Sócrates não entrou para história por ter sido crédulo. E, no seu processo descrito por Platão, não foi disto que Meleto o acusou. Se ele era crente de alguma divindade, é temerário afirmar sobre a sua cova, pois ele nada deixou escrito para termos certeza. Muito do que dito ser dele, era mais provável ter sido de Platão colocando as suas idéias na boca silenciada. Seus narradores usaram-no mais como espólio para suas idéias do que como verdade. Mas o seu processo legal, dentro da democracia ateniense, foi por ser intolerante com os deuses da cidade.
Antes de reportar-se diretamente ao discurso de Meleto, no entanto, Sócrates vê-se obrigado a defender-se de um outro acusador, pior que ele: a multidão. Ela o acusou sempre de desprezar os deuses, de especular indevidamente sobre os mistérios do céu e da terra, de ser um sofista (no pior sentido da palavra) e de corromper a juventude.
O doutor em Filosofia Pedro Eduardo Portilho de Nader, que possui graduação em História pela Universidade Estadual de Campinas (1987), mestrado em Filosofia pela Universidade de São Paulo (1995) e doutorado em Filosofia pela Universidade de São Paulo (2000) me dedica um segundo texto no OI, agora de 10 folhas. No primeiro usou a palavra intolerância 27 vezes. Tolerância 0. Naquele artigo o nome de Paulo Bandarra foi citado de forma sistemática por 31 vezes, configurando um claro ataque pessoal dissimulado pela luz do saber filosófico. Contou o leitor Marcelo Idiarte, diagramador, de Porto Alegre, RS.
Suspensão da razão
No texto atual o termo intolerância apareceu 45 vezes. Tolerância apenas duas 2. Já Bandarra 50 ocorrências. Sintomático. O assunto era ‘idéias e argumentos’ colocados?
O doutor Eduardo Portilho garante que não quis me calar. Como se pudesse. Concede-me o que nem mesmo poderia tirar, pois nunca foi seu! Como a ‘democracia’ grega, não era objetivo calar Sócrates ateu. Comovente. Mas eu estava crente que agia em defesa dos religiosos que aqui tem aportado para pregar contra a ciência. Afinal, me acusar de ameaçador, de o OI ameaçar a paz na internet, das minhas palavras ameaçarem aqui neste reduto a existência mundial das religiões! E agiu rápido em defesa desta atividade humana ‘frágil’ que compra jornais, rádios, cinemas, televisões, congressistas, que sustenta exércitos, que amealha bilhões em dízimos…. ameaçados de existência pela minha manifesta intolerância. Conta outra, doutor!
Já aviso ao editor do OI que não perderei tempo em me delongar em responder a uma visão pessoal pouco interessante para o leitor. Como o primeiro texto, repetindo Meleto, não disse muito de idéias que se pudesse debater. Não eram suas intenções falar sobre elas, evidentemente. Mesmo porque desconfio muito da capacidade cognitiva do nosso articulista quando o mesmo alega que ‘Bandarra pretende criticar Popper’! Não, jamais critiquei Popper, em nenhum dos meus textos aqui no OI ou em qualquer outro local, mas sim aqueles que lêem Popper e acham que sabem ciência para dar veredictos. E demonstro que a ciência não estabeleceu a falsidade do geocentrismo ou a causa da tuberculose pelo bacilo de Koch por seus ensinamentos. Mas justamente Popper aprendeu com estes exemplos (e milhares de outros) o que era ciência. Como faz Enézio Eugênio de Almeida Filho, de Campinas, SP, professor e historiador de Ciência, ao usar Popper para analisar apenas, junto a leigos, o darwinismo, mas não o faz com o desenho pouco inteligente, com o teísmo, com a complexidade irredutível. A antifilosofia defendida pelo doutor em Filosofia com todas as letras. A suspensão da razão quando da análise de certos temas.
Desdém pela ‘administradora’
Mas persiste a sua falta de capacidade interpretativa grave, já demonstrada no primeiro texto, quando me atribui agora: ‘Exposta a fraude, Bandarra não contra-argumentou: calou-se sobre o assunto.’ Fraude? Aonde? Será que aquele texto eletrizante do mesmo atual acusador demandava retorno para acompanhar? Onze comentários? Por quê? Pelo autor de nível superior ou pelo texto fora do habitual das teorias conspiratórias? Tivesse voltado aquele texto, deveria fazer o que? Se não o relatório não era oficial, não era! Que conseqüência e benefícios tal ‘fraude’ me trouxe? Só posso deduzir uma incapacidade cognitiva para atribuir a isto uma ‘fraude’ e a uma ‘prova’ de falta de caráter. ‘Não sei tudo.’ Pecado mortal, me condena! Mas é a sua técnica de tirar frases fora do contexto.
