Thursday, 07 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1313

Domingão preguiçoso nos jornais

Um indício de que o presidente Barack Obama deixou de ser o queridinho da nossa mídia pode ser encontrado no pífio noticiário dos jornalões de domingo (9/1) sobre o atentado terrorista no estado americano do Arizona contra a deputada democrata Gabrielle Giffords.


O fato aconteceu em Tucson às 10 da manhã de sábado, 15 horas em Brasília. Havia tempo de sobra para avaliar aquele monte de informações que a mídia americana disponibiliza em minutos.


Os exemplares distribuídos pela Folha e Estadão aos seus assinantes em São Paulo – aqueles que supostamente devem ser agraciados com um produto mais qualificado – continham uma precária cobertura. A Folha ainda conseguiu enfiar uma chamadinha na parte inferior da capa, o Estadão nem isso.


Aos assinantes paulistanos, O Globo nada ofereceu e aos cariocas – sua praia – um modesto destaque abaixo da dobra.


Se fosse um atentado contra algum líder direitista do Tea Party a cobertura teria sido histérica. A deputada Gabrielle Giffords sobreviveu à bala que atravessou o seu crânio, defende o revolucionário programa de saúde de Obama, é a favor do aborto e contra os superpoderes que o Arizona quer dar aos seus policiais. Por isso estava na lista negra do grupo ultraconservador liderado por Sarah Palin.


Primeira página


O jovem que planejou e executou o atentado matou seis pessoas, três delas a ligadas à parlamentar. Era leitor do Mein Kampf de Adolf Hitler. A deputada é judia, o assassino a conhecia muito bem.


O Arizona adotou há pouco uma draconiana legislação de cunho racista para punir os imigrantes ilegais vindos do México e o clima político no estado radicalizou-se. O atentado terá profundas implicações na vida política americana já que hoje começaria a ofensiva dos republicanos para derrotar Obama no Congresso.


A mídia brasileira esqueceu o seu fascínio inicial por Obama e passou a ecoar as críticas contra o ‘socialismo’ do primeiro negro a ocupar a Casa Branca. Ideologias à parte, a verdade é que mais uma vez se comprova que os nossos diários saem setes vezes por semana, mas só podem ser considerados informativos de terça a sábado.


Convém lembrar que a edição latino-americana do espanhol El País impressa em São Paulo destacou o atentado em manchete de primeira página e lhe dedicou duas páginas inteiras. O jornal é feito em Madri cujo fuso horário, ao contrário do brasileiro, rouba-lhe três horas.


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Em Tempo: O noticiário de segunda-feira (10/1) confirma as suspeitas de um tratamento ‘especial’ dado à cobertura do atentado de Tucson. As editorias internacionais souberam identificar na chacina o veneno da radicalização produzido pelo Tea Party & Afins e ofereceram aos leitores um bom noticiário. Mas os editores das capas trabalham com outros paradigmas: numa segunda-feira paupérrima preferiram manter sob controle uma onda emocional a favor de Obama e contra a extrema direita americana.