Uma pergunta infernal e cheia de espinhos, que gera dúvidas, debates e questionamentos em muitos pensadores. Um mal-estar, como diria o sociólogo Zygmunt Bauman. Mas vamos lançar mais luzes sobre a questão. Nesse calor medonho – o clima da Terra está mudando, o aquecimento global é um novo paradigma/acontecimento importante –, nas dobras e desdobramentos da atualidade, vejo o termo contemporaneidades como o mais consistente. Contemporaneidades, no plural. Pois as marcas – talvez um certo esgotamento, e não o fim em meio à desordem – da modernidade ainda estão presentes de maneiras múltiplas e híbridas. Sem falar que convivemos com outras visões de mundo e ‘quase tudo’ é noticiado em escala internacional. Ou seja, ‘quase tudo’ hoje em dia está contaminado/intermediado por uma amálgama sem igual de culturas, meios de transmissões etc. Numa escala macro, o Oriente e o Ocidente se misturam sem cessar, e os pólos estão descongelando.
Eis um contexto resumido: a informação está mais rápida a cada dia, hora e minuto – ‘quase todos’ têm acesso a algum tipo de informação e o analfabetismo está diminuindo mundo afora. A fome e a guerra, não. O capitalismo globalizado cria os seus blocos econômicos de nações no campo comercial/financeiro, observamos uma contínua sinestesia das artes (semelhante ao que aconteceu no final do impressionismo e que influenciou o modernismo. Logo em seguida, Duchamp colocou as artes plásticas numa espécie de ‘sinuca de bico’ que perdura até hoje), explosão da virtualidade e hipervisibilidade, um(a) constante mix/mistura dos gêneros, escolas literárias e suportes no reino da comunicação, preocupações com as questões da ecologia e do aquecimento da Terra, avanços tecnológicos na exploração do universo, fomentações de inter/multi/disciplinaridades nas ciências em geral, expansão do consumo e da reprodutibilidade, crise da razão proposital (tem filósofo que discorda), fragmentação dos discursos etc.
Explicações e esclarecimentos
Traduzindo: na minha opinião, ainda vivemos uma extensão da modernidade e seus valores culturais. Tudo isso para dizer que não uso e compactuo com o termo ou alcunha ‘pós-moderno’ como oposição à modernidade. Pois mesmo com o silêncio das vanguardas, ainda não vi uma grande ‘ruptura’ que caracterize e dê nomes aos bois: a humanidade e parte dos seus cientistas e pensadores ainda não deram um atestado científico e o status pertinente sobre o conceito em voga (existem pensadores que utilizam o termo ‘pós-moderno’ mais para criticá-lo do que a apropriação e a confirmação deste. Que é o caso do brilhante pensador Jean Baudrillard, falecido recentemente).
Conseqüentemente, também ainda não vi algo que distinga e concretize uma certa superação da ‘razão da modernidade’ (e olha que isso vem lá do passado, a partir da Revolução Francesa e da Revolução Industrial, que batizam a idade contemporânea), pois volto a reiterar: a modernidade ainda está em expansão, desdobra-se numa condição de contemporaneidades.
Pra finalizar, vejo o termo ‘pós-moderno’ como uma certa conveniência. Este ‘pós’, portanto, pouco significa. No lugar de ‘pós-moderno’ usaria outro termo: ‘contemporaneidades’. Ou talvez os dois termos se equivaleriam… Essa discussão é muito ampla: digna de um longo ensaio ou um livro. Todavia, ainda temos muitas dúvidas se, de fato, a ‘modernidade’ foi superada, mesmo observando que a ‘razão moderna’ e a ‘razão contemporânea’ não conseguem suprir todas as necessidades de explicações e esclarecimentos que as contemporaneidades demandam.
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Jornalista, pesquisador e escritor, graduado em Comunicação Social e pós-graduado em Jornalismo Contemporâneo (UNI-BH), Belo Horizonte, MG