O projeto do Labjor tem significados concêntricos. Em primeiro lugar, estamos todos acostumados, mesmo os brasileiros que vivem fora do Brasil, a ver um país abúlico ou então desperdiçando-se em espasmos, mas sempre com a sina da inconclusão. O Labjor pretende ser o contrário – uma experiência para ficar. O Laboratório foi concebido de uma forma contrária ao utopismo planetário aqui vigente. No Brasil, como não há nada, todos querem começar fazendo o grande e o fantástico, apostando nos projetos fechados, decretados e definitivos, sem retoques.
Optamos por um caminho diferente. Optamos pela metáfora da semente – a reprodução miniaturizada do organismo fadado a crescer. A semente, apesar do tamanho, contém tudo. O tempo trabalha em seu favor, confere-lhe oportunidade para crescer o projeto que o concebeu.
O segundo significado advém da nossa razão social. E estamos criando um Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo, preocupados com a qualidade do jornalismo brasileiro, mas também preocupados com o Brasil que vai resultar do jornalismo contemporâneo. Portanto, esta não é apenas uma entidade profissional, mas também uma entidade política (em seu sentido maior).
Nos debates, artigos e simpósios sobre a imprensa sempre aparecem as vozes conformistas afirmando que a imprensa não é nem a melhor nem a pior que o Brasil: ela é igual. Há nisso um erro de avaliação. A imprensa é o espelho do país, mas, como todos os espelhos, é um instrumento polido e trabalhado, para que possa representar não só a imagem do que está refletido, mas aquilo que o objeto gostaria de parecer. A imprensa não deve ser reprodução exata do país que a produz. Tem que ser melhor – para servir de estímulo e fornecer os desafios.
Queremos ajudar a produzir melhores jornalistas, ajudar os atuais profissionais a se desenvolverem (pessoal e profissionalmente), e ajudar as empresas jornalísticas em, projetos específicos. O objetivo é criar condições para que a sociedade brasileira tenha um espelho melhor de si mesma.Que tenha objetivos mais elaborados e metas mais condizentes com o nosso potencial, os quais só um prisma refinado pode fornecer.
O Labjor vai atuar em três áreas: a) desenvolvimento profissional e pessoal dos jornalistas; b) suporte técnico-jornalístico às empresas; c) formação de novos quadros (objetivo final).
Pretendemos estimular os profissionais a acreditar no conceito de educação continuada. Vamos promover cursos, workshops e programas de especialização convocando os profissionais mais experientes e utilizando o maravilhoso universo da universidade, especialmente de um centro de saber como é a Unicamp.
Pensamos no elemento humano, mas também pensamos nas empresas desejosas de vencer os impasses que impedem a qualificação de nossos veículos jornalísticos. Temos visto que muitas empresas preocupadas com a qualidade do que produzem, recorrem a
Prestigiosas instituições estrangeiras e que, evidentemente, nada conhecem ou têm a ver com nossa realidade.
A formação de novos quadros é nosso objetivo último, nossa meta final. Faremos um curso de pós-gradução, profissionalizante, aberto a todas as ares, a todos os licenciados e graduados, de forma tal que possamos ter, dentro da redação, não mais os ‘especialistas em idéias gerais’, mas especialistas que saibam trabalhar as informações para o grande público sem adulterar o seu teor.
Estamos no bom caminho. Temos um projeto, um objetivo e, sobretudo, temos um elenco de outros protagonistas e interlocutores para nos prestigiar.
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Editor-responsável do Observatório da Imprensa, pesquisador sênior do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Unicamp (Labjor)