Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Coberturas em zonas de guerra

Como atividade paralela à mostra “Assistência à Saúde em Perigo: Líbia e Somália no olhar de André Liohn”, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) promoveu uma mesa-redonda em São Paulo para discutir os principais desafios da cobertura jornalística em zonas de conflito armado, com a participação de repórteres brasileiros experientes no assunto. A iniciativa faz parte do entendimento do CICV de que o trabalho responsável dos jornalistas e dos meios de comunicação é importante na resposta humanitária em situações de conflitos e emergências.

A uma plateia de mais de 70 pessoas, o fotojornalista André Liohn, o jornalista e documentarista Lourival Sant’Anna e o jornalista Yan Boechat contaram suas experiências em zonas de conflito, o foco de suas coberturas e os principais desafios da imprensa nessas regiões durante conflitos e emergências. “É importantíssimo que possamos dar a esses confrontos um contexto, e que existam jornalistas que se preocupem com ouvir a história, onde a pessoa seja mais do que a matéria-prima, mas a razão da cobertura”, pontuou Liohn. Primeiro latino-americano a vencer o prêmio Robert Cappa com as fotos sobre a Líbia, o fotojornalista registra conflitos armados ao redor do mundo e suas consequências para as populações desde 2004.

Por ter visitado mais de 60 sessenta países, com coberturas de referência na imprensa brasileira sobre conflitos na Colômbia, Kosovo, Líbia, Afeganistão, Iraque e Geórgia, entre outros, Lourival Sant’Anna apresentou uma amostra do seu trabalho e falou sobre a rotina jornalística nesses contextos. Para ele, o trabalho de apuração torna-se ainda mais primordial em cenários de conflito. “Nas guerras existe muito a questão das versões, do controle e da propaganda”, afirma. “Isso é uma parte da guerra.” Sant’Anna afirma que a luta pela sobrevivência, a liberdade, o amor aos pais e à família, aos amigos, a generosidade, para ele são mais importantes do que o medo na guerra.

Assistência à saúde em perigo

Vencedor do prêmio Vladimir Herzog, o jornalista Yan Boechat abordou outro tipo de cobertura, que enfoca histórias cotidianas de pessoas que vivem a realidade da guerra. Ele lembra que “fora da cena intensa (dos combates), a alguns quilômetros de distância, a vida segue”. Boechat apresentou trabalhos realizados na Ucrânia e na República Democrática do Congo. “Eu tenho a sensação de estar vendo a história ao vivo quando estou numa situação como essa”, contou.

Para o CICV, a mídia tem um papel crucial em conflitos e emergências. “Muitas vezes a imprensa pode chamar a atenção para a gravidade de uma situação, ou, ao contrário, desmentir rumores. Para as vítimas, a informação pode salvar vidas”, afirmou a coordenadora de Comunicação do CICV para Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai Sandra Lefcovich, que mediou a mesa-redonda.

“O CICV está totalmente convencido da importância de que o exercício de informar seja feito com independência. Mas também com precisão”, conclui Lefcovich. “Dessa forma, os jornalistas podem contribuir para visibilizar crises humanitárias, mobilizar respostas e soluções para as vítimas, acender o alerta sobre crises, emergências, ou guerras esquecidas.”

A mesa-redonda “Desafios da Cobertura Jornalística em Situações de Conflito Armado e outras Emergências” faz parte da agenda da exposição fotográfica “Assistência à Saúde em Perigo: Líbia e Somália no olhar de André Liohn”, em cartaz na Biblioteca Parque Villa-Lobos, em São Paulo, até o dia 5 de julho. A mostra está aberta a visitação de terça a domingo sempre de 10h às 19h. A entrada é gratuita.

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Diogo Alcântara é jornalista