avenida com o nome do sacerdote barbastrense. Já em terras brasileiras… Escrivá não foi pindamonhangabense. A idéia partiu do seu chefe de gabinete (e pai), Geraldo José Rodrigues Alckmin.

Outro indício, graças à matéria de Mário Simas Filho na revista IstoÉ, dezembro de 2003. Na carteira, Alckmin guarda há mais de vinte anos (se ainda não jogou fora) um pensamento retirado do livro Caminho, da autoria de Escrivá. No papelzinho, a letra do pai de Alckmin: “Estás intranquilo. Olhe, aconteça o que acontecer em tua vida interior ou no mundo que te rodeia, nunca te esqueças de que a importância dos acontecimentos ou das pessoas é muito relativa. Calma…”. O texto é a transcrição do ponto 702 de Caminho.

Critérios morais

Em março de 2001, com a morte de Mário Covas, Alckmin assumiu o governo paulista. E pelo menos a partir de 2002 acolheu nos aposentos do Palácio dos Bandeirantes reuniões mensais com um influente membro da Obra, Carlos Alberto Di Franco, conforme revelou a revista Época em janeiro deste ano. O OI trouxe o conteúdo para a sua seção Entre Aspas. Os temas abordados eram as virtudes cristãs: humildade, veracidade, fortaleza, castidade… A idéia de realizar essas palestras de caráter ascético, reunindo também empresários católicos, nasceu da direção espiritual que o governador recebe (ou recebia) de um sacerdote da Obra, padre José Teixeira.

Mas a campanha presidencial começou para valer, e o candidato tucano logo percebeu que manter o seu nome vinculado ao Opus Dei (que já se torna objeto de suspeita para a própria igreja) não seria nada conveniente. Marina Amaral, ao entrevistar o representante da Obra no Brasil, monsenhor Vicente Ancona Lopez, perguntou se Geraldo Alckmin teria se afastado da instituição por medo de perder votos. A resposta de foi curta, selvagemente sincera: “Exato” (Caros Amigos, agosto/2006).

E na terça-feira passada (5/9/), na sabatina política promovida pela Folha de S.Paulo, Alckmin defendeu-se com veemência:

“Eu sou católico […], meu pai foi seminarista […], tenho uma prima que é freira […]. Agora, não sou da Opus Dei, não tenho participação na Opus Dei […]. Eu não conheço a Opus Dei.”

Logo depois da tripla negação… para nova surpresa dos próprios membros da Obra, que imaginavam ter formado moralmente o talvez futuro presidente, Alckmin afirmou ser favorável ao aborto nos casos de risco de morte para a mãe ou envolvendo estupro. É igualmente favorável à camisinha, à pílula etc. Enfim, além de ter se saído um mau aluno das aulas de virtude ministradas pela Obra, mostrou-se um candidato não muito confiável, de acordo com os critérios morais da Igreja católica.

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Doutor em Educação pela USP e escritor; www.perisse.com.br