Alécio de Andrade tinha menos de 30 anos quando trocou o Rio de Janeiro por Paris, em 1964. Correspondente da revista Manchete a partir de 1966, o fotógrafo foi aceito como sócio, em 1970, na agência Magnum, a casa do mestre Henri Cartier-Bresson (1908-2004). Também colaborou com diferentes publicações, brasileiras e internacionais.
Amigo de artistas, escritores, intelectuais, Alécio de Andrade (1938-2003) inspirou Julio Cortazar (1914-1984), que escreveu um ensaio sobre Paris a partir de suas fotos, ‘Paris ou La Vocation de L´Image’.
Nos quase 40 anos em que viveu em Paris, Alécio manteve uma relação quase obsessiva com o Museu do Louvre, que frequentava sempre. Ao morrer, havia deixado cerca de 12 mil imagens dos diferentes ambientes do museu. É deste patrimônio que se retira o material para o livro O Louvre e Seus Visitantes, tema também de uma exposição, a ser aberta ao público no dia 24 de abril, no Instituto Moreira Salles, em São Paulo (Rua Piuaí, 844).
Suas fotos no museu, em preto-e-branco, registram ‘momentos decisivos’, flagrantes únicos, de visitantes em diferentes momentos de contemplação. São imagens bem-humoradas, delicadas, sugestivas ou intrigantes, fruto de muita observação, sorte e paciência.Alguns exemplos: Uma velha ao lado de um sarcófago. Três freiras diante das Três Graças, de Regnault. Duas crianças ajoelhadas diante de um Cristo pintado no século XV. Os filhos do próprio fotógrafo apontando para um nu de Ingres.
Fotos reveladoras
Esta é a segunda exposição dedicada à obra de Alécio em menos de um ano. Em agosto de 2008, o IMS abrigou, em sua sede, no Rio, uma mostra com 265 imagens do fotógrafo e publicou um livro-catálogo com o trabalho.
O livro e a exposição de fotos sobre o Louvre ocorrem dentro da programação do Ano da França no Brasil. No dia 24/4, Jean Goulard, ex-diretor do serviço cultural do museu, dará uma conferência no auditório do IMS, às 19hs, intitulada ‘O Louvre e seus públicos: uma política cultural’ [inscrições pelo tel. (11) 3825-2560].
Em prefácio para o livro, o sociólogo francês Edgar Morin escreve sobre o papel do Louvre no imaginário antigo e atual. Primeiro, ‘é o museu inteiro que convoca a um imaginário que lhe é próprio, labirinto esmagador repleto de história, carregado de uma memória que remonta às mais distantes civilizações, de lembranças de rapinagens e conquistas (…); luxo, imensidão, estranheza, peso do poder e da riqueza também são componentes da desestabilização do visitante do Louvre’.
Nos dias de hoje, tomado por multidões de turistas (8,5 milhões de visitantes em 2008), contata-se no Louvre, escreve Morin, ‘a amálgama entre uma cultura cultivada, entretanto ainda praticada por um pequeno número, e uma cultura de massa, uma cultura do lazer ou do turismo na qual o choque estético (…) não passa, para a imensa maioria, de uma impressão difusa, o que vários serviços do museu tentam remediar por intermédio de todo tipo de produtos e acontecimentos capazes de esclarecer o visitante’.
É nesse contexto, conclui Morin, que as fotos de Alécio, tal qual um etnólogo, revelam ‘um espantoso abandono dos corpos, uma liberdade’.
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Repórter especial do iG