Mas assim como as escolhas das profissões não se dão pelo acaso, por nada, caídos do céu, artigos de igual maneira possuem as suas motivações. E nem sempre nossos atos são dignos, é declarado, mas oculto, nos ensina Freud.
Diz-nos o doutor que não é antipositivista. Pena. Eu nunca preguei a adoração da ciência. Apelar para o uso da razão não é igual a adorar a ciência. A ciência como Augusto Comte pregava, a natureza como defendeu Ludwig Feuerbach, muito menos o estado como Maximilien de Robespierre, Josef Stalin ou o Reich de Adolf Hitler. Não surti nenhum efeito a adoração da ciência ou do conhecimento. Isto seria idéia de tolos. Isto está no OI na acusação contra os cientistas de tratarem a ciência como religião e serem fanáticos, literalmente com Michelson Borges e Douglas Reis, dois religiosos moderados típicos: ‘Endeusando Darwin …’, ‘No afã de idolatrar Darwin,’, ‘Para os cristãos legítimos, que aceitam a veracidade das Escrituras, Darwin não pode continuar usurpando o que a Deus pertence.’ É o seu entendimento ao igualar holocaustos animais a pesquisa científica. O efeito é tão inútil como adorar o irracional. Dele nada podemos tirar.
Atribui-me assim como em relação a ‘uma administradora’, tratada com nítido desdém ao ressaltar sua profissão (conforme nos comentários ao seu artigo do último dia 7). Uma frase tirada do contesto. Por ser administradora ou por ter me criticado o uso do Wikipédia?
Desfazendo mentiras
‘O site indicado por Douglas é muito bom, não porque quero ser contra o Bandarra, mas porque é ponderado e sem opiniões de quem ouve dizer aquilo, pesquisa um pouco no wikipedia, e tira conclusões precipitadas de atos isolados. Isso é coisa de papagaio que repete as coisas, sem se aprofundar pra conhecê-las’ Recife, PE – administradora Enviado em 8/4/2009 (O Douglas Reis é o teólogo criacionista que publica no OI contra a ciência, ensina as crianças os genocídios gozosos de Deus contra os cananeus (http://questaodeconfianca.blogspot.com/2007/06/destruio-dos-cananeus.html), aqueles que sentiram a alma lavada, junto com Michelson Borges (http://criacionista.blogspot.com/2008/05/um-deus-sanguinrio.html), referido pelo filósofo. Não é revelador?).
‘Recife, PE – administradora. Enviado em 9/4/2009 às 8:36:31 AM Gostaria de pedir desculpas ao senhor Bandarra, pelas minhas palavras, pois me excedi.’
Refere que não contra argumentei contra as suas opiniões pessoais. Mas está lá para quem entende o vernáculo. O mesmo que até hoje não demonstrou onde a religião cria tolerância, conhecimento melhor, e liberdade mais ampla, estimula a razão! Ele que alega isto que deve buscar na história, no passado, e principalmente na atualidade, provas disto. Perderei tempo com pessoas com dificuldade com as palavras? Apenas queria desfazer algumas mentiras do doutor em filosofia.
Escrever sobre tolerância
Não vou perder tempo com criancices:
– Você chamou Popper de feio
– Sócrates acreditava em papai do céu, sim. Se Sócrates acreditava…
– Eu não sou contra a ciência, você que é
– Você acha que quem sacrifica animais é um bárbaro, você é intolerante portanto.
– Churchill que fez a Inglaterra se opor à Alemanha hitlerista foi efetivamente uma tentativa cristã (Por um holocausto que ninguém sabia?). (As causas econômicas foram para baixo do tapete. Os fatos, ora, os fatos que vão às favas.)
– Ciência vale tanto quanto religião (Qual?) (É a tese dos criacionistas aqui no OI, entendo o seu raciocínio, doutor. Afinal, numa parada cardíaca, rezar produz o mesmo efeito.)
– Bandarra quis excomungar um ateu (puxa, professor, que pobreza, copiar a minha alegação para apresentar como sua).
– Religião não é irracional, Bandarra que é.
Até a minha citação da tuberculose como fato científico teve que copiar. Que originalidade.
Por uma defesa do irracional, para ganhar o aplauso de meia dúzia de criacionistas, os que ensinam crianças sobre os holocaustos necessários, o nobre Doutor em filosofia deixou na internet um testemunho para seus pares filósofos perceber quem ele é na verdade. Que pobreza de filosofia em defesa da antifilosofia. Tem um filósofo que defende a astrologia, e este que defende a imolação animal. Paro por aqui. O resto seguirá nos meus textos já escritos e nos futuros.
Ele está livre para escrever sobre tolerância. Não é para isto que ocupamos este espaço?
P.S: Peço desculpas para todos os articulistas que alguma vez fiz algum comentário e não mais voltei. Peço humildade para perceberem que nem todos os textos merecem mais de uma visita. Tenho esperanças que não tenham perdido o sono.
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Médico, Porto Alegre, RS