A marcha que reuniu mais de dois milhões de pessoas em Paris, no domingo (11/1), em memória às vítimas do atentado no Charlie Hebdo, também contou com presenças controversas. Organizações e ativistas em defesa da liberdade de imprensa criticaram a participação de representantes de países que, ironicamente, pouco respeitam a liberdade de imprensa e de expressão. Entre eles estavam autoridades do Egito, Turquia, Argélia, Rússia e Emirados Árabes Unidos.
“Nós devemos nos solidarizar com o Charlie Hebdo sem esquecer dos outros ‘Charlies’ do mundo”, afirmou Christophe Deloire, secretário-geral da organização Repórteres Sem Fronteiras, que tem sede em Paris. Para Deloire, é lamentável que líderes de “países que reduzem seus jornalistas ao silêncio” possam usar um momento de união e homenagem à liberdade de imprensa para melhorar sua imagem internacional.
Cerca de 40 líderes mundiais participaram da marcha. Junto ao presidente francês, François Hollande, estavam o premiê britânico, David Cameron, e a chanceler alemã, Angela Merkel. Estavam presentes ainda o primeiro-ministro turco, Ahmet Davuto?lu, o xeque Abdallah ben Zayed al-Nahyan, dos Emirados Árabes Unidos, e os ministros do Exterior do Egito, Sameh Choukry, Rússia, Sergei Lavrov, e Argélia, Ramtane Lamamra.
Censura e jornalistas na cadeia
A Turquia ocupa o 154 º lugar de 180 países no ranking de liberdade de imprensa da Repórteres Sem Fronteiras. Hoje, cerca de 70 jornalistas turcos enfrentam a justiça por fazer referências a alegações de corrupção contra aliados do ex-premiê, Recep Tayyip Erdo?an, que atualmente é o presidente do país.
A Rússia, que ocupa a 148ª posição da lista, tem diversos jornalistas e ativistas presos por simplesmente discordar do governo de Vladimir Putin. Em dezembro, 20 ativistas foram presos em Moscou após protestar contra a condenação do advogado e blogueiro Alexei Navalny, crítico ao Kremlin.
Na Argélia (121º posição), marchas e protestos públicos são proibidos. Nos Emirados Árabes Unidos, que ocupam o 118º lugar, o governo aproveita as tensões políticas da região para exercer controle sobre as informações e comunicações.
Atualmente, o Egito, que aparece na 159º posição do ranking, mantém 16 jornalistas presos – entre eles estão três profissionais da al-Jazeera, condenados em um julgamento rápido e confuso por “disseminar notícias falsas”.