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O inesperado impeachment do presidente Fernando Lugo escancarou a fragilidade das convicções democráticas na América do Sul. Dentro e fora do Paraguai.
Em Assunção, montou-se uma farsa parlamentar para atender as aparências e como resultado, um presidente eleito democraticamente foi escorraçado de forma sumária pela maioria oposicionista, nove meses antes de eleições onde seria julgado pelos eleitores.
Nos poderosos vizinhos, Brasil e Argentina, o golpe parlamentar não foi aceito tão resignadamente. Os governos de Cristina Kirchner e Dilma Rousseff reclamaram contra a ilegalidade. Decepcionante e mais do que isso, assustadora, foi a atitude contemplativa e acrítica da grande imprensa brasileira e portenha. Geralmente aguerridos e indignados quando percebem alguma ameaça às liberdades no continente, os três jornalões brasileiros e os dois argentinos foram indulgentes: estranharam o rito sumário no Congresso mas acabaram conformados com o acatamento pelo Judiciário do putsch parlamentar.
Se a imprensa argentina e brasileira estivessem mais comprometidas com a democracia, os respectivos governos teriam sido mais veementes em repudiar o golpe. Foi pífia a penalidade imposta ao Paraguai na reunião do Mercosul em Mendoza: suspender o Paraguai até as próximas eleições e substitui-lo pela Venezuela (que não chega a ser um pilar democrático). É um convite para que a América Latina volte ao regime do relativismo e das ambiguidades.
E tudo porque o golpe paraguaio aconteceu na véspera do fim de semana e os editorialistas brasileiros estavam sem ânimo para assumir o seu papel de defensores da democracia.