Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O sinal, a semiótica e a imprensa carola

Nesta segunda-feira (13/4) de manhã, o jornalismo global resolveu pegar no pé do atacante do Corinthians que comemorou com um sinal o gol que deu a vitória ao seu time no último minuto do jogo.



Com o empurrão da imprensa esportiva o caso tomou proporções épicas:


http://esporte.ig.com.br/futebol/2009/04/12/cristian+pode+ser+denunciado+
no+tjd+mas+pega+tricolor+no+morumbi+5488993.html


Os jornalistas parecem ter se esquecido que uma cultura se distingue das demais pela vitalidade de sua língua, símbolos e sinais característicos. Alguns podem não gostar do sinal feito pelo jogador corintiano, mas ninguém pode censurar-lhe por ter se comunicado com os torcedores de maneira tão eficiente.


A semiótica se ocupa de símbolos e sinais, mas não faz qualquer valoração moral sobre os mesmos. Quando as propriedades culturais de um sinal são estudadas o que interessa é sua capacidade ou não de comunicar.


Eunucos ou coroinhas


Qualquer garoto brasileiro de 10 anos de idade que goste ou não de futebol conhece o sinal feito por Cristian e sabe que o mesmo pode significar desprezo ou afirmação da própria virilidade. Note-se, ademais, que o falo é ‘…considerado em toda parte um signo de fecundidade, das energias especiais e cósmicas e da fonte da vida; por isso é utilizado freqüentemente como amuleto e venerado como imagem de culto…’ (Dicionário de Símbolos, Herder Lexikon, São Paulo, Cultrix).


O gol é o objetivo da partida de futebol e define seu resultado. O jogo em questão estava 1 a 1. Como a vantagem do empate era do São Paulo, o resultado até então poderia ser considerado uma derrota para o Corinthians. O gol de Cristian mudou o resultado e inverteu a lógica da semifinal. Portanto, pode-se dizer que o símbolo fálico que o jogador fez após seu chute foi bastante apropriado. Cristian fertilizou seu time e tinha todo direito de demonstrar desprezo pelos oponentes. Além disto, os são-paulinos fariam o mesmo sinal para os corintianos caso o resultado fosse outro.


Numa disputa de futebol, existem perdedores e vencedores. O vencedor pode e deve exultar – é o que se espera dele. Do perdedor, esperamos que tenha brio e sofra até uma nova vitória. Entretanto, em razão do alarido feito pela mídia, é bem possível que o TJD impeça Cristian de disputar a próxima partida. Isso seria uma tremenda injustiça. Uma injustiça provocada por jornalistas carolas que ignoram semiótica, demonstram desprezo pela verdadeira cultura brasileira e pretendem transformar todos os jogadores em eunucos ou coroinhas.

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Advogado, Osasco, SP