O soldado americano Bradley Manning, acusado de ser o responsável pelo maior vazamento de segredos de Estado da história dos EUA, procurou o New York Times e o Washington Post antes de repassar centenas de milhares de documentos confidenciais para o WikiLeaks quando servia como analista do serviço de inteligência em Bagdá, entre 2009 e 2010. A revelação foi feita em uma declaração de 35 páginas que Manning leu no tribunal na base militar de Fort Mead, no estado de Maryland, onde fica a sede da Agência de Segurança Nacional.
O soldado será julgado por 22 acusações. Pela primeira vez, ele se declarou culpado de 10, entre elas a de mau uso de material confidencial, mas se disse inocente da mais grave delas, a de que teria ajudado o inimigo.
Manning afirmou que, em janeiro de 2010, quando estava em Washington, entrou em contato com o Washington Post perguntando se o jornal estaria interessado em receber informações “imensamente importantes para o povo americano”. Quem atendeu, segundo ele, foi uma mulher que disse ser repórter e não pareceu levá-lo a sério. O soldado procurou então o New York Times. Ligou para o ombudsman, mas caiu na secretária eletrônica. Tentou outros números no jornalão, mas também foi encaminhado para a caixa de mensagens – deixou uma mensagem com os contatos de sua conta no Skype, mas não recebeu retorno. Manning disse ainda que pensou em ir ao site Politico, em Washington, mas o mau tempo atrapalhou seus planos.
O preço da guerra
Na declaração, o soldado contou como baixou e repassou documentos confidenciais para o WikiLeaks. Entre eles estava o vídeo de um ataque de helicóptero a civis no Iraque, além de registros de guerra e centenas de milhares de telegramas diplomáticos.
Manning disse que acreditava que os telegramas de embaixadas e consulados não iriam prejudicar os interesses dos EUA; imaginou que iriam apenas envergonhar o governo ao revelar negociações de bastidores.
Sobre os registros das guerras do Iraque e Afeganistão, ele afirmou que sentia que eles revelariam “o verdadeiro preço da guerra”. “Eu senti que estávamos arriscando tanto por pessoas que não pareciam dispostas a cooperar conosco, levando a frustração e hostilidade em ambos os lados. Eu comecei a ficar deprimido com a situação em que estávamos presos ano após ano”, declarou. “Estávamos obcecados por capturar e matar alvos humanos em listas e estávamos ignorando objetivos e missões. Eu acreditava que se o público – especialmente o público americano – pudesse ver isso, provocaria um debate sobre as forças armadas e nossa política externa aplicada ao Iraque e ao Afeganistão. Poderia levar a sociedade a reconsiderar a necessidade de nos dedicarmos ao contraterrorismo enquanto ignorávamos a situação humana das pessoas com quem lidávamos todos os dias”.