Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Sem mídia competente o país não será competitivo

Não houve nem haverá uma idade de ouro. Aceita-o quem reconhece a sabedoria do Eclesiastes. Os que preferem algo mais contemporâneo podem se fiar em Walter Benjamin:

‘Nunca houve um monumento da cultura que não fosse um monumento da barbárie. E, assim como a cultura não é isenta de barbárie, não o é tampouco o processo de transmissão da cultura’.

Tanto mais importantes se tornam a ética, os valores morais, os princípios, o humanismo.

Se não houve a Queda e se não caminhamos para a Redenção, trata-se de operar no presente, na vida de hoje, ínfimo ponto na trajetória que leva ao amanhã, mas que compreende, num tempo histórico, todo o percurso de cada geração.

Isso diz respeito à aventura humana e, portanto, ao jornalismo. Na medida em que precisamos, para viver, nos informar a cada dia que nasce, precisamos dos melhores meios de informação.

O Observatório da Imprensa não nasceu como reduto dogmático e desencarnado. Nasceu há oito anos para intervir diretamente em seu contexto espacial e temporal. Todos os seus textos são assinados. Todos partem da análise dos processos, dos fatos e da maneira como eles são condensados em veículos da mídia.

O trabalho do OI é incompleto, mas metódico. Fornece chaves de compreensão.

Partilha as falhas evidentes das inadequadamente chamadas ciências humanas, até aqui incapazes de conquistas básicas, como evitar a guerra e a fome, controlar a violência, dar oportunidades iguais. A tecnologia social é assustadoramente pobre quando comparada à tecnologia propriamente dita. A academia deveria baixar a crista e trabalhar melhor. Os jornalistas, seus parceiros, também.

Substância social

Quando as novas tecnologias da comunicação já em experimentação TV digital, onipresença de chips e de canais de transmissão, por exemplo chegarem à maturidade, o processo da informação praticado hoje parecerá pré-histórico. Isso acontecerá em não mais do que 15 anos. Até onde a vista alcança, a maior diferença será o fim do monopólio da distribuição da notícia (análise, comentário etc.), uma via de mão única que, por isso mesmo, deixa espaço para todo tipo de manipulação, das mais inocentes às mais nefastas.

O processo que suplantará o monopólio já começou e o OI pode se orgulhar de ter navegado nas primeiras ondas dele que chegaram ao Brasil. Nenhum veículo recebe e repassa tanto conteúdo produzido por seus destinatários.

Agora é necessário entender o que desafia o Observatório nos próximos anos.

Esperançosamente, podemos supor que um ciclo da democratização da vida brasileira está se completando. O impeachment de Collor e a eleição de Lula, dez anos depois, o atestam.

A crise da mídia abre flancos para soluções antidemocráticas, cujo preço seria pago por já se sabe que classes sociais. Superar a crise da mídia é precondição para manter as condições de liberdade e criar instituições mais sólidas.

Falta a substância social da democracia. O Brasil não pode ser economicamente tão pequeno e tão desigual. Seria condenar o povo à pobreza e ao conflito, submeter a democracia a um desgaste insuportável. Mas a globalização econômica é dura, competitiva. E não respeita nem a Muralha da China.

Processo de esclarecimento

A opinião pública brasileira carece de ferramentas para entender o que deve ser melhorado, que oportunidades devem ser aproveitadas, que erros devem ser evitados. Sem uma mídia que seja capaz de no mínimo colocar os problemas com clareza, nada feito. E é preciso querer mais: que a mídia seja capaz de trazer ao debate as soluções possíveis e até as ‘impossíveis’.

Sem mídia competente o país não será competitivo.

Isso não é problema de jornalistas e donos de veículos de comunicação. Não é problema de governos ou corporações. Não é problema de publicitários e anunciantes. É problema nacional. Precisa receber tratamento nacional, tanto quanto a educação, a cultura, a saúde, a habitação, a infra-estrutura, o meio ambiente, a segurança.

O Observatório da Imprensa, na internet e na televisão, é um instrumento, indireto mas valioso, desse processo de esclarecimento que cumpre ampliar. Seus oito anos de vida lhe dão maturidade para explorar novos desdobramentos, novas parcerias, novas audiências.