Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

‘New York Post’ inflaciona número de mortos

O New York Post provou, na segunda-feira [15/4], sua “independência editorial”. Enquanto quase toda a mídia divulgava que o número de mortos no atentado de Boston era de duas pessoas, o jornal publicou ser de 12. Desde então, autoridades atualizaram o número para três. Diante do número oficial, ainda assim o Post conseguiu encontrar uma forma de manter a contagem em 12.

Na terça-feira [16/4], o diário afirmou que houve duas explosões na linha de chegada da Maratona de Boston com segundos de diferença, começando às 14h50; que três outras bombas não detonadas foram descobertas posteriormente pelas autoridades; que uma fonte do governo teria afirmado que havia pelo menos 12 mortos e que 132 pessoas foram tratadas em sete hospitais da região.

Já na quarta-feira [17/4], o jornal divulgou que as duas explosões feriram 176 pessoas – 17 em estado grave, segundo autoridades. A contagem oficial de mortos ainda era de três, mas um funcionário do governo teria dito ao Post que “poderia ser de 12”. Ainda segundo a matéria do Post, uma testemunha teria contado a outro jornal, o New York Times, que parecia haver de 10 a 12 fatalidades, incluindo “mulheres, crianças e maratonistas”. Os ferimentos pareciam ser na “parte inferior do tronco – o tipo que se vê de alguém explodindo”.

Há dois possíveis cenários nesse caso, avalia Erik Wemple em seu blog sobre mídia no site do Washington Post:

** O New York Post está certo. Se for o caso, trata-se de uma fonte fantástica, que sabe mais do que o FBI, o governador de Massachusetts e o prefeito de Boston juntos. E essa fonte tem informações que não batem com as declarações consistentes que autoridades públicas e médicas fizeram em diversas coletivas de imprensa desde o episódio. A discrepância entre a contagem oficial e a do New York Post é de nove mortes. “O jornal deve a seus leitores uma ampla explicação de como continua a mencionar esse número”, diz Wemple.

** O New York Post está errado. Wemple entrou em contato com a empresa de relações públicas do New York Post, Rubenstein Strategic Communications and Media Relations. Ao mesmo tempo, tentou falar com alguém da redação sobre as 12 matérias publicadas sobre o episódio. Ao ligar para o celular de um repórter cujo nome estava listado em um dos artigos, ele não quis responder às perguntas sobre a contagem de mortes e deu a Wemple um número de telefone com o qual ele poderia obter mais informações, mas se recusou a fornecer o nome de algum editor responsável. Ao ligar para o número, Wemple foi direcionado à empresa de RP.

A parte mais sem sentido da história, diz Wemple, é a referência a uma reportagem do New York Times. Na verdade, uma testemunha contou ao diário, sem ter certeza dos números, que poderia haver de 10 a 12 mortos – o que está em uma das primeiras matérias publicadas pelo NYTimes. Em artigos posteriores, no entanto, não há mais a fala da testemunha citada pelo New York Post – que, em sua matéria, retirou a parte em que ela falava não ter certeza do número. Ou seja, tudo pode ter começado por uma citação de uma testemunha a outro jornal; testemunha que nem ao menos tinha certeza do que falava.