Wednesday, 04 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

A guerra diária da imprensa venezuelana

[Programa exibido em 24/11/2009]

Bem-vindos ao Observatório da Imprensa.

Tragédias são filhas da cegueira. Entregues às paixões, aferrados às suas razões os personagens de uma tragédia esquecem que naquele mesmo momento outras paixões empurram os demais protagonistas em direção contrária. Na Venezuela está sendo armado um confronto cujas consequências podem ser trágicas.

Como testemunhamos no primeiro programa desta série foram destruídas todas as possibilidades de diálogo ou negociação. E o pior é que as pessoas que relatam esta situação são extremamente lógicas, racionais. Conformam-se com a ruptura como se fosse a coisa mais natural do mundo. Estão enganadas: a coisa mais natural do mundo são as aproximações.

O perdão não se decreta afirmou a socióloga Mariclen Steeling mas tréguas podem ser pactuadas e anistias fazem parte do arsenal jurídico dos modernos sistemas políticos. O tremendo erro da mídia venezuelana ao abrigar o golpe anti-Chávez em 2002 não pode servir eternamente de pretexto para a guerra midiática. Isso aconteceu há sete anos. O castigo eterno é próprio das mentalidades fundamentalistas.

Está ficando claro que o problema da Venezuela começa com uma democracia falaciosa onde a inexistência de partidos empurrou a mídia para ocupar o lugar das câmaras legislativas. E assim, para acabar com uma hegemonia tenta-se substituí-la por outra hegemonia.

Intoxicados pelo ressentimento os protagonistas do embate venezuelano esquecem que o problema está exatamente na busca irracional de hegemonias. O equilíbrio entre os poderes é a base do sistema representativo. O regime verdadeiramente justo é aquele que resulta da pluralidade. Sem ela tudo se transforma em slogan e grito de guerra.

A tragédia venezuelana é que já não há lugar para o jornalismo. Todas as partes se transformaram em propagandistas. Lamentamos.