Há um escândalo em andamento na política de São Paulo, mas a imprensa paulista parece pouco animada a fazer investigações. A Folha de S.Paulo foi o primeiro diário da chamada grande imprensa a noticiar o caso, reproduzindo no dia 24 de setembro uma entrevista concedida pelo denunciante, o deputado estadual Roque Barbiere, ao jornal Folha da Região, de Araçatuba, em 10 de agosto. Mas depois se recolheu, enquanto o Estado de S.Paulo passou a se interessar mais pelo assunto.
Mas em nenhuma hipótese os dois diários manifestam um interesse sequer aproximado do que sempre demonstraram por outros escândalos. Na edição de terça-feira (4/10), a Folha prefere noticiar a intenção de procuradores federais de investigar a atuação do ex-ministro Antonio Palocci como consultor de empresas. E o Estadão oferece uma página inteira ao suposto esquema da Assembléia Legislativa, com uma pequena “chamada” na primeira página, e esse é o maior destaque que o caso já obteve.
Pauta quente
Trata-se de uma denúncia, feita inicialmente pelo deputado Barbiere, do PTB, segundo o qual pelo menos 30% dos integrantes da Assembléia Legislativa paulista cobram propina para aprovar emendas ao orçamento que interessam a prefeitos.
Proporcionalmente, pode ser um escândalo mais grave do que aquele que ficou conhecido como “mensalão”, porque indica que um terço dos deputados estaduais de São Paulo são corruptos. E, por extensão, faz respingar a lama no Palácio dos Bandeirantes, que, afinal, administra os recursos do estado.
O Estadão dá ao governador Geraldo Alckmin o direito de defesa, e o chefe do governo afirma que espera o denunciante revelar todos os nomes para iniciar uma investigação oficial. Observa ainda que é fácil relacionar os deputados às emendas que defenderam, pois está tudo publicado no portal do governo na internet.
O governador se isenta de qualquer participação afirmando que apenas libera os recursos, que são aplicados sob responsabilidade das prefeituras.
Na mesma edição de terça-feira, uma testemunha depõe contra um ex-deputado, que afirma estar sendo perseguido por haver abandonado a Igreja Renascer, insinuando que a organização religiosa, da qual fez parte durante 17 anos, anda envolvida em falcatruas.
O enredo começa a revelar aspectos instigantes, capazes de estimular a curiosidade do mais distraído dos repórteres. Mas os grandes jornais ainda não manifestaram interesse em procurar gravações, depoimentos, sinais exteriores de riqueza.
Alguns escândalos são feitos para mobilizar, outros são administrados para fazer o leitor cochilar.
Observatório da Imprensa na TV
Sob o comando de Alberto Dines, os debatedores convidados discutem a crise no Judiciário, provocada pela proposta de reduzir os poderes do Conselho Nacional de Justiça.
A questão foi suscitada por uma ação da Associação dos Magistrados Brasileiros, que acionou o Supremo Tribunal Federal contra o controle externo exercido pelo CNJ, alegando que os juízes devem ser investigados apenas pelas corregedorias internas dos tribunais.
Na semana que passou, o ministro Cezar Peluso, presidente do STF, entrou em controvérsias públicas com a corregedora Eliana Calmon, defendendo o fim da ação direta do CNJ na punição de membros da Magistratura. Mas depois de haver sido acusado de defender interesses corporativos, o ministro assumiu uma posição conciliatória. Esclareceu que defende a ação do CNJ depois de esgotado um prazo para a atuação das corregedorias internas.
No fim de semana, ele concedeu entrevistas à Folha de S.Paulo e ao Valor Econômico, procurando desmentir que tenha intenção de reduzir os poderes do Conselho. (As entrevistas podem ser lidas no portal do STF na internet).
Vão participar dos debates Maurício Azêdo, presidente da Associação Brasileira de Imprensa, o presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil, Ophir Cavalcante, e o jornalista João Bosco Rabello, do Estado de S.Paulo.
Por meio de entrevistas, serão ouvidos ainda o jurista Dalmo Dallari, o repórter Chico Otávio, do Globo, o magistrado João Batista Damasceno, da Associação de Juízes para a Democracia, o secretário executivo da Comissão Brasileira de Justiça e Paz, Pedro Gontijo, e a advogada Taís Gasparian.
O Observatório da Imprensa vai ao ar nesta terça-feira às 22 horas, pela TV Brasil, ao vivo, em rede nacional. Em São Paulo pelo canal 4 da NET e 116 da Sky. [Com Lucas R. Campos]