Wednesday, 01 de January de 2025 ISSN 1519-7670 - Ano 25 - nº 1319

A mídia e seu papel nas denúncias


Bem-vindos ao Observatório da Imprensa.


Nosso último programa sobre o jornalismo investigativo continua repercutindo. Hoje recebemos a manifestação do jornalista Mário Magalhães da Folha de S. Paulo citado durante a intervenção de Joaquim de Carvalho. Embora defendido pelos demais convidados este Observatório faz questão de reproduzir a sua opinião. Escreveu Mário Magalhães: ‘Um dos maiores desafios do jornalismo brasileiro na última década foi a cobertura das mortes de PC Farias e da sua namorada Suzana Marcolino, em 96. Com base num laudo coordenado pelo médico-legista Badan Palhares, a Polícia divulgou que Suzana matou PC e se suicidou. Em 1999 o caso foi reaberto graças a uma reportagem publicada pela Folha de S. Paulo. A Polícia e o Ministério Público concluíram que houve duplo homicídio e que Suzana não matou PC. A Justiça mandou quatro pessoas para o banco dos réus. Judicialmente o caso continua em aberto. Na última terça, aqui neste Observatório, o autor de um livro que abraça a tese de Badan Palhares tentou desqualificar o trabalho jornalístico que provocou uma reviravolta ao provar que Suzana era mais baixa que PC o que tornava impossível a hipótese de que tenha se suicidado. A mim – diz Mário Magalhães – o autor do livro se referiu com deselegância. Citou pelo menos seis informações que não são verdadeiras. Convido os telespectadores a ler no Observatório da internet as informações que contradizem a versão de homicídio seguido de suicídio.’ Assina Mário Magalhães.


O principal assunto desta edição é, como se diz no jargão jornalístico, uma suíte do anterior. Impossível ignorar a benéfica coincidência que juntou a revelação da identidade do Garganta Profunda, a fonte do caso Watergate, com as contínuas denúncias divulgadas pela mídia brasileira sobre o escândalo dos Correios.


Nos EUA o grosso da imprensa considerou Mark Felt, o n° 2 do FBI na época, como um herói. Ele preferiu correr riscos, inclusive de ser eliminado, mas sentiu que era seu dever denunciar a maneira como a Casa Branca abafava as investigações.


Aqui no Brasil, o diretor geral da Abin escreveu um artigo condenando este tipo de rebeldia cívica. Para a Abin só vale a ‘delação premiada’, os denunciantes mercenários que não aparecem na imprensa e nem as suas denúncias.


Nossa imprensa por sua vez continua sendo pautada pelos interesses contrariados. Primeiro foi o ‘Vídeo da Propina’ realizado por empresários corruptores divulgado por Veja. Agora temos a entrevista bomba publicada pela Folha onde o presidente do PTB Roberto Jefferson ligou o ventilador com a história do ‘mensalão’, a mesada que o PT estaria pagando a deputados aliados.


Acontece que na semana anterior, o mesmo Roberto Jefferson na capa de Veja já ameaçava o partido do Governo caso fosse sentado no banco dos réus.


Significa que a imprensa foi usada para veicular uma ameaça e na semana seguinte foi novamente usada para materializar a mesma ameaça. Não houve investigação, houve o que o procurador geral da República chamou de ‘manchetismo’.


Não há dúvida que estas denúncias de Veja e da Folha prestaram um grande serviço à sociedade. O serviço público e o Legislativo nunca mais serão os mesmos depois destas revelações.


Mas este Observatório insiste na sua tese de que para a imprensa é mais sadia a parceria com um Garganta Profunda do que obedecer às gargantinhas suspeitas.


Assista ao compacto desse programa em:
www.tvebrasil.com.br/observatorio/videos.htm