A fotógrafa alemã Anja Niedringhaus morreu e a jornalista canadense Kathy Gannon ficou ferida após um policial abrir fogo contra elas na província de Khost, no Afeganistão, na véspera da eleição presidencial.
As correspondentes trabalhavam para a agência Associated Press e tinham muita experiência na cobertura de conflitos. Quando foram alvejadas, elas viajavam de carro para o distrito de Tani, acompanhando a distribuição de cédulas eleitorais – evento normalmente realizado sob forte esquema de segurança.
Anja morreu quase imediatamente devido a ferimentos na cabeça, e Kathy foi levada ao hospital após ser baleada duas vezes. Ela passou por cirurgia e sua condição foi descrita como estável.
O atirador foi identificado como Naquibullah, um tenente da polícia local que começou a trabalhar na província de Khost há cerca de um ano. Após se aproximar do carro e abrir fogo contra as jornalistas usando uma AK47, ele se rendeu. Naquibullah está foi preso e está sob investigação.
Zabihullah Mujahid, porta-voz do Talibã, declarou que o grupo não possui qualquer envolvimento no caso. “Esta parece ser uma questão particular. Ele não tem nenhuma ligação com o Talibã e não assumimos a responsabilidade pelo ataque”, declarou.
Profissão para os bravos
A AP prestou homenagem às duas jornalistas. “Anja e Kathy passaram anos juntas no Afeganistão, cobrindo o conflito e a vida de seus habitantes. Anja era uma jornalista dinâmica, forte, adorada por suas fotografias perspicazes, por seu coração caloroso e por sua alegria de viver. Estamos inconsoláveis ??com esta perda”, declarou Kathleen Carroll, editora-executiva da agência.
Gary Pruitt, presidente da AP, também se manifestou em um comunicado direcionado à equipe da agência de notícias. “Anja é o 32º funcionário da Associated Press a dar sua vida em busca das notícias desde que a agência foi fundada, em 1846”, escreveu. “Esta é uma profissão para os bravos e apaixonados, para aqueles comprometidos com a missão de levar a informação justa, precisa e importante ao mundo. Anja Niedringhaus conhecia essa definição em todos os sentidos”.
Odd Andersen, jornalista da Agence France-Presse baseado em Berlim, publicou um tributo à ex-colega no jornal britânicoThe Guardian: “Anja merece ser lembrada como uma das melhores fotojornalistas das últimas duas décadas, e uma das mais dedicadas. Ela trabalhou incansavelmente durante 20 anos, sem parar. Sei que familiares e amigos de Anja vão sentir a perda, mas as pessoas no Afeganistão, Iraque e Bósnia também vão. Ela deu voz às pessoas carentes”.
O presidente afegão, Hamid Karzai, também expressou pesar pela morte de Anja e pelo estado de saúde de Kathy.
Vida e obra
Anja começou sua carreira como fotógrafa freelancer aos 16 anos, trabalhando para um jornal local de sua cidade natal, Hoexter, na Alemanha, e foi funcionária da agência europeia Photo Press antes de ingressar na AP, em 2002.
A fotógrafa tinha dois livros lançados, e também cobriu vários eventos esportivos pelo mundo, chegando a receber diversos prêmios por suas obras. Fez parte de uma equipe da AP vencedora do Prêmio Pulitzer de 2005 na categoria de reportagem fotográfica, pela cobertura da guerra no Iraque. E foi agraciada com o Courage in Journalism Award, prêmio concedido pela International Women's Media Foundation. Entre 2006 e 2007, Anja estudou na Universidade de Harvard após receber a prestigiada bolsa Nieman Fellowship.
Outros casos
O ataque a Anja e Kathy foi o terceiro contra jornalistas no Afeganistão em menos de um mês. O repórter de rádio sueco-britânico Nils Horner foi assassinado em um bairro central de Cabul em 11/3. Menos de duas semanas depois, o repórter afegão Ahmad Sardar foi morto a tiros juntamente à esposa e aos dois filhos num hotel de Cabul, onde a família comemorava o ano novo persa